Para despertar, corrida. No café da manhã, natação. Depois, tênis, musculação e alongamento. Entre uma atividade e outra, as primeiras das 120 pílulas que ele ingere todos os dias. Um superatleta treinando para uma daquelas provas de resistência que levam os participantes ao total esgotamento físico e psicológico? Nada disso. Albino Bacchi é um empresário com medo de morrer antes de realizar seu grande feito: transformar a sua rede de lojas de móveis Artefacto na maior grife internacional da alta decoração ? um setor que, só no Brasil, movimenta R$ 2,4 bilhões. ?Estou com 60 anos. Preciso de energia para trabalhar. Caso contrário não terei tempo suficiente?, diz ele. O projeto até que está bem adiantado. De 2002 para cá, Bacchi inaugurou quatro lojas fora do País: Miami, Cidade do México, Santo Domingo (República Dominicana) e Palm Beach (Florida). Mesmo assim, ele tem pressa. Este ano a Artefacto chegará ao Porto, e em 2005, a Dubai, Madri, Johannesburgo e Naples (Flórida). Cada investida internacional custa US$ 1,5 milhão. ?Há 20 anos eu estava satisfeito com uma única lojinha de móveis de junco na Teodoro Sampaio?, diz Bacchi, citando a tradicional rua paulistana de venda de mobiliário. ?Mas foram me atiçar. Agora eu não quero parar.?

BACCHI, FUNDADOR 120 pílulas por dia para manter o ritmo da internacionalização
A Artefacto surgiu em 1976, depois de algumas incursões de Bacchi por diversos setores. Filho de bancários nascido em Cambará (PR), ele foi contínuo, dono de supermercado, vendedor de carro usado. Um dia se apaixonou por umas peças de mobiliário colonial e entrou de sócio numa marcenaria. ?Era um barraco de 1.000 m2, mas tirei meu sustento dali durante 10 anos?, relembra. Folheando revistas européias de decoração, percebeu que não havia mais anúncios de cadeiras Luís XV. A onda eram as fibras naturais. ?Vendi a marcenaria e abri a Artefacto, então especializada nesse tipo de mobiliário?, conta. Tudo ia bem, a lucrativi-
dade era alta, até que os 15 funcionários resolveram pedir aumento. ?Só se eu abrisse outra loja. Querer eu não queria, mas não podia deixá-los na mão. Então inaugurei nossa primeira filial, no Rio de Janeiro.? Hoje, são
14 pontos, cada um com 2 mil m2, em média. Os móveis agora seguem a linha contemporânea-chique e são vendidos para famílias com renda mensal acima de R$ 20 mil. Para quem não atingiu esse patamar, Bacchi abriu a rede Esfera. ?Na Esfera eu sacrifico as
minhas margens com o objetivo de fazer os clientes terem contato com o negócio, e um dia, quando puderem, passarem a comprar
na Artefacto?, explica o empresário.

Referência nacional no segmento de móveis de alto padrão, o grupo fatura, segundo estimativas do mercado, algo entre R$ 15 milhões e R$ 20 milhões anuais. ?O trunfo deles é o marketing de relacionamento feito com os decoradores?, analisa Ricardo Botelho, consultor da área. ?O Bacchi percebeu rápido que agradar o profissional que faz o cliente final gastar na loja dele é um grande negócio.? Esse ?agrado? se traduz na Mostra Artefacto, onde os decoradores (responsáveis por 60% da receita da empresa) mostram seu talento preparando ambientes usando exclusivamente móveis da marca.

Bacchi não faz a mínima idéia de quando vai concluir seu projeto de internacionalização. Mas sabe o que vai fazer depois ? ?se der tempo?, como ele diz. ?Eu seria um bom escritor?, diz, sem cerimônia. Já tem pronto um livro sobre contabilidade para leigos. Pensou noutro sobre grandes líderes que foram à lona por serem arrogantes, num musical intitulado ?Vaidade? e num romance ?poético-erótico? de nome impublicável.

OS NÚMEROS DA ARTEFACTO
? Da fábrica de 40 mil m2 saem 300 novos modelos por ano
O grupo tem quatro lojas no exterior e deve inaugurar
mais quatro até 2005. O investimento em cada uma é de…
US$ 1,5 MILHÃO
? A empresa tem 1.000 funcionários. E suas
14 lojas vendem 150 mil itens por ano
? O produto mais caro da marca é um sofá em couro de R$ 13 mil