06/08/2003 - 7:00
Houve tempo em que o nome Sears causava arrepios na concorrência. Ninguém vendia tanto quanto aquela loja nascida em Minneapolis e dona de filhotes no mundo todo ? Brasil inclusive. Ninguém desfrutava de tanto prestígio no setor. Poucos eram tão confiáveis aos olhos do consumidor, a ponto de a empresa usar sem medo o slogan ?Satisfação garantida ou seu dinheiro de volta?. Esta era a Sears dos anos 80. Hoje, quem anda repetindo o slogan aos executivos da rede são os próprios acionistas. Com uma pequena alteração: ?Satisfação garantida ou meu dinheiro de volta?. As vendas nas 872 lojas da Sears vêm registrando quedas consecutivas nos últimos 18 meses. O lucro de US$ 1,8 bilhão, alto para qualquer empresa, não satisfaz os investidores ? afinal, uma companhia que fatura US$ 31 bilhões tem condições de distribuir maiores dividendos aos donos. E para piorar, a Sears vem despencando no ranking.
No início deste mês, a rede fez seu primeiro grande movimento para dar um basta na má fase. Vendeu a divisão de cartão de crédito para o Citigroup. Embolsou US$ 7 bilhões. Mais que isso, a transação serviu para reduzir a zero as dívidas da rede, de US$ 28 bilhões ? boa parte atrelada às operações de cartão de crédito. ?A Sears se livrou de um grande problema. Esta divisão estava sendo mal gerida?, atesta a analista de varejo Elaine Rees. Além de zerar os papagaios, o que saiu deste acordo com o Citi foi a manutenção de alguns serviços que podem render US$ 200 milhões anuais à Sears. Pelo contrato, a Sears receberá tal recurso se conseguir aumentar a rede de clientes que utiliza cartão de crédito.
Se o plano de Alan Lacy, o novo chairman da companhia, for bem-sucedido, a Sears tem tudo para embolsar esse dinheiro extra do Citi. O executivo está se desfazendo de vários ativos para se concentrar no que mais a empresa sabe fazer: comércio, puro e simples. Nos últimos anos, a rede diversificou demais sua atuação. Chegou a vender até sistemas de controle de pragas em plantações. Lacy está revendo isso. E reorganizando as lojas. Por exemplo: algumas unidades vão se concentrar na venda de utensílios domésticos e ferramentas. A linha de roupas e jóias será vendida por catálogo, pela empresa Land?s End, comprada recentemente. Há ainda projetos de abrir lojas para vender CDs, DVDs e livros. ?Também vamos reduzir custos com a introdução do conceito de self-service nas lojas?, explicou Lacy. É que a Sears ainda atua com o atendimento tradicional de vendedores, o que encarece a operação. ?Os tempos agora são outros.? É o que os donos esperam.