O fato é um só: a inflação no Brasil ficou em 5,84% em 2012, segundo o índice oficial IPCA. Mas esse número pode ser interpretado de várias maneiras. Um analista mal- humorado ou de oposição (ou ambos) dirá que tamanha taxa é uma tragédia diante de uma economia anêmica e de um “pibinho”, inferior a 1%. Argumentará que, se os preços subiram tanto num ano em que a produção ficou estagnada, algo está fora de tom na política econômica do governo Dilma. Dirá que o Banco Central (BC) exagerou na dose ao baixar os juros básicos para 7,25%, permitindo com isso uma inflação acima da meta de 4,5%. 

 

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Um analista mais otimista ou alinhado ao Planalto (ou ambos), por sua vez, defenderá que é melhor ter um pouco mais de inflação e algum crescimento – que nunca é homogêneo nos diversos setores da economia – do que nenhuma inflação e nenhum crescimento, como acontece na Europa. Argumentará que o IPCA ficou abaixo do teto da meta (de 6,5%), ou seja, dentro da regra a ser cumprida pelo BC. Melhor ainda, ficou abaixo dos 6,5% registrados em 2011. Nesse debate, haverá divergências sobre a qualidade das contas públicas, uma das principais causas da inflação descontrolada no Brasil nos anos 1980 e início dos 1990. Na obtenção do superávit primário em 2012, “a Fazenda usou contabilidade criativa”, dirão uns. 

 

“Está tudo dentro das regras fiscais”, retrucarão outros. E o cidadão comum, o que pensa de tudo isso? Para a grande maioria dos brasileiros, a economia vai muito bem. Basta checar a altíssima popularidade de Dilma, maior até que a de Lula. O desemprego de 4,9% é o menor da história e a renda dos trabalhadores continua subindo acima da inflação. O novo salário mínimo, de R$ 678, embute um aumento de 9%, com ganho de renda real. Até o IPCA revela a transformação estrutural pela qual passa o País. O item que mais subiu em 2012 foi o de despesas pessoais, com 10,17%, sendo que as famílias pagaram 12,73% a mais aos empregados domésticos. Estes têm abandonado os lares para trabalhar em empresas. Quem fica, cobra mais caro. A culpa da inflação, quem diria, é do mordomo – e isso é bom.