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O ÚLTIMO SUSPIRO: desde 2007, as 127 unidades da Blockbuster no Brasil foram reduzidas a praticamente uma prateleira em meio aos produtos das Lojas Americanas

AO ABRIR SUA PRIMEIRA UNIdade em 1985, a Blockbuster revolucionou o modelo de negócios das videolocadoras. Lojas enormes, estacionamento, guloseimas, funcionários uniformizados e a possibilidade de devolução de filmes em qualquer horário por uma caixinha do lado de fora da locadora. Alugar filmes em uma das lojas da rede proporcionava ao cliente um certo status que as locadoras de bairro não possuíam – mesmo cobrando mais por isso. Em poucos meses a rede alcançou o topo do mercado. Porém, quase 20 anos depois, a Blockbuster enfrenta o pior momento de sua história e luta pela sobrevivência. A principal rede de videolocadoras do mundo contratou o escritório de advocacia Kirkland & Ellis para avaliar um possível pedido de concordata. Na semana passada as ações da Blockbuster registraram queda de 86%. A situação claudicante do maior ícone da locação de filmes mostra que o segmento sofreu um forte abalo com o surgimento de novas mídias. Os problemas da Blockbuster podem não significar o fim imediato das videolocadoras – mesmo porque o surgimento do Bluray garante uma sobrevida aos disquinhos. Mas é evidente que os meios digitais (como download de filmes pela internet e o aluguel nas tevês pagas) têm ocupado cada vez mais espaço na preferência do consumidor.

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Lá fora, a Blockbuster chegou a sinalizar uma mudança de estratégia rumo ao mundo digital. Lançou um serviço de download pago, mas não conseguiu bater a loja virtual Netflix, que conquistou mais de sete milhões de usuários com a entrega de filmes em domicílio. “Isso pode indicar que a situação da Blockbuster se deve mais a um problema de administração do que à crise no segmento de locação de vídeos”, afirma Tânia Lima, diretora-executiva da União Brasileira de Vídeo. Tânia acredita que as videolocadoras sempre encontrarão espaço no mercado. Cerca de oito mil delas seguem em funcionamento no Brasil – em 2006 eram 12 mil. A própria Blockbuster não descartou a possibilidade de reinventar seu modelo de negócios. A rede, com mais de 7,5 mil pontos no mundo, pretende oferecer um catálogo com mais de 90 mil filmes para entrega em casa. Além disso cogita alugar filmes para celular e tevês conectadas à internet. A medida visaria reverter a forte queda de receitas das suas lojas.

A venda de DVDs nos EUA caiu 5,5% em 2008, o que representa uma perda de US$ 1,3 bilhão, se comparada a 2007

No Brasil o caminho percorrido pela Blockbuster foi diferente, mas as consequências, semelhantes. No início de 2007, a rede foi comprada pelas Lojas Americanas por R$ 186,2 milhões. As 127 unidades foram incorporadas à bandeira Americanas Express, que reduziu o arsenal de filmes a praticamente uma prateleira em meio à vasta oferta de artigos de consumo e de uso doméstico da rede. “O que a Blockbuster ofereceu a Americanas foram pontos-de-venda estratégicos e uma nova linha de produtos. Isso não quer dizer que seu bom desempenho dependa da marca Blockbuster”, afirma o analista Alan Cardoso, da corretora Ágora. Assim como a Americanas Express, a tendência é de que o modelo das videolocadoras se aproxime cada vez mais das lojas de conveniência para aumentar sua receita. A longo prazo, no entanto, não seria impossível dizer que o destino das locadoras de vídeo seguirá os passos dos antigos discos de vinil, que sobrevivem graças à paixão de alguns saudosistas e colecionadores.