O banco espanhol BBV resolveu mudar de rumo no Brasil. Quando chegou ao País, há quatro anos, seus planos eram ambiciosos. Abriu 200 agências em dois anos e dobrou o tamanho da rede herdada do Econômico e do Excel. Investiu mais de US$ 1,7 bilhão e estudou a compra de um grande banco, como o Banespa. Seu projeto era repetir no Brasil o feito que alcançou em outros países latino-americanos: em quase todas as 16 praças onde atua, o BBV chegou por cima ou alcançou o topo rapidamente. No Brasil, foi diferente. O banco cresceu, mas não ultrapassou a décima colocação no ranking e seus resultados ainda são magros. Agora, os espanhóis trocaram a palavra de ordem: em vez de crescer, a prioridade é ganhar dinheiro. ?Vamos rentabilizar as agências que temos antes de abrir novos pontos de atendimento?, diz José Carlos López, diretor-financeiro do banco no Brasil.

 

Os planos de abrir outras 200 agências foram adiados e não se fala em aquisições nos próximos dois anos. Concentrado na atual rede de 431 agências, o banco vai se especializar mais. Não perseguirá uma clientela ampla e nem baterá de frente com o Bradesco ou o Itaú. Seu projeto é concentrar esforços num público de classe média, com renda mensal entre R$ 1.800 e R$ 4.000 ? sem esquecer quem ganha mais do que isso. Os espanhóis dizem que podem dar a esses clientes de classe média um tratamento melhor do que recebem na concorrência. ?Os bancos oferecem serviços diferenciados para quem tem renda alta?, diz Marcelo Noronha, vice-presidente do BBV. ?Vamos buscar um mercado pouco explorado.?

 

Uma outra mudança de peso será a importância dada às empresas. Em 159 agências, haverá prioridade ao atendimento de pequenas e médias companhias ? com faturamento anual entre R$ 120 mil e R$ 10 milhões por ano, além de privilegiar os clientes de classe média e alta. Em outras 47 agências, os alvos serão empresas de tamanho médio, que faturam entre R$ 10 milhões e R$ 200 milhões. Gerentes foram treinados para atender os empresários e vão ter mais tempo para cuidar de suas contas. Numa agência comum, cada gerente atende 160 contas, em média. Já no novo serviço, cuidará de 100 clientes. Com a especialização, o banco terá três tipos de agência: as de varejo; aquelas voltadas para pequenas empresas e clientes de renda média e alta; e as dedicadas a companhias de porte médio. ?Vamos nos concentrar no atendimento diferenciado e em crédito para empresas.?, diz Noronha.

 

O presidente do banco, o espanhol José Vicente Esparza, aposta nisso para transformar os investimentos feitos nas agências em lucros. Hoje, os resultados do BBV estão abaixo da média do sistema financeiro nacional. Nos seis primeiros meses do ano, o banco lucrou R$ 56 milhões, uma rentabilidade de 4% em relação ao patrimônio líquido, bem menor do que os 14% da média dos bancos. O BBV diz que esses resultados estavam dentro do esperado. ?Ninguém dobra o número de agências e começa a dar lucro da noite para o dia?, diz o diretor-financeiro do BBV. Para provar seu ponto, López diz que os lucros cresceram 180% no primeiro semestre de 2002 em relação ao mesmo período de 2001. ?Leva tempo para a agência conquistar a clientela.?

Segundo os analistas financeiros, a mudança do BBV é
bem-vinda. ?O BBV enfrentou dificuldades para enfrentar concorrentes no varejo, como o Itaú e o Bradesco?, diz
Rafael Guedes, da agência de classificação de risco Fitch. ?Não
vai ser fácil tirar clientes da concorrência, mas o BBV está apostando em bons nichos de mercado.? Para Alan Marinovic, da ABM Consulting, os resultados de 2002 indicam o novo caminho. Nos seis primeiros meses de 2001, apenas 31% da receita do banco veio de operações de crédito. Em 2002, a participação saltou para 40%. ?O BBV está virando um banco de crédito?, resume Marinovic. ?É a aposta que fez para dar dinheiro no País.?