19/03/2008 - 7:00
O CROCODILO MAIS FAMOSO do mundo está prestes a dar o bote. Pelo menos, nos consumidores brasileiros. Aos 75 anos de vida, a Lacoste, grife francesa de roupas com 996 lojas espalhadas em 110 países e faturamento de 1,5 bilhão de euros, prepara um ambicioso plano de reposicionamento no Brasil. Em abril, pela primeira vez em quase três décadas de história no País, a companhia fará um desfile de moda com a coleção primavera/ verão apresentada em Nova York e em Tóquio. Em seguida, abrirá uma loja-conceito na rua Oscar Freire, no bairro paulistano dos Jardins, outro ponto na Daslu e, por último, no tão aguardado Shopping Cidade Jardim. ?A Lacoste posiciona o Brasil como mercado-chave para dar continuidade ao seu crescimento global?, diz Ricardo Palmari, diretor-geral da Devanlay Ventures do Brasil, subsidiária do grupo Devanlay, empresa que possui 35% da Lacoste. Desde o fim do ano passado, a marca do crocodilo deixou de ser administrada pela Paramount Têxtil, que foi a licenciada durante os últimos 27 anos, fabricava 80 mil peças por mês e faturava R$ 40 milhões com a grife. ?O contrato acabou e eles não quiseram renovar?, explica Fuad Mattar, dono da Paramount Têxtil.
Agora, a Lacoste não tem mais intermediários, os produtos serão importados e as 51 lojas da marca no Brasil serão reformuladas. ?Nossa idéia é que, em breve, todos os pontos no Brasil estejam alinhados aos padrões internacionais adotados pela marca?, diz Palmari. Ou seja, as lojas passarão por reformas que vão desde a comunicação visual até o portfólio de produtos, com a venda de sapatos, óculos e relógios. O objetivo é mostrar que a marca vai além da camisa pólo, a peça mais conhecida da grife. Afinal, por mais que a Lacoste tenha realizado desfiles ao redor do mundo e rejuvenescido os produtos, ela ainda tem uma imagem envelhecida. ?Nos últimos tempos, as empresas perceberam que a marca é seu patrimônio mais valioso?, diz Palmari. ?Para manter o seu valor é preciso acompanhar mais de perto todas as operações.?
A Lacoste, é verdade, tem feito esse mesmo movimento em outros países. Mas a atenção voltada ao mercado brasileiro também é explicada pelo crescimento da economia. Dados da MCF Consultoria & Conhecimento, especializada em gestão de empresas de luxo, mostram que o mercado classe A movimentou US$ 3,9 bilhões e, em 2008, deverá crescer 20%. ?O Brasil está amadurecendo e as marcas internacionais estão de olho nisso?, diz Carlos Ferreirinha, diretor da MCF. Ficar atenta a qualquer movimento faz parte do DNA da grife francesa.
Fundada em 1933 pelo tenista francês René Lacoste (1904- 1996), a grife nasceu da vontade do jogador de usar roupas mais confortáveis nas quadras e de um apelido dado por um jornalista americano da agência de notícias Associated Press (AP). Em 1927, quando disputava a Taça Davis de tênis contra os EUA, o técnico da equipe francesa disse para René Lacoste que, se ele vencesse o adversário americano, lhe daria uma mala de couro de crocodilo. Lacoste não venceu, mas o jornalista da AP, que sabia da história, escreveu que ele jogou com a concentração de um crocodilo para dar o bote. Lacoste ganhou o apelido ?Le Crocodile?, uma marca registrada, que se espalhou pelo mundo e, até hoje, se concentra para atacar.
RENOVAÇÃO: as 51 lojas da grife no País serão reformadas e novos produtos serão vendidos