10/02/2010 - 2:27
Alguma coisa está fora da ordem. No final de janeiro, a Samsung divulgou que seu faturamento global foi de US$ 117,8 bilhões, pouco mais de US$ 3 bilhões à frente da HP, empresa americana fundada pelos lendários Bill Hewlett e David Packard, em uma garagem na Califórnia, nos Estados Unidos.
O resultado cristaliza uma mudança na geografia mundial ao colocar um pequeno país da Ásia, a Coreia do Sul, no centro do desenvolvimento tecnológico mundial e a Samsung como maior empresa de tecnologia do planeta. No passado, a companhia coreana já foi considerada no mercado uma mera copiadora de produtos.
Virada: seus produtos eram considerados cópias dos concorrentes. Hoje, objetos de desejo
Os seus aparelhos eram vistos pelos consumidores apenas como alternativas de baixo custo. Hoje, ela é referência mundial em design. Mas o que explica essa virada que levou a Samsung ao topo do mundo?
A mudança de posicionamento dessa gigante começou na década de 1990. Ao visitar lojas de eletroeletrônicos em Los Angeles, nos EUA, o então presidente da Samsung, Lee Kun-Hee, surpreendeu-se com a imagem negativa que seus produtos transmitiam aos consumidores. Quando voltou à Coreia, escreveu um memorando para os principais executivos.
O texto dizia que a Samsung havia se tornado uma companhia de ?terceira categoria?. E determinou: ?Nossos produtos não podem apenas atender às necessidades dos consumidores, precisamos que eles capturem a imaginação deles?.
Alguns anos e muitos bilhões de dólares investidos em pesquisa e desenvolvimento depois, a Samsung chegou lá. Os produtos da Apple, como o iPod e o iPhone, são grandes referências em design na área de eletrônicos de consumo.
A Samsung, por sua vez, levou esse conceito para sua ampla gama de produtos, que vai de celulares a televisores, passando por notebooks e câmeras digitais. Durante a última década, ganhou mais prêmios da prestigiada Sociedade de Design Industrial da América (IDSA, na sigla em inglês) do que qualquer outra companhia no planeta, inclusive a Apple.
Em um ranking elaborado pela Harvard Business Review, com os 100 CEOs que trouxeram os melhores resultados financeiros para suas empresas na última década, Yun Jong-Yong, que esteve à frente da Samsung Electronics entre 1996 e 2008, ficou em segundo lugar, logo atrás de ninguém menos que Steve Jobs.
Paralelamente ao investimento em desenvolvimento e pesquisa, a Samsung se tornou uma das maiores patrocinadoras no segmento de eletrônicos de consumo, com foco na área esportiva.
?Isso cria uma relação forte e duradoura com os consumidores?, disse à DINHEIRO Willy Shin, professor da escola de negócios de Harvard. Sua marca está na camisa do Chelsea, time de futebol da liga inglesa, desde 2005, e do Palmeiras, desde o ano passado.
A empresa participa ainda de grandes eventos internacionais, como as Olimpíadas. Uma outra jogada que contribuiu para o fortalecimento da sua marca nos últimos anos, e que encontra semelhanças com a Apple, foi a abertura das lojas Samsung Experience.
Nelas, os consumidores podem experimentar toda a linha de produtos da empresa. A primeira delas foi aberta em 2004, em Nova York, apenas três anos depois de Steve Jobs inaugurar na mesma cidade a sua primeira e muito bem-sucedida Apple Store.
?É bom as empresas norte-americanas acordarem?, alerta João Antônio Zuffo, professor da Escola Politécnica da USP. Para ele, a empresa coreana é uma das mais inovadoras do mundo.
No início deste ano, durante a CES, maior feira de eletroeletrônicos do mundo, ela apresentou novidades, como um notebook com tela Oled transparente. Será também uma das primeiras a colocar no mercado tevês com recursos 3D.
Ainda assim, muitos analistas criticam a postura pouco agressiva da Samsung em desenvolver novos mercados e aparelhos revolucionários, como o toca-fitas portátil Walkman e o console de videogames PlayStation, da sua concorrente asiática Sony, ou o videogame Wii, da também nipônica Nintendo. A própria empresa concorda.
?Precisamos superar nosso medo de ser a primeira a ter uma ideia nova?, disse James Chung, porta-voz da companhia, ao jornal britânico Financial Times.A Samsung não é mais uma empresa de terceira categoria, mas vai precisar inovar ainda mais para permanecer no topo do mundo.