30/11/2005 - 8:00
Todo ano o consumidor brasileiro elege um objeto de desejo para o Natal. Assim como já houve o Natal dos DVDs e o Natal das máquinas fotográficas digitais, neste ano a cobiça pode até estar voltada para as caras TVs de tela plana, mas o grande campeão de vendas será mesmo o computador popular. Uma feliz combinação de redução de impostos, câmbio favorável e maior oferta de crédito fez com que as encomendas do produto dessem um salto além do esperado. Este ano serão vendidos 5,2 milhões
de PCs no Brasil, 30% a mais que no ano passado. Segundo o IDC, consultoria que acompanha os números da área, no terceiro trimestre deste ano as vendas de PCs aumentaram 78,5%, em volume, em relação ao mesmo período de 2004. O efeito é sentido em todas as pontas da cadeia produtiva. Apenas nas redes Extra e Extra Eletro, maiores revendedoras de produtos de informática do País, as vendas de
PCs estão 70% maiores do que em 2004. Nas primeiras semanas de novembro, os pedidos do varejo à Positivo Informática, líder no mercado de computadores de mesa, aumentaram 30% em relação a outubro. ?Todos os anos há uma vedete
no Natal. Em 2005, ela será o computador?, afirma João Marcelo Alves, diretor de marketing da Positivo Informática. A empresa deverá fechar o ano com vendas
de R$ 374 milhões, 40% acima de 2004. Desse crescimento, 80% serão
provenientes dos computadores populares.
Mais do que qualquer política pública de inclusão digital, o desempenho da indústria se deve à movimentação das próprias empresas. Ao perceber que havia demanda potencial reprimida, os fabricantes uniram-se para pedir ao governo a redução de impostos. Ao mesmo tempo, passaram a desenvolver produtos voltados para o nicho popular, com configurações e preços menores. A Microsoft, por exemplo, lançou o Windows Starter Edition, versão mais simples e barata de seu sistema operacional, desenhada sob medida para computadores populares. Das 200 mil cópias vendidas em todo o mundo desde seu lançamento, há sete meses, 80% saíram no Brasil. A empresa testa agora, em parceria com o Magazine Luiza, a venda de softwares pré-pagos: em vez de o consumidor pagar R$ 1,5 mil por um PC, ele financia R$ 600 e o restante vai pagando conforme usa o sistema, através de cartões pré-pagos. A fabricante de processadores AMD também está testando as vendas de seu PIC, o PC popular, numa parceria com a Telefônica. Com monitor e teclado, o PIC sairá por
R$ 850 e pode ser comprado em 36 parcelas de R$ 40. ?É a conhecida estratégia de fazer a prestação caber no bolso do consumidor?, afirma José Antonio Scodiero, vice-presidente da AMD para a América Latina.
Com os produtos formatados de forma adequada ? e uma redução de preços de quase 30% provocada pelo corte no PIS e Cofins e pela desvalorização cambial ?, o varejo percebeu que o jogo iria começar para valer. Bancou a aposta com crédito, boa distribuição e atendimento especializado ? e virou o placar. ?Informática, com margem estreita, preços altos e tecnologia perecível sempre foi o pesadelo do varejo?, afirma Alberto Serrentino, sócio-diretor da consultoria especializada em varejo Gouvêa de Souza & MD. Só agora, diz ele, depois que os preços caíram e que a classe C entrou no jogo, transformando os computadores em produto de massa, vendido em larga escala, o negócio se tornou atraentes para as grandes redes. ?2005 foi um ano de mudança estrutural?, acrescenta Serrentino. Esse movimento significa a digitalização da classe C, que não usa nem conhece o computador, mas sabe que o equipamento é importante para seus filhos. ?É um investimento pesado para esse tipo de consumidor. Equivale a uma geladeira?, diz Serrentino. ?Mas ele gasta, pensando no futuro da família?. O consumidor também acredita que entrará em outro patamar de aquisição, depois do primeiro computador. ?Eles vêm às lojas de olho em máquinas digitais, mas sabem que o computador é o primeiro passo para outros acessórios?, diz Rita Bellizia, gerente de informática do Grupo Pão de Açúcar. O
passo final nesse movimento, a participação do governo com o programa PC Conectado, deverá acontecer às vésperas do Natal. Com a promulgação da MP do Bem, na semana passada, fabricantes e varejo estavam ansiosos para lançar o produto. O preço do PC não será muito inferior aos já disponíveis, mas os juros do crediário, de 2% ao mês, serão um atrativo a mais. Papai Noel vai ganhar ajuda na compra de computadores.