24/01/2014 - 6:30
O primeiro contato do executivo mineiro Ronaldo Iabrudi com a cultura francesa aconteceu quando fez mestrado e doutorado em Paris, na Sorbonne e na Université Paris Dauphine, no começo dos anos 1980. Apesar da facilidade de adaptação à língua e ao modo de vida local, o então e studante de psicologia, que só pensava em montar um consultório próprio ao voltar para casa, não almejava ocupar um dia o posto de principal executivo de uma das maiores empresas francesas atuantes no País.
Homem de confiança: em poucos meses no grupo Casino,
Iabrudi ganhou a confiança dos franceses
Três décadas depois, em julho do ano passado, após ter mudado de planos e investido no mundo dos negócios, Iabrudi assumiu a posição de diretor-geral do grupo Casino no Brasil, controlador, desde junho de 2012, do Grupo Pão de Açúcar (GPA). Agora, o executivo, com passagens por companhias como Telemar e Magnesita, reforça a sua posição de homem forte do chefão do Casino, Jean-Charles Naouri, à frente da operação brasileira ao ser alçado à presidência do GPA, no lugar do CEO Enéas Pestana, mudança concretizada na segunda-feira 20.
A escolha de Iabrudi ? que tem como hobby criar cavalos em sua fazenda em Minas Gerais ? para a função indica o interesse dos novos donos em trazer de volta ao comando da maior varejista do Brasil uma característica perdida desde a saída de seu antigo controlador, o empresário Abilio Diniz: a facilidade de trânsito com o governo. Essa habilidade de Iabrudi, junto com a facilidade de relacionamento dentro das corporações, pode ser em parte creditada à experiência acumulada nas empresas em que atuou. No começo da carreira executiva como membro da equipe montada pelo grupo gaúcho Gerdau para integrar as empresas adquiridas, ele diz ter conhecido o estilo de gestão de seu controlador, Jorge Gerdau Johannpeter.
?Foi uma grande experiência observá-lo?, afirmou Iabrudi à DINHEIRO, em dezembro. Depois desse período, Iabrudi precisou praticar as lições aprendidas ao assumir o posto de CEO de uma companhia conhecida pelas tensões entre os acionistas, a ex-Telemar, que comandou entre 2002 e 2006. Saiu da empresa depois de uma disputa de terreno com Luiz Eduardo Falco, que era o responsável pelas operações de telefonia móvel. São tensões como essa que ele espera não precisar enfrentar no pacificado Pão de Açúcar, recém-saído de um período de disputas belicosas entre os seus acionistas principais.
Novos formatos: a nova gestão deverá explorar novos formatos de lojas
Com o desembarque de Pestana, que passou quatro anos na presidência do Pão de Açúcar, a era Diniz pode ser dada como encerrada por completo. Diferentemente do seu antecessor, Iabrudi já foi uma contratação do novo comando. Em poucos meses, ganhou a confiança de Arnaud Strasser, que por sua vez é o homem de confiança de Naouri e principal ponte entre as operações brasileiras e francesas. Naouri, um empresário com fama de excessivamente preocupado com o controle de gastos ? não falta quem o chame mesmo de avarento ?, tem uma visão própria do varejo, baseada em operações enxutas e custos baixos.
?Ele brinca que é até repetitivo ao afirmar sempre que a empresa precisa ser eficiente para poder baixar os preços?, afirmou Iabrudi. Naouri também é um defensor da atuação com modelos diversos ao mesmo tempo, do hipermercado à pequena loja de bairro. Caminho que o GPA deve seguir, sob a batuta do novo CEO. Foi exatamente o alinhamento do executivo brasileiro com a filosofia de gestão do principal acionista do grupo francês que o fez ganhar mais influência na organização brasileira, enquanto Pestana perdia espaço.
Principalmente depois da chegada no GPA de dois executivos pesos-pesados do mundo de negócios brasileiros ? ambos contratados com o aval de Iabrudi. O ex-presidente da TAM Líbano Barroso assumiu o posto de vice-presidente de infraestrutura e desenvolvimento estratégico. Já Francisco Valim, que foi CEO da NET e da Oi, além de diretor-financeiro da Telemar, na gestão de Iabrudi, chegou para assumir a posição de CEO da Via Varejo, as operações de eletrodomésticos do GPA. Pode faltar a Iabrudi a experiência no setor de varejo, na comparação com Pestana, cujo legado ele vai ter de se esforçar muito para superar.
Durante a gestão de seu antecessor, a receita líquida do Pão de Açúcar, por exemplo, aumentou 2,5 vezes, para R$ 57,7 bilhões no ano passado, sem contabilizar os empreendimentos imobiliários. Apesar dos bons resultados e por mais que tivesse se esforçado por manter-se equidistante dos embates entre os sócios, Pestana nunca deixou de ser visto pelos franceses como o homem para promover a transição do comando da empresa, mas não para liderá-la numa fase em que as decisões virão mais da França. ?A fase de crescimento rápido passou, agora é hora de trazer novos formatos do Exterior?, diz Heloísa Omine, professora de varejo da Escola Superior de Propaganda e Marketing.