11/02/2004 - 8:00
Em mais de 30 anos de existência, a TAM teve apenas dois presidentes, com dois estilos opostos, duas personalidades distintas. O primeiro foi o lendário Rolim Amaro, o comandante Rolim, como gostava de ser chamado. Empreendedor nato e dono de um marketing intuitivo, sua imagem confundia-se com a da própria companhia. O segundo presidente, seu genro Daniel Mandelli, cultivava a discrição como marca registrada. Poucos o conheciam fora do edifício-sede da empresa, fincado na área do Aeroporto de Congonhas, em São Paulo. Era o sujeito dos controles, das tarefas internas. O novo homem da TAM, Marco Bologna, paulistano de 48 anos, empossado há duas semanas, é a síntese de seus antecessores. Esguio, 1,90 m de altura, falante, quase prolixo, Bologna não tem o carisma do comandante Rolim. Mas coloca a agressividade no marketing como uma das duas principais bandeiras de sua gestão frente à TAM, a líder na aviação nacional com faturamento de US$ 1 bilhão. ?Precisamos reconquistar a percepção de que somos a empresa mais inovadora e de bom astral do setor?, afirma. Essa posição foi ?roubada? pela Gol, com seus tíquetes eletrônicos e seus jovens comissários vestidos em camisetas e calças pretas.
A segunda bandeira de Bologna vai exigir dele mais a sobriedade de Mandelli do que a expansividade de Rolim. Caberá a ele conduzir o processo de fusão com a Varig. Trata-se de tarefa espinhosa. De um lado, há pressão oficial para que a união se consuma. De outro, a desconfiança dos credores da Varig. Já as duas companhias caminham rumo ao altar com o mesmo entusiasmo de um condenado no corredor da morte, sobretudo depois que o code sharing entre elas gerou uma clara melhoria em seus balanços. Bologna resume o tom que pretende imprimir ao assunto. ?Queremos continuar os estudos para criar um modelo racional. Não podemos nos precipitar?, diz.
Bologna possui alguns dos instrumentos necessários para levar adiante essa missão. Segundo executivos da TAM, ele se movimenta bem nos dois grupos de acionistas da companhia. A família, liderada pela viúva de Rolim, Noemi, aprendeu a respeitá-lo logo após a morte do comandante. Com seu jeito professoral, Bologna explicava detalhadamente os números do grupo para ela. ?Não se pode dizer que existe uma grande amizade entre eles, mas a confiança mútua foi construída?, comenta um ex-executivo da TAM. Outro importante grupo de acionistas, os fundos de investimentos liderados pelo Credit Suisse First Boston, vê em Bologna a profissionalização necessária a uma companhia aberta.
Bologna ganhou a simpatia dos banqueiros porque na origem é um deles. Formado em Engenharia de Produção pela Poli, da USP, Bologna desenvolveu uma carreira de 24 anos no setor bancário. Passou por instituições estrangeiras, como o Chase, e nacionais a exemplo do Itamaraty, de Olacyr de Moraes. Foi lá que conheceu Rolim, apresentado pelo próprio Olacyr. ?Os dois eram amicíssimos?, relembra Bologna. ?E eu cuidava da conta da TAM.? Anos depois, quando precisou estruturar sua área financeira, Rolim lembrou-se de Bologna e entregou-lhe uma vice-presidência da companhia.
Três meses após assumir o posto, Bologna foi acordado num sábado com a notícia da morte de seu patrão. Entre a morte de Rolim e a posse como presidente, Bologna passou um tempo no Banco VR,
da família Szajman. Voltou à TAM convidado por Noemi Rolim. Encontrou uma empresa menor do que deixou. A frota de 75 aeronaves atende 44 cidades. Já foram 110. O número de funcio-
nários caiu de 12 mil para 10 mil. Foram ajustes necessários para enfrentar turbulências de crises seguidas. Cabe a Bologna levar a
TAM de volta ao céu de brigadeiro.
“O ACORDO TAM/VARIG SALVOU O SETOR?
A seguir, os principais trechos da entrevista com Marco Bologna.
A fusão com a Varig vai sair?
A palavra mudou. Não é mais fusão, é associação.
Que modelo de associação?
Não há definição. As conversas continuam porque nunca pararam.
Quem participa das conversas?
Executivos das duas empresas, o Banco Fator e o Luciano Coutinho, interlocutor com o Ministério da Defesa.
O modelo no qual a Varig teria 5% da nova companhia prevalece?
Isso não seria mais possível. O próprio ministro Viegas afirmou
isso. Aquele modelo não respondia diversas questões, como a do passivo trabalhista.
É possível ainda uma associação com troca de ações?
Naquela modelagem, não. Tudo depende da viabilidade econômico-financeira e de atender todos os interesses envolvidos. E há o tempero disso tudo que é grana. E aí entra o BNDES. Os credores ainda não disseram também quanto eles aceitam perdoar da dívida, ou transformar em ações.
A TAM abriria mão do controle?
Não abrimos mão de estar no bloco de controle. Temos uma situação financeira mais saudável do que a Varig.
O que seria ideal para a TAM?
No momento é a continuação do code sharing, que se revelou
um instrumento eficiente de regulagem de oferta e de regula-
gem do setor.
E depois?
Esse processo pode ser evolutivo, não precisa ficar do jeito que está. A evolução vai ser discutida no CADE.
Há dúvidas a respeito do code sharing e seus efeitos, como a redução na oferta e o aumento de preços…
Não houve aumentos. Algumas promoções foram encerradas. Mas no final foi bom para todo mundo. Isso salvou o setor. As empresas se tornaram viáveis e o mercado se recuperou.
Qual o ganho do consumidor se a oferta caiu e o preço subiu?
Ele continuou sendo atendido. Do jeito que estava, não teria mais avião para voar. Cerca de 75% a 80% do tráfego brasileiro é de negócios. Não tenho notícias de que bancos, por exemplo, tenham baixado tarifas devido aos descontos das passagens aéreas.
Mas a passagem no Brasil é cara.
Pegue a tarifa em dólar nos últimos cinco anos, e garanto que houve queda no preço. E olha que 55% de nossos custos são em dólar.