18/03/2021 - 19:57
O produtor rural, professor e coordenador do centro de agronegócios da Fundação Getúlio Vargas, Roberto Rodrigues, foi o entrevistado da live da IstoÉ Dinheiro, nesta quinta-feira (18). Ex-ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento no governo Lula, ele, na conversa com a revista, fez uma análise sobre as questões de abastecimento interno e do mercado externo, traçou cenários do comércio agrícola mundial e avaliou os riscos e oportunidades dos negócios do agro no pós crise sanitária do Covid. “Os preços dos produtos agrícolas subiram muito com a pandemia. Faturamento muito bom, excepcional. Este ano seguimos na mesma direção.”
Comemorações à parte, Rodrigues, apesar de festejar o ambiente de bons negócios, alerta que o comércio internacional de produtos agrícolas pode ser afetado, e muito, pelo aumento do nacionalismo e protecionismo após a pandemia do coronavírus. “Estamos com uma curva de preços totalmente fora das regras convencionais”, adverte. Para o ex-ministro, o boom do agro levou conforto para os consumidores e desconforto para os concorrentes internacionais, que não vão deixar barato a expansão do agronegócio brasileiro. “O neoprotecionismo agrícola vai mexer com o comércio global de alimentos. O xadrez dos negócios agrícolas terão uma mexida muito forte”, afirma.
Durante a conversa, com os olhos atentos para a geopolítica internacional, Rodrigues avalia que a postura do Brasil é tratar com expertise os mais diversos atores mundiais. Para ele, num primeiro momento, a “guerra” comercial entre os EUA e China está sendo favorável para o Brasil, mas é importante o país observar atentamente a movimentação comercial de outros players no mercado asiático. “Temos que fazer acordos bilaterais com países grandes”, diz. “Ninguém no mundo, à exceção do Brasil, pode crescer tanto – e tem espaço – na produção agrícola”. avalia.
Um dos principais precursores do cooperativismo no mundo, Roberto Rodrigues, que é embaixador especial da Organização das Nações Unidas para questões alimentares (FAO), falou sobre crédito de carbono, agricultura sustentável, seguro agrícola, ESG e outras pautas ligadas à sustentabilidade e ao crédito agrícola – “Crédito rural, como é hoje no Brasil, tende a diminuir até desaparecer”. Ele deixou muito evidente, na entrevista, que o Brasil deve reconhecer os problemas ambientais, como desmatamento, queimadas e grilagem de terra, e deve combater firmemente as irregularidades. “A ilegalidade cresceu e isso serviu de argumentos para nossos concorrentes. O desmatamento da Amazônia não é problema do Biden (EUA) ou do Macron (França), mas nosso.”