Há uma palavra mágica na sucessão presidencial: emprego. Está na boca e
nos programas de todos os presidenciáveis. José Serra fala em 8 milhões de postos de trabalho; Lula promete 10 milhões; Anthony Garotinho acena com incentivos fiscais para quem contratar e Ciro Gomes pretende criar um ministério da habitação de olho na mesma meta. Com 11 milhões de desempregados no País, vale tudo para ganhar o voto de quem está à margem do mercado de trabalho. Mas o fato é que a cara do emprego mudou muito no Brasil. E por mais bem-intencionadas que sejam as propostas dos candidatos, o mundo real envia alguns sinais que deveriam ser levados em conta. A agricultura, vedete de todos os programas, é cada vez mais mecanizada. Na construção civil, outro celeiro de empregos, os ganhos de produtividade têm sido crescentes (leia reportagem na página 36). O que os números mostram é que a grande fonte de novas vagas tem sido o setor de serviços.

 

O McDonald?s é um bom exemplo dessa tendência. Só neste ano serão criados 5,2 mil empregos na rede de lanchonetes. E isso é fruto de uma decisão interna da empresa de reduzir a jornada de trabalho, sem qualquer exigência legal. Tal tese, por enquanto, é abraçada apenas pelo PT. No caso do McDonald?s, o expediente dos 33 mil funcionários de lojas não se estende por mais de seis horas diárias. Em alguns casos, não ultrapassa quatro horas. ?Se tivéssemos uma jornada clássica, de 8 horas diárias, a geração de emprego seria reduzida à metade?, afirma Alcides Terra, vice-presidente de recursos humanos e franquias. O principal incentivo para a redução de jornada vem da necessidade de manter um atendimento simpático e rápido por parte dos ?balconistas?. ?Não seria possível manter o ritmo acelerado e o nível de concentração que exigimos com oito horas de trabalho contínuo?, explica Terra.

Telefonia. Outra prova do embalo do setor de serviços vem do telemarketing. O setor já emprega no País cerca de 450 mil pessoas. E a perspectiva é de um crescimento de 20% ao ano. ?A universalização da telefonia irá impulsionar o setor?, diz James Meaney, presidente da Contax, empresa do grupo Telemar. De acordo com projeções da Anatel, em 2005 66% da população terá uma linha residencial. Hoje, o acesso atinge apenas 35% dos brasileiros. A Contax, que foi criada há 18 meses, já tem 14,1 mil funcionários. Inaugurado no mês passado, o escritório de São Paulo criou 1,6 mil postos. Há também sinais animadores na educação. Com a expansão do ensino público para as classes D e E, parte da classe C migrou para escolas privadas. A rede COC, de Ribeirão Preto, tem 128 colégios no Brasil utilizando sua metodologia. O número de funcionários que trabalham com material didático passou de 600 para 1.000, em três anos só na sede. Além disso, as faculdades privadas proliferam no País.

O crescimento do setor de serviços, porém, é visto com reservas por alguns especialistas em mercado de trabalho. Não bastaria para resolver, sozinho, o desemprego de 7,3% da população economicamente ativa, segundo o IBGE. ?Não adianta o setor de serviços crescer, mesmo sendo responsável por 50% do total do emprego, se a indústria e a agricultura não acompanharem. São esses dois setores os que têm capacidade de gerar renda?, diz Sérgio Mendonça, diretor-técnico do Dieese. Parte da solução para o atual desemprego também viria do combate a distorções do mercado. ?Cerca de 4 milhões de vagas surgiriam com a erradicação do trabalho infantil, o fim das horas extras e a reforma da Previdência?, diz Márcio Pochmann, secretário de Trabalho da Prefeitura de São Paulo. De qualquer forma, de nada adiantarão casos isolados de sucesso, caso o Brasil não retome logo um nível razoável de crescimento econômico.