14/10/2025 - 15:17
Por trás de todo avanço econômico há sempre uma fagulha de inovação e não uma canetada de governo. O Prêmio Nobel de Economia de 2025 reconheceu justamente isso. Ao premiar Joel Mokyr, Philippe Aghion e Peter Howitt, a Academia Real das Ciências da Suécia destacou um trio que conseguiu unir história, teoria e matemática para explicar o que os empreendedores há muito tempo sentem na pele: o crescimento nasce da “destruição criativa”, um processo em que o novo se impõe sobre o velho, impulsionando o progresso humano.
A expressão “destruição criativa” foi cunhada por Joseph Schumpeter no século XX, mas Aghion e Howitt foram os responsáveis por transformá-la em um modelo econômico robusto, capaz de ser medido, previsto e aplicado em políticas públicas. Na prática, a teoria mostra que economias crescem quando novas empresas e tecnologias surgem para desafiar as antigas. É a lógica que explica desde a revolução industrial até a revolução digital: a máquina a vapor destruiu o cavalo como força motriz, o carro substituiu as charretes, o smartphone aposentou câmeras fotográficas e gravadores, e a inteligência artificial, hoje, começa a redesenhar o próprio conceito de trabalho.
O raciocínio é simples, mas poderoso: sem o espaço para o novo, a economia para. E a chave para que o novo floresça está na combinação entre liberdade para inovar e tolerância ao erro. Philippe Aghion e Peter Howitt demonstraram matematicamente que, sem políticas que incentivem a pesquisa, a competição e o empreendedorismo, a inovação trava e o crescimento cessa. Por isso, ambientes em que o fracasso é punido, ou em que a burocracia sufoca o risco, tornam-se inférteis para o progresso.
Enquanto a dupla traduziu a “destruição criativa” em equações, Joel Mokyr ofereceu à teoria o olhar da história. Ele mostrou que as grandes transformações tecnológicas da humanidade da imprensa de Gutenberg à revolução digital só aconteceram porque houve um ecossistema cultural e institucional que valorizava o conhecimento. Mokyr chama isso de “república das letras”: uma rede de cientistas, inventores e pensadores dispostos a compartilhar ideias, em vez de escondê-las. Quando a sociedade abre espaço para o debate, para a experimentação e para a curiosidade, a inovação se torna inevitável.
Essa visão histórica derruba um mito perigoso ainda presente em muitos países: o de que o crescimento econômico pode ser decretado por medidas provisórias ou por planos de governo. O verdadeiro motor do desenvolvimento é científico e cultural. É ele que cria o ambiente para que engenheiros, pesquisadores, empreendedores e artistas façam o novo surgir. Quando esse ambiente é sufocado por autoritarismo, por medo de errar ou por dependência de subsídios mal direcionados, a estagnação é apenas uma questão de tempo.
Para o Brasil, as lições são diretas. Não basta importar tecnologia ou investir em infraestrutura. É preciso criar condições institucionais que favoreçam a inovação contínua. Isso significa fortalecer universidades, garantir liberdade acadêmica, incentivar a pesquisa aplicada, simplificar a abertura de empresas e reduzir as barreiras que impedem o pequeno empreendedor de competir. Em outras palavras, é necessário permitir que o novo desafie o velho.
Um exemplo prático é o setor de energia: se o país protege modelos ultrapassados e burocratiza o investimento em fontes renováveis, perde a oportunidade de liderar a transição energética global. O mesmo vale para o setor de tecnologia. Se startups de inteligência artificial ou biotecnologia são sufocadas por regulações que favorecem gigantes, o ciclo de destruição criativa é interrompido e a inovação, engessada.
Mas quando o ecossistema é livre, o resultado é visível. Foi assim com o Vale do Silício, que nasceu da mistura de universidades abertas, capital de risco e uma cultura que celebrava o fracasso como aprendizado. E foi assim também em períodos históricos como o Iluminismo europeu, que Mokyr tanto estudou, quando a combinação entre curiosidade científica e liberdade intelectual gerou uma explosão de invenções, desde o telescópio até o motor a vapor.
O Nobel de 2025 reforça, portanto, um recado de valor universal: o progresso não nasce de decretos, nasce de ideias. E ideias só florescem em terrenos onde se pode experimentar, errar e tentar novamente. A sociedade que entender isso estará sempre à frente seja criando a próxima revolução tecnológica, seja garantindo que a ciência continue sendo o maior investimento de longo prazo da humanidade.
Como lembrou um dos laureados, Joel Mokyr, “a inovação é o verdadeiro milagre econômico”. E, em tempos em que muitos acreditam que o futuro pode ser escrito em uma planilha de orçamento, é bom lembrar: sem espaço para ideias novas, o atraso é apenas uma questão de tempo.