18/05/2001 - 7:00
Em julho, um contêiner carregado de peças com a grife Ellus vai cruzar oceanos em direção aos principais mercados do mundo. Calças, casacos, vestidos e outros itens que compõem a coleção inverno da linha ?Limited? estarão nas vitrines de lojas sofisticadas da Itália, França, Hong Kong, Japão, Estados Unidos e Canadá ? entre elas, a Barney?s, Harrods e Galeries Lafayette. A primeira incursão da marca além das fronteiras da América Latina é a mais nova cartada de Nelson Alvarenga, 50 anos, fundador e diretor de criação da empresa. ?Até 2004, as atividades externas deverão representar 20% de nossas receitas?, estima o empresário. Econômico quando o assunto envolve os números gerados pela etiqueta, Alvarenga deixa escapar apenas que o faturamento total deverá ultrapassar os R$ 100 milhões este ano. O montante inclui as operações internacionais e as vendas geradas pelas 60 unidades da marca e por 800 distribuidores exclusivos nas principais cidades brasileiras. A guinada global, é claro, aguçou o apetite do mercado financeiro. Investidores já bateram à porta de Alvarenga com interesses muito maiores do que apenas conhecer as novas linhas de jeans e jaquetas.
A estratégia de entrar no Primeiro Mundo ?pela porta da frente?, como Alvarenga faz questão de frisar, foi costurada de forma meticulosa. ?Durante meses, selecionamos os compradores entre as butiques com prestígio suficiente para garantir visibilidade aos nossos produtos?, conta. Visibilidade e glamour são as palavras-chave no novo mundo da Ellus. Durante algum tempo, a grife carregou o rótulo de marca popular.
As peças eram encontradas em grandes magazines, como Mappin e Mesbla, e a estratégia de massificação costumava ser a espinha dorsal do negócio. ?Após alguns anos percebemos que os grandes magazines não respeitavam a identidade da marca, colocando nossas criações no mesmo balaio de roupas feitas sem qualquer preocupação estilística?, justifica Alvarenga. A partir daí, o empresário suspendeu o fornecimento para cadeias varejistas ? responsável por 43% do faturamento ? para encerrar o ciclo de popularização da grife e dar início a um processo de recuperação de imagem.
Foram feitos fortes investimentos em design e na pesquisa de materiais e as roupas evoluíram para versões sofisticadas. As linhas ?Limited? e ?Jeans De Luxe?, por exemplo, oferecem peças que custam R$ 780,00. O empresário também abusou do marketing e contratou celebridades do cenário internacional, como as estonteantes Cindy Crawford e Kate Moss, para as campanhas de lançamento das coleções no Brasil. O trabalho que agora seduz as butiques do circuito Londres?Paris?Nova York, obviamente, não passou despercebido pelos olheiros do mercado. Nos corredores da moda e do mundo financeiro comenta-se que o CSFB Garantia estaria muito interessado em uma associação ou mesmo na compra da Ellus. Alvarenga revela que no passado chegou a ser assediado por fundos de investimento, mas que nunca pensou em ter um sócio capitalista. ?Sofremos tanto nas mãos dos bancos que desde 1985 eu decidi que só trabalharíamos com recursos próprios?, argumenta.
O estilista mineiro, nascido em Formiga, ingressou no mundo fashion em 1967, aos 16 anos, quando foi contratado para trabalhar no departamento de contabilidade da Gledson ? à época um dos ícones do segmento jeanswear. Cinco anos depois, decidiu investir em sua própria grife. Optou por um modelo de gestão onde ficariam sob seu comando apenas a concepção e a criação das peças. A produção seria terceirizada. Acertou em cheio no processo, hoje utilizado por nove entre dez grifes da moda. Agora, Alvarenga quer o mundo. É essa combinação de ?casa arrumada? com ambição que atrai investidores.