Nas últimas quatro semanas, a agenda do novo ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), Fernando Pimentel, foi tomada por encontros com empresários, representantes de entidades setoriais e embaixadores estrangeiros interessados em investimentos ou comércio com o Brasil. 

 

Pimentel só interrompeu a rotina de encontros com o setor privado para atender aos chamados da presidente Dilma Rousseff, que frequentemente busca sua opinião em assuntos da agenda econômica.  

 

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Amigo de Dilma desde os tempos de juventude, em Belo Horizonte, e seu mais próximo colaborador na Esplanada, Pimentel assume com o desafio de reverter a queda acentuada no superávit da balança comercial, que ficou em US$ 20,26 bilhões no ano passado e pode cair pela metade em 2011. “Mudou um pouco o foco. Agora o alvo é a área externa”, disse o ministro sobre o perfil da pasta na terça-feira passada.

 

São dois os principais vilões que colocam em risco o saldo comercial brasileiro e tiram o sono do novo ministro: a taxa de câmbio, favorável às importações, e a China, que além da moeda desvalorizada tem custos difíceis de igualar. O gigante asiático é o principal parceiro comercial do Brasil. Responde por 15,2% das exportações e 14% das importações brasileiras. 

 

Apesar do superávit de US$ 5,2 bilhões em favor do País no comércio bilateral, graças às exportações agrícolas e minerais, a concorrência se dá entre os produtos industrializados, tanto no mercado doméstico quanto no externo, reduzindo o espaço para a expansão das vendas brasileiras. 

 

“Temos de ter uma estratégia para lidar com a China”, afirma Pimentel. “É um país com grande influência no comércio internacional. Não podemos tratá-lo como outro qualquer.”

 

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A exemplo do antecessor, Miguel Jorge,  Pimentel assumiu prometendo intensificar as ações de defesa comercial e atacar os gargalos que reduzem a competitividade do produto brasileiro, o terceiro vilão da indústria brasileira. 

 

O que anima os empresários, que viram com bons olhos a nova equipe do Ministério, é a força política. “O MDIC passa a ter apoio político. 

 

Vamos deixar de ouvir ‘a Fazenda decidiu’, para ouvir que os dois ministérios decidiram em conjunto”, diz o vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro. 

 

De um modo geral, a equipe é jovem e tem experiência no setor privado. A nova secretária de Desenvolvimento da Produção, Heloísa Menezes, era diretora de relações institucionais da Confederação Nacional da Indústria (CNI). 

 

 

“Queremos aproximar o tempo de trabalho do ministério ao tempo do setor privado”, disse o secretário-executivo Alessandro Teixeira, que antes presidia a agência Apex Brasil.

 

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A nova equipe prometeu mais rigor nas investigações de defesa comercial. “Vamos tentar reduzir um pouco as exportações desnecessárias”, diz o secretário-executivo da Câmara de Comércio Exterior (Camex), Emílio Garófalo. “Vamos defender produtos que possam ser produzidos no Brasil de forma adequada.” 

 

Trata-se de uma mensagem que pode ter uma interpretação dúbia. Para a parte da indústria que está sendo prejudicada pelas importações baratas da China, a disposição do governo de fechar algumas portas é muito bem-vinda. 

 

Para outros interessados, porém,  significa a volta a uma postura protecionista que é condenada pela Organização Mundial do Comércio (OMC) e no passado não trouxe bons resultados à economia brasileira. 

 

“O problema é que quando se abre uma janela para proteção é só o que a indústria quer”, disse à DINHEIRO um especialista em comércio exterior.  “O esforço pela competitividade fica de lado.” 

 

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Se uma parte do sucesso de Pimentel à frente do ministério depende do mercado internacional, outra parte será definida apenas das condições criadas pela legislação e infraestrutura brasileiras. 

 

A agenda reivindicada pelo setor produtivo, e até hoje não atendida pelo governo, inclui uma reforma tributária para simplificação e redução dos impostos para exportação, melhoria da infraestrutura de transporte, a desburocratização dos processos de importação e exportação e o aumento do financiamento às vendas externas. 

 

“Estou aguardando para ver as medidas de melhoria de competitividade”, diz o economista-chefe da Fundação Centro de Estudos em Comércio Exterior (Funcex), Fernando Ribeiro. O ministério também está revendo a Política de Desenvolvimento Produtivo (PDP), que foi lançada em 2008 e não conseguiu cumprir as metas de ampliação do investimento privado em pesquisa e desenvolvimento e o aumento das pequenas e microempresas no comércio exterior. 

 

São muitos os desafios de Pimentel, mas ele promete que vai enfrentá-los com as portas abertas ao setor produtivo. “Afinal, é o Ministério da Indústria”, diz.