Há seis anos, o empresário paulistano José Eduardo Sanches fez um dos grandes negócios do varejo nacional. Vendeu a sua Madeirense (então maior rede de lojas de materiais de construção do País) ao banqueiro Aloysio Faria, que daí criou a gigante C&C. De bolso cheio (no mercado fala-se que a transação saiu por R$ 300 milhões), Sanches passou dois anos procurando novos investimentos. Achou. E agora preenche seus finais de semana com um programa chato à beça. Ele o chama de ?estágio de noivo?. É assim: todo santo sábado-e-domingo Saches visita igrejas, empresas de aluguel de carros e de roupas, de flores, lojas de presentes e de eletrodomésticos e até fabricantes de docinhos. ?É um inferno, um in-fer-no?, é como o empresário, que já é casado, define a via crucis pré-nupcial. Por que tanto sofrimento, então? ?Quero descobrir um jeito de facilitar a vida dos noivos?, ele diz. Sanches é o novo dono da tradicionalíssima Cleusa Presentes, de São Paulo, aonde acorrem as noivas ricas da cidade para fazer o enxoval. Ele a comprou (por valor não revelado) em 2002, e desde então tenta aprender tudo sobre casamentos (o ritual, pelo menos) para ?transformar a loja em empresa?, como gosta de dizer.

Empresários do setor usam o IBGE para fazer seus cálculos sobre o mercado de casamentos no Brasil. Todos os anos acontecem 700 mil enlaces no País. Se cada um deles custar, em média, R$ 5 mil, a indústria da troca de alianças movimenta R$ 3,5 bilhões. É por isso que Sanches deve anunciar em breve uma nova aquisição. Ele não revela o nome do santo, mas dá uma idéia do milagre: quer centralizar em um só lugar tudo o que os noivos precisam (em termos materiais) para se casar. ?Além do que já vendo na Cleusa (baixelas, faqueiros, etc.), quero comercializar eletrodomésticos (TV, som, torradeira) top de linha e oferecer serviços.? O plano é convidar agências de viagem (lua-de-mel), locadoras de carros (limusine da noiva), decoradores de igreja e outros fornecedores a instalar corners no novo espaço. ?Não vou cobrar nada deles. O objetivo é transformar a Cleusa em referência. Para atrair clientes de outros estados penso até em reembolsar a passagem aérea se a lista de presentes ultrapassar R$ 30 mil, por exemplo.?

Desde que assumiu a Cleusa, Sanches investiu R$ 10 milhões ? na reforma das três lojas existentes, na abertura de uma quarta, em marketing e informatização. Gastou R$ 500 mil para anunciar na TV Globo e firmou parceria com o Hotel Fasano para dar noite de núpcias de presente aos clientes. ?A Cleusa sempre teve prestígio, mas faltava esse arrojo?, diz um fornecedor. ?Tanto que ela sofreu as conseqüências da falta de investimento e se tornou um negócio inviável no final dos anos 90.? Outro fornecedor lembra que o estoque era contado à mão por uma funcionária de caderno e lápis em punho. De fato, trata-se de um setor provinciano, muito ligado à figura dos proprietários da lojas ? eles sempre estão lá para atender pessoalmente a seleta freguesia. Sanches quer ir por outro caminho. Nem que precise empanturrar-se de bem-casados aos finais de semana.

R$ 3,5 bilhões movimenta a indústria do casamento no Brasil

NA CLEUSA

12 mil itens estão à venda em cada loja

2 mil listas de presentes são feitas por ano

R$ 36 mil custa um jogo de 30 copos checos da marca Moser