Seria impossível imaginar que algum dia uma companhia nacional de cosméticos desembarcaria na meca das fragrâncias e dos perfumes. Mais. Escolheria a requintada Paris como cidade-piloto de um audacioso projeto de internacionalização. Pois foi exatamente isso que fez a brasileira Natura. A gigante dos cosméticos abriu no mês passado a ?Casa Natura? no elegante bairro de Saint-Germain des Prés. Anda tão animada com sua primeira ?maison? que já planeja novos vôos externos. De saída, reservou 16 milhões de euros para viabilizar a aventura francesa nos próximos três anos.

Sabe que está diante de um mercado que movimenta acima de US$ 1 bilhão só no sistema de vendas porta-a-porta. A única dúvida recai sobre o destino dos investimentos. Não está claro para o grupo se o dinheiro será utilizado para abrir mais lojas ou para implantar o porta-a-porta em Paris. ?Provavelmente, adotaremos as duas coisas?, conta o diretor-presidente, Alessandro Carlucci, que há 16 anos trabalha na corporação. Além da França, ele pretende conquistar toda a Europa e, no meio do caminho, reforçar suas posições na América Latina. ?Não inauguramos um espaço no mercado internacional para comercializar produtos para brasileiros no exterior. Vamos vender ao mundo o nosso conceito. É mais que negociar simplesmente xampus ou colônias?, afirma Carlucci.

Com presença na Argentina (o primeiro destino fora do Brasil), Chile, Peru e Bolívia, a companhia já mira seu exército de 433 mil consultoras em direção ao México, Colômbia e Venezuela. ?Vamos entrar no México ainda este ano?, conta Carlucci. Depois, surgem a Europa Oriental e algumas outras nações latinas, como Uruguai e Paraguai. Com exceção do ocidente europeu, no resto, não há dúvida: o modelo de venda será o porta-a-porta. ?Com a ampliação na América Latina, já será possível dobrar a participação da área internacional no faturamento em três anos?, estima o executivo. Hoje, essa divisão representa parcos 3% de suas vendas de R$ 2,5 bilhões. O que se espera, contudo, é que ela alcance pelo menos 30% em 15 anos. No mercado interno, a Natura vai bem, obrigado. Está posicionada entre as duas maiores representantes de um setor que movimentou R$ 8,6 bilhões em 2004 ? alta de quase 20% em relação ao ano anterior.

A verdade é que a Natura vive um dos momentos mais felizes de sua história. As ações ordinárias, aquelas com direito a voto, dobraram de valor desde a estréia na bolsa de valores. E isso foi há um ano (25 de maio de 2004). A chegada à França, portanto, e os planos internacionais só reforçam a atual performance da companhia. Carlucci, o primeiro executivo a assumir a presidência após a saída dos três acionistas (Luiz Seabra, Guilherme Leal e Pedro Passos) para o conselho de administração, não esconde a euforia. No comando desde fevereiro deste ano, ele é o retrato de que santo de casa pode fazer milagre. Coube a Carlucci implementar no fim dos anos 90 a chegada da Natura ao seu primeiro mercado fora do País, a Argentina. Formado em administração de empresas pela FGV, ele chegou ao comando por dois motivos: o sucesso da operação no país vizinho e a semelhança com os acionistas no estilo de administrar. ?Eles me disseram que eu tenho jeito deles e isso é fundamental para perpetuação do negócio, que é a principal meta dos controladores?, conta Carlucci.

Pois o pupilo dos acionistas agora se prepara para desenhar um novo sistema produtivo da Natura. As idéias são as mais variadas. Mas uma coisa é certa. Dificilmente, a companhia construirá uma outra fábrica colossal em Cajamar (SP), onde tem uma unidade desde 2001. Neste ano, ela aplica R$ 120 milhões para completar a duplicação da capacidade fabril por lá. Depois, começa a debater se abre uma unidade de produção em outra cidade brasileira ou até mesmo fora do País. É coisa para cinco anos. ?O que nos guia é o menor custo produtivo?, afirma. E, claro, os rumos da globalização.