The Gallery, Gallery 21, Gallery Oggi. O nome tanto faz, porque o endereço é o de sempre: Rua Haddock Lobo, 1.626 (SP), colado ao Fasano. Há 25 anos ali funciona o night club mais folclórico do Brasil. Depois de uma reforma de US$ 1 milhão e três meses, o Gallery reabriu as portas na segunda-feira 17. Na festa de reinauguração, madames chegavam de Ferrari, aspirantes a celebridades corriam atrás dos fotógrafos, camarão, champanhe à vontade… Nas picapes, muito Village People e Gloria Gaynor, os reis da disco music. E nos banheiros, caixas e caixas de Epocler. Os bons tempos estão de volta? Por ?bons tempos? entenda-se anos 80, quando a nata da sociedade batia cartão na pista de dança. Do general Figueiredo ao cartola Vicente Matheus, de Hebe Camargo a Vera Fischer, de Chiquinho Scarpa a Nelson Ned. Mais Pelé, Ayrton Senna, Luiza Brunet, Tim Maia… Todo mundo ia ao Gallery. A turma do Rio chegava às sextas, e fazia o trajeto Congonhas?Jardins a bordo de uma limusine preta que os fundadores José Victor Oliva, José Pascowich e Ugo di Pace colocavam à disposição. A ponte-aérea
da volta só partia na manhã seguinte, depois de um animado
desjejum no Maksoud Plaza.

O problema é que a casa andava caidona nos últimos tempos. ?A insegurança da cidade afugentou a clientela?, diz o atual proprietário Arthur Briquet, que, por causa da queda de movimento, chegou a acumular dívidas de R$ 200 mil. Dos 500 figurões de outrora, não
mais que 200 figurantes apareciam toda noite. Metade do faturamento estava vindo de eventos empresariais, casamentos, festas de debutantes, bodas de ouro e afins. Até a derradeira luta
de Maguila contra Daniel Frank, o ?Touro de Carapicuíba?, foi lá. Verdadeiro fim de carreira. Nessa época menos glamourosa, o Gallery sobrevivia do nome, de uma fama que se perdeu. E antes que não
a encontre nunca mais, Briquet resolveu mudar tudo. Menos disco-
teca e mais restaurante, eis o Gallery de hoje ? aliás, Gallery Oggi,
o novo nome do lugar.

A decoração impecável é de Bia Barros, ex-senhora Carlos Jereissati (Telemar) e sócia de Briquet na empreitada. Ela dividiu o espaço de 600 m2 em cinco ambientes: piano bar, terraço, enoteca com Veuve Clicquots de R$ 3,5 mil a garrafa, restaurante com trufas italianas e escargots franceses e pista de dança, agora bem reduzida. É dela também a idéia de servir almoços: R$ 39 por cabeça, no sistema de bufê. ?Eu quis um preço bem acessível para atrair o público feminino?, explica Bia, que também colocou cabeleireiros e maquiadores de plantão nos banheiros. ?Sempre tem alguém que precisa de um retoque de última hora?, afirma ela.

Nessa nova fase, o Gallery deixa de ser um clube exclusivo para sócios. Agora entra qualquer um ? qualquer um com pelo menos R$ 90 para bancar um jantar (sem o vinho). ?O sistema de sócios fazia sentido quando não existia o cartão de crédito?, conta Briquet. ?Eles consumiam à vontade e no final do mês nós mandávamos a fatura. Era mais cômodo do que ficar preenchendo cheques.? Aos 45 anos, 15 à frente do Gallery, namorado de Viviane Senna, Briquet odeia badalação. Não fuma, não bebe, acorda cedo e faz ginástica todos os dias. ?Meu negócio é o dia?, diz, embora já tenha sido dono de outros points famosos como Resumo da Ópera e Banana Café. Mas nenhum com histórias tão saborosas quanto o Gallery. Coisas como a tarde de sábado em que Gugu Liberato comandou um leilão de peças íntimas da atriz Matilde Mastrangi. ?Foi todo mundo em cana?, relembra José Victor Oliva. Ou então o dia em que o próprio Oliva foi dar um abraço em Tony Benett e saiu com a peruca do cantor enroscada no relógio. Ou ainda a noite em que Mikhail Baryshnikov parou a pista de dança com suas piruetas tresloucadas. E Cindy Lauper, meio alta, improvisou um showzinho com play-back ao ouvir sua música nas caixas de som. Ah, se aquelas paredes falassem…