15/12/2004 - 8:00
A imponente escadaria que leva ao salão principal do Jockey Club de São Paulo, na Zona Sul da cidade, já não ostenta os majestosos tapetes vermelhos por onde desfilavam as principais fortunas do País na década de 50. Daquele tempo, sobrou o desgastado corrimão dourado e as janelas estilhaçadas ao redor da entrada principal. Das três salas de apostas, onde apinhavam-se milhares de pessoas e o tilintar das máquinas soava como uma sinfonia monetária, restou apenas uma delas. O ambiente é melancólico, a parede de mármore já não brilha e as fotos descascadas dos tempos de glória são os únicos resquícios de glamour. Pelo vão das portas pantográficas trancafiadas por cadeados vê-se uma pista vazia, uma tribuna sem vida. A queda do que foi o principal centro do turfe brasileiro veio a galope. Em 10 anos, o faturamento caiu de US$ 185 milhões para US$ 36 milhões. Dos cerca de 6 mil sócios sobraram apenas 2 mil. A dívida da instituição saltou para R$ 111,8 milhões.
O cenário é triste. Um projeto inovador, contudo, promete tirar o clube do atoleiro. Trata-se do ?Novo Jockey?, um movimento que prevê a construção de um parque para a metrópole, a criação de cinemas, restaurantes e espaço para eventos. A idéia de transformar o Jockey em um centro de convivência democrático, aberto a todos e não apenas à elite, é de Márcio Toledo, de 45 anos, apaixonado por cavalos e presidente do Interbank, um banco criado para gerir seus próprios negócios e investir em empresas de tecnologia. Toledo é candidato à presidência nas próximas eleições, em março de 2005. ?É preciso trazer as pessoas, principalmente os jovens, de volta ao Jockey?, diz. Para conseguir tal façanha, Toledo conta com o apoio de empresários respeitados, como Abramo Douek, do banco Rendimento, Benjamin Steinbruch, da CSN, o publicitário Sérgio Amado e políticos como os ministros José Dirceu e Aldo Rebelo. Dirceu e Rabelo em meio à turma da banca? Toledo foi militante estudantil no tempo da campanha das Diretas Já, e ali aproximou-se das lideranças políticas de esquerda, agora reunidas na salvação do hipódromo.
Mas como tirar o Jockey do limbo? ?Firmando parcerias com o poder público e privado?, diz Toledo. É uma espécie de PPP, o projeto arquitetado pelo governo Lula para estimular investimentos na infra-estrutura, implementado em uma versão mais modesta, estimada em pouco mais de R$ 20 milhões. Uma das idéias é criar um amplo espaço de entretenimento no miolo da pista de turfe. Com isso, os administradores conseguirão negociar a redução da altíssima dívida de IPTU com a Prefeitura de São Paulo. O local tem uma área de 115 mil m2, o equivalente a 16 campos de futebol. É, portanto, uma área que pode facilmente converter-se em um parque da cidade. ?Se o domingo da Avenida Paulista, rodeada de prédios e concreto, reúne 20 mil pessoas, um espaço no Jockey poderia juntar muito mais gente?, diz Toledo. A criação dos ambientes ficou a cargo do arquiteto Marcos Tomanik. Pelo esboço apresentado, um túnel passaria sob a pista de corrida e chegaria ao centro do gramado. Seriam construídas uma ciclovia, pista de cooper e um teatro de arena. Ao lado, haveria também um local para organizar leilões de cavalo e um grande espaço para eventos que seria comercializado nos moldes do Credicard Hall, em São Paulo. Uma empresa pagaria para pôr o nome no local. Na tribuna, também seriam erguidos 30 camarotes corporativos. ?O projeto é simples?, diz Tomanik. ?Vamos aproveitar os espaços ociosos.?
O Jockey, com essas iniciativas, voltaria a ser o lugar para ver e ser visto. Houve, é verdade, recentemente, eventos como o Tim Festival, um show musical organizado pela operadora de telefonia italiana, e um cinema ao ar livre, patrocinado pela Telefônica. Mas são esporádicos. Com a criação de um cinema, restaurante requintado e ampliação do clube com áreas de lazer para os sócios, o Jockey se transformaria em um badalado ponto de encontro numa área nobre de uma cidade cinza. ?Isso precisa ser feito o mais rápido possível?, diz Eduardo Guimarães, criador profissional da raça puro-sangue inglês, que já vendeu um de seus cavalos por US$ 1,5 milhão. ?Caso contrário será o fim do Jockey.?
Confrontada com as iniciativas do grupo que pretende assumir o poder no Jockey, a atual diretoria admite que faltaram investimentos em marketing para trazer público ao hipódromo. Há meros um ano e meio à frente da entidade, o presidente Vicente Paolillo conseguiu, entretanto, atingir um equilíbrio razoável. ?Fizemos cortes nos gastos e eliminamos o déficit operacional de R$ 600 mil por mês?, diz Paolillo. Quanto à queda das apostas, há uma explicação. ?Outros jogos como o Bingo e as loterias, por exemplo, tiraram o nosso público ao longo dos últimos 30 anos?. Resta, agora, alguém apostar no futuro do Jockey para transformá-lo numa barbada.
![]() | ||||
![]() | ||||
| ||||
![]() | ||||
|