15/01/2015 - 18:31
O controle da rede francesa de resorts Club Méditerranée, ou simplesmente Club Med, para os íntimos, está mudando de mãos. O grupo chinês Fosun, com ramificações nos setores de siderurgia, medicamentos e seguros, entre outros, de propriedade do bilionário Guo Guangchang, assumiu o comando da empresa, uma das marcas mais identificadas com o glamour das férias na França. A negociação deve movimentar cerca de € 960 milhões, o equivalente a R$ 3 bilhões, valor considerado elevado para o atual momento da empresa. Os chineses contam com a parceria do empresário baiano Nelson Tanure, que investirá cerca de R$ 90 milhões para se tornar sócio minoritário da companhia.
O negócio, ainda que gere dúvidas, traz boas perspectivas para a rede hoteleira, que enfrenta problemas financeiros e vê os turistas franceses, que representam cerca de 40% da clientela total, se afastarem dos seus resorts devido à crise europeia. A esperança está, justamente, nos conterrâneos do seu novo proprietário. “O Club Med é perfeito para o estilo de vida chinês”, afirmou Guangchang, em comunicado. Fundado em 1950 pelo belga Gérard Blitz, um ex-jogador de polo aquático que lutou ao lado do general Charles de Gaulle na Resistência Francesa, durante a Segunda Guerra Mundial, o Club Med é considerado a maior rede de hotéis de alto padrão do mundo.
Ele foi o precursor do modelo all inclusive, no qual a hospedagem, a comida e as bebidas estão incluídas no preço. Anualmente, seus 70 “villages”, como são chamados os resorts, em 40 países, recebem cerca de 1,2 milhão de turistas por ano. Os tempos pioneiros da empresa remontam a uma época de otimismo e esperança, aberta pelo pós-guerra. “Dessa ideia nasceu um espírito. Nosso propósito na vida é ser feliz. O lugar para isso é aqui e a hora é agora”, afirmou Blitz, que era judeu, ao inaugurar seu primeiro resort, na ilha de Mallorca, na Espanha.
A tradição e o prestígio, no entanto, não são suficientes para evitar a atual crise financeira que assola a companhia. Sua receita, no ano passado, caiu 1,2%, para € 1,3 bilhão, o equivalente a R$ 4,1 bilhões. A última linha do balanço está pintada de vermelho desde 2011 – em 2014, o prejuízo foi de € 68 milhões – e há 12 anos a companhia não distribui dividendos aos acionistas. Por isso mesmo, o alto valor pago pelos chineses, aliado aos maus resultados recentes, levanta dúvidas sobre a viabilidade do negócio.
Ao jogar a toalha na disputa com os chineses, o investidor italiano Andrea Bonomi afirmou que a avaliação da rede de resorts havia chegado a um patamar irracional. Pessoas familiarizadas com a situação do Club Med, segundo o jornal francês Le Monde, disseram que não está claro quando Guanchang, Tanure e seus parceiros conseguirão recuperar o investimento. Os maiores beneficiados pela transação, até o momento, são os acionistas minoritários da companhia, que viram o valor de mercado da rede aumentar 70%. Bonomi, por sinal, também pode comemorar, apesar de ter perdido a disputa, pois vinha comprando ações da empresa desde março do ano passado, por um preço que variava entre € 17 e € 18, chegando a uma participação de 18%.
O investidor agora poderá vender os papéis a € 24,60. O novo proprietário do clube, no entanto, tem como uma de suas principais virtudes a paciência. De origem humilde, Guanchang costuma afirmar que construiu seu império tendo como filosofia uma mistura de budismo, taoísmo, confucionismo e “buffetismo”, numa referência ao megainvestidor americano Warren Buffett. Dono de uma fortuna pessoal estimada em US$ 4 bilhões, ele figura entre os 100 homens mais ricos da China. Sua estratégia para recuperar os velhos tempos de bonança do Club Med será manter tudo como está.
Guangchang, inclusive, já afirmou que o atual CEO do grupo, Henri Giscard d’Estaing, filho do ex-presidente francês Valéry Giscard d’Estaing, permanecerá no cargo. O empresário chinês confia na demanda de seus conterrâneos por destinos de férias badalados para retomar o crescimento do grupo. O Club Med espera conquistar cerca de 10% dos clientes chineses de hotéis de quatro e cinco estrelas, um público de, aproximadamente, 200 mil pessoas. “O Club Med da China está tentando explorar a fraqueza dos seus concorrentes locais”, afirma Yan Yuejin, analista de turismo da consultoria chinesa E-House. O Brasil, onde estão localizados três resorts da rede, também é considerado um país com grande potencial de crescimento.