09/04/2010 - 6:00
Confira também a entrevista em vídeo de Leonardo Senna:
‘Minha história com barcos começou como lazer’
Acompanhe a continuação da entrevista:
>‘Preços vão de R$ 2 milhões a R$ 11 milhões’ – PARTE 2
>‘Planejamos abrir fábrica de barcos no Brasil’ – PARTE 3
Senna (à esq.) e Guimarães trarão barcos que custarão entre R$ 1,8 milhão e R$ 12 milhões.
A empresa terá duas bases no Brasil: uma no Guarujá, litoral paulista, e outra em Angra dos Reis, no Rio
Desde 2005, quando os empresários Leonardo Senna e Ubirajara Guimarães venderam a participação que tinham na montadora Audi do Brasil, os dois se sentiam como peixes fora d?água. Com uma carreira trilhada no universo dos motores, eles tiveram, de uma hora para outra, de abandonar o setor no qual haviam feito história. Leonardo passou a se concentrar na iHouse, sua empresa de automação para casa, e Ubirajara, mais conhecido como Bira, focou suas atenções em investimentos imobiliários. Nesse meio tempo, até tentaram iniciar a importação de telas de LCD de uma empresa taiwanesa chamada Ölevia. Mas a companhia quebrou lá fora e o negócio naufragou. A sensação era a de que faltava o ronco de um motor para atiçar a dupla. Faltava. Na semana passada, eles acionaram a ignição para um novo negócio: a importação de barcos da marca inglesa Fairline.
?Temos grande experiência com a venda de carros de alto nível, conhecemos o mercado de luxo e também sabemos como esse cliente pensa?, diz Senna. ?Vamos vender dez barcos neste primeiro ano de operação.? Pode soar estranho escutar o empresário falando de unidades, mas é fácil compreender do que se trata ao descobrir os preços de cada modelo. São lanchas e iates que custarão entre R$ 1,8 milhão e R$ 12 milhões.
A Fairline, com mais de 40 anos de história, é considerada uma das fabricantes mais respeitadas da Europa e seus barcos são vistos como exemplos de resistência. ?Enquanto os modelos italianos são fortes em design, a Fairline tem a fama de possuir uma excelente navegabilidade?, diz Ernani Paciornik, organizador do Rio Boat Show, salão náutico que aconteceu na semana passada. ?São embarcações produzidas para suportar o Mar do Norte?, diz ele, referindo-se ao mar que é um dos mais revoltos do mundo.
Mas nem por isso seus exemplares deixam de apresentar um alto nível de requinte. ?Eles vêm com faqueiro de prata, pratos de porcelana e pé-direito alto?, diz Guimarães. ?É como uma casa em alto-mar.? Até as cabeças dos parafusos dos armários são escondidas para proporcionar um visual que beira a perfeição. Antes de zarparem do estaleiro onde são fabricados, os barcos também passam por um rigoroso teste de qualidade que dura mais de 30 horas em cerca de duas mil verificações de cada detalhe. No mercado brasileiro serão vendidos cinco modelos: o Squadron 55, o Squadron 65, o Squadron 78, o Targa 58 e o Phanton 48.
Squadron 55:o modelo, que sai por R$ 4,5 milhões, possui suíte decorada com móveis sofisticados
igual à de uma residência de alto padrão
Dentre os modelos apresentados pela Fairline, o Squadron 65 chama a atenção. Com quase 20 metros de comprimento, ele possui suíte master, suíte de proa, sala de estar dotada de sistema de entretenimento e decoração moderna. Preço: R$ 6,5 milhões. Por enquanto, Senna e Guimarães encomendaram seis unidades de vários modelos para iniciar a comercialização das máquinas dos mares. ?Já vendemos um barco e estamos em negociação para vender os outros?, diz Guimarães.
A divulgação dos tempos de Audi, quando Senna organizava ações com helicópteros que voavam pela cidade de São Paulo com um carro pendurado, ainda é algo bem distante. ?Vamos fazer tudo bem devagar, passo a passo?, diz. Afinal, para alcançar esse tipo de cliente é preciso mirar no alvo. Por isso mesmo, os dois estão tirando proveito de suas redes de relacionamento. Outra tática adotada por eles para ganhar o cliente de qualquer jeito é paparicá-los de todos os modos. A Fairline terá uma base no Guarujá, litoral de São Paulo, e outra em Angra dos Reis, no Rio de Janeiro, e, se o cliente precisar, eles o levarão de helicóptero para ver o barco. Outro detalhe crucial para o sucesso do negócio é a assistência técnica. ?Não adianta vender se não tivermos uma equipe preparada para atender?, diz Guimarães, que enviou um funcionário para fazer um curso intensivo na Inglaterra.
O desempenho dos negócios no Brasil servirá de termômetro para a Fairline apostar em uma fábrica no País. ?Isso pode acontecer dentro de três anos?, diz Senna, otimista com a operação. Essa, aliás, não é a primeira vez que a Fairline ancora seus modelos por aqui. Há cerca de dez anos, a marca era trazida pelo empresário Julio Albertoni, da empresa Next. No mercado, comenta-se que os executivos da Fairline não teriam aprovado o modo como os barcos eram importados. Indagado sobre essa questão, Marcelo Albertoni, filho de Julio e diretor comercial da Next, diz o contrário. ?Não havia mercado para a Fairline. Com os altos impostos de importação, ficou difícil concorrer com os barcos brasileiros e paramos de importar?, comenta. Cabe a Senna e a Guimarães assumirem o comando do barco e dar um novo rumo à Fairline.