O empresário Jeff Bezos, criador da Amazon, a maior loja de varejo online do mundo, nunca foi incensado como Steve Jobs. Seu prestígio como revolucionário da internet é menor do que o de Sergey Brin e Larry Page, fundadores do Google, e sua história de empreendedorismo não virou filme premiado, como a de Mark Zuckerberg, do Facebook. Talvez por isso, o empresário tenha sido sempre alvo de críticas. Uma delas era a de que sua empresa vivia correndo riscos e nunca entregava os resultados desejados pelos investidores. Neste ano, no entanto, o status de Bezos começou a mudar. Ele foi reconhecido pela revista americana Harvard Business Review como o segundo CEO com o melhor resultado do mundo na última década, atrás apenas de Jobs. 

 

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Jeff Bezos, fundador da Amazon: “Haverá mudanças nos próximos

anos. Precisaremos experimentar”

 

Afinal, apesar dos percalços, a Amazon chegou a um faturamento de US$ 61 bilhões, e seu valor de mercado aumentou 260% em cinco anos, para US$ 135 bilhões. Na semana passada, ao adquirir, por US$ 250 milhões, o tradicional jornal The Washington Post, Bezos assumiu de vez um papel de protagonismo no mundo empresarial e político de seu país. Ele se transformou no primeiro empreendedor digital a se tornar, também, um magnata da imprensa. A tradicional publicação da capital americana permaneceu por 80 anos nas mãos da família Graham, passando por quatro gerações. O clã e o jornal, de 135 anos, se notabilizaram pela capacidade de influenciar a política americana.

 

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De malas prontas: último herdeiro da família Graham no comando

do The Washington Post, Donald Graham conduziu

a venda de US$ 250 milhões

 

O exemplo mais ruidoso dessa enorme influência é a revelação do caso Watergate, que levou à renúncia do presidente Richard Nixon, em 1974, na época em que era comandado pela empresária Katharine Graham, mãe do atual publisher, Donald Graham. Bezos precisará fazer pouco para manter a reputação da publicação. Por outro lado, deverá ter mais trabalho para remodelar seus negócios. ?Os valores do The Post não precisam mudar?, escreveu, em uma carta aberta aos seus funcionários. ?Haverá, é claro, mudanças nos próximos anos.? O motivo, explicou, é a transformação empreendida pela internet, que aumentou a rapidez do ciclo das notícias, erodiu fontes de receita e estabeleceu novas formas de competição. 

 

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Rumo ao espaço: a Blue Origin, empresa fundada pelo empresário, pretende

criar veículos espaciais mais seguros

 

?Precisaremos inventar, o que significa que precisaremos experimentar?, afirmou. Analistas do setor estão apostando que Bezos, aos 49 anos, está prestes a empreender a terceira revolução de sua trajetória. A primeira delas aconteceu com a criação da Amazon, em 1994. Já o lançamento do leitor digital Kindle, sua segunda grande revolução, em 2007, levou ao desenvolvimento do mercado de livros eletrônicos. À frente do The Post, o empreendedor precisará reinventar o negócio. Em uma entrevista no ano passado, ele afirmou que não acredita que os jornais impressos ainda existirão em 20 anos, e que o grande desafio é que as pessoas já se acostumaram a não pagar por notícias na internet.

 

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Movimento contínuo: Bezos investe US$ 42 milhões na construção

de um relógio que funcione por 10 mil anos

 

Em sua trajetória, Bezos já demonstrou ser paciente e acreditar nos investimentos de longo prazo. Ele se lançou em diversas empreitadas de futuro. É o caso da Blue Origin, que fundou para desenvolver um veículo para viagens espaciais. Ele também investiu US$ 42 milhões na construção de um relógio que funcione por 10 mil anos, dentro de uma montanha no Texas. ?Bezos está preocupado em deixar um legado?, diz Marcelo Trípoli, CEO da agência de publicidade e empresa de tecnologia SapientNitro iThink. ?Ele também demonstra entender a importância da imprensa livre e o valor do conteúdo profissional.? 

 

Quanto ao legado da família Graham (ver quadro abaixo), a expectativa é de que o novo magnata da imprensa o mantenha vivo. ?Pessoalmente, há para mim um monte de sentimentos, uma tristeza apropriada, com certeza?, afirmou, em nota, o jornalista Carl Bernstein, que investigou, com Bob Woodward, o escândalo Watergate, nos anos 1970. ?Bezos me parece o tipo de escolha inventiva e inovadora que precisamos para trazer de volta um compromisso com o grande jornalismo.? Bernstein pode estar certo. Na Amazon, o pioneiro da internet fazia reuniões em que deixava uma cadeira vazia à mostra de todos os presentes, para que se lembrassem sempre do consumidor. Não será uma surpresa se fizer o mesmo no comando de seu jornal, mas, desta vez, com uma cadeira representando o leitor.

 

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O futuro da Amazon aposta no Brasil

 

A AWS, braço de tecnologia da maior varejista do mundo, quer ter uma presença importante no mercado brasileiro

 

Por Diego Marcel

 

Na última terça-feira de julho, a Amazon Web Services recebeu, em São Paulo, três mil clientes efetivos ou potenciais para falar sobre as vantagens de seus serviços de tecnologia na nuvem. Este foi o ano em que o evento da subsidiária brasileira da plataforma de serviços online da maior varejista virtual do mundo reuniu mais expectadores. Segundo seus executivos, o Brasil é um dos mercados eleitos como chave para o grupo nos próximos sete anos, período em que a Web Services deve apresentar um papel importante nos resultados da Amazon. Segundo previsões internas, em 2020, o braço de tecnologia deverá adquirir uma envergadura semelhante a do varejo no resultado da gigante comanda por Jeff Bezos, que faturou US$ 61 bilhões no ano passado. 

 

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Wood, da Amazon: “a desconfiança do mercado acabou”

 

?O Brasil é um mercado crucial para atingirmos nossos objetivos”, disse o americano Matt Wood, principal especialista em dados da Amazon Web Services, que veio ao Brasil para o evento. O aumento do peso da AWS nos negócios da Amazon pode ser visto como um exemplo de criatura que supera o criador. A divisão de tecnologia surgiu pela necessidade de desenvolver soluções para viabilizar as vendas da companhia de varejo online. Observando as oportunidades que o mercado de nuvem abriu, e o portfólio de soluções que criou para si própria, a Amazon resolveu, então, começar a vender esses serviços, a partir de 2006. A entrada no Brasil em 2011 é uma resposta ao crescente interesse das empresas em levar seus serviços e aplicações na nuvem, possibilidade cogitada por 94% dos executivos ouvidos em uma pesquisa da consultoria Symantec. ?A desconfiança do mercado acabou?, diz Wood.

 

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