24/05/2023 - 17:50
Depois de quase um semestre de governo, o terceiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) vem sendo de consenso e atrito com setores da esquerda que o ajudaram a vencer a eleição em 2022.
Os atritos acontecem tanto dentro do próprio PT quanto com aliados à esquerda, como PSOL e Rede, que apesar de contarem com ministérios no novo governo, vêm divergindo em pontos importantes.
+Arcabouço: Governo Lula tem mais votos do PL de Bolsonaro do que do PSOL e da Rede de Marina
Aumento do salário mínimo
Um dos principais setores onde o governo precisa mostrar resultado em um curto espaço de tempo é na economia. O governo precisou correr contra o tempo para aprovar a chamada PEC da Transição, onde precisou aumentar R$ 145 bilhões no teto de gastos após o rombo deixado pelo governo Jair Bolsonaro (PL).
O aumento do salário mínimo para R$ 1.320 foi uma decisão onde os setores mais à esquerda do governo, incluindo as centrais sindicais, saíram vencedores.
Reoneração do combustível
Visto como hortodoxo por uma grande parte do PT, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, precisou se explicar ao partido diversas vezes. Uma das polêmicas públicas com a presidenta do PT, Gleisi Hoffmann, foi sobre a reoneração da gasolina, vista com bons olhos pelo mercado, mas que não agradou o partido.
“Não somos contra taxar combustíveis, mas fazer isso agora é penalizar o consumidor, gerar mais inflação e descumprir compromisso de campanha”, afirmou Hoffmann na época. A posição de Haddad acabou se fazendo valer.
Arcabouço fiscal
Um dos projetos mais importantes do governo Lula III é o arcabouço fiscal, que vai substituir o antigo teto de gastos para estipular as regras fiscais que o governo vai precisar cumprir.
O projeto de lei foi aprovado na noite desta terça-feira (23) por 372 votos favoráveis contra 108 contrários. Somente três partidos orientaram a sua base para votar de forma contrária à proposta: PL, Novo e PSOL. Os dois últimos votaram 100% contra as novas regras.
“O Novo Teto de Gastos foi aprovado na Câmara. O PSOL votou contra a austeridade fiscal e os retrocessos para os direitos sociais. Perdemos uma votação, mas a luta por corações e mentes contra a austeridade fiscal e a mercantilização da vida ainda está começando. E vamos vencer”, tuitou o economista e assessor econômico do PSOL na Câmara dos Deputados David Deccache.
Nos bastidores, há um rumor de que a votação unânime contra as novas regras pode atrapalhar o apoio do PT a Guilherme Boulos (PSOL-SP) para a prefeitura de São Paulo em 2024. Em entrevista à Globonews, Gleisi Hoffmann afirmou que o partido segue comprometido com o líder do MTST para a eleição do ano que vem.
Fim da Paridade de Preços de Importação da Petrobras
Demanda antiga dos setores de esquerda e das centrais sindicais, a Petrobras colocou fim à Paridade de Preços de Importação dos combustíveis adotada em 2016.
Acusada de elevar a inflação no país, a política adotava preços praticados internacionalmente para precificar o diesel e a gasolina dentro do país. O fim dessa política, anunciado no dia 16, foi celebrado pela Federação Única dos Petroleiros (FUP) e por políticos de esquerda como Guilherme Boulos e Orlando Silva (PC do B – SP).
Exploração de petróleo na foz do Amazonas
A mais nova encrenca do governo com setores da esquerda é com a exploração de petróleo pela Petrobras na foz do rio Amazonas. O estudo da estatal foi negado pelo Ibama e gerou diversas reações.
Até mesmo dentro da Rede, base de apoio do governo, houve reações diversas. Enquanto a ministra do Meio Ambiente e Mudanças Climáticas Marina Silva defendeu a decisão da autarquia, o senador Randolfe Rodrigues (AP) se posicionou favorável ao projeto. No mesmo dia ele anunciou a desfiliação do partido.
Em seu twitter, o presidente Lula defendeu o projeto afirmando que as pessoas da Amazônia têm o direito de trabalhar e comer. “Por isso, precisamos ter o direito de explorar a diversidade da Amazônia, para gerar empregos limpos, para que a Amazônia e a humanidade possam sobreviver”, disse.