16/08/2013 - 21:00
Conhecida mundialmente por seus smartphones, tablets e televisores, a coreana Samsung é também craque no chamado business to business, popular pela sigla B2B – é de suas fábricas que saem os chips para celulares que, entre outros, alimentam os aparelhos de sua arquirrival Apple. Responsável por 6% de seu faturamento de US$ 187 bilhões no ano passado, o segmento corporativo, que deverá passar a 25% até 2020, somente agora deverá ser explorado pela subsidiária brasileira da companhia. Sua primeira experiência será com impressoras, setor no qual já ocupa a vice-liderança no mercado residencial, logo após a HP.
Fittipaldi: a Samsung quer aproveitar seu know-how doméstico
no segmento empresarial
“Queremos aproveitar este know-how no segmento empresarial, no qual ainda não temos participação”, afirma Áureo Fittipaldi, diretor na divisão de B2B da Samsung Brasil. A estratégia da Samsung no País para o universo empresarial não se limita às impressoras, podendo abranger uma ampla gama de serviços e produtos hoje destinados ao usuário final. “Vemos oportunidades até para a linha branca”, diz Fittipaldi. “Todos os nossos produtos têm grande potencial.” A escolha pelas impressoras para ganhar impulso inicial se justifica pelo atual momento do B2B, responsável por R$ 3 bilhões dos R$ 4 bilhões faturados com esses equipamentos no ano passado e que deve continuar em ascensão.
“Por isso, o mercado ainda não está consolidado”, afirma Alfredo Cors, diretor do grupo de impressão da HP. “Ainda veremos mudanças de posições e players desaparecendo.” No ambiente corporativo, a empresa líder de mercado é a americana Lexmark. Depois de enfrentar problemas com o mercado doméstico, em que não conseguia o retorno de investimento por conta da falsificação de cartuchos de tinta, a Lexmark abandonou o usuário final e passou a dar ênfase apenas ao B2B. “Como tratamos com empresas, a pirataria não é uma preocupação”, afirma Ronaldo Foresti, vice-presidente da Lexmark na América Latina e na Ásia. “Nosso foco é a impressão inteligente e trazer soluções de gerenciamento.”
Foco no B2B: a Lexmark, de Ronaldo Foresti (centro), deixou de atender o consumidor
final, devido ao alto índice de pirataria, para concentrar seus esforços nos negócios com empresas
Essa estratégia não é uma exclusividade da Lexmark. Concorrentes como Ricoh, HP e Xerox, que, com a Lexmark, detêm três quartos do mercado corporativo brasileiro, também veem na ampliação da prestação de serviços uma alternativa para aumentar sua fatia de mercado, que antigamente vinha exclusivamente da venda ou do aluguel de equipamentos. “A preocupação das empresas agora é facilitar a vida de seus clientes”, afirma Cristiana Lannes, diretora executiva de marketing e estratégia da Xerox. Segundo ela, a Xerox chega a prestar serviços de gerenciamento de impressão feita até com máquinas de suas concorrentes. “Isso cria necessidades diferentes para nós, como a questão da segurança de informação”, diz Cristiana.
“Temos, por exemplo, parceria com empresas de antivírus.” A HP, por seu turno, estabeleceu em Guaíba, no Rio Grande do Sul, um laboratório com 200 engenheiros para desenvolvimento de soluções B2B. Para atuar nesse novo mercado, a Samsung fez benchmarking da experiência da HP, ao formar um núcleo para projetar soluções exclusivas para o B2B. “O software foi completamente desenhado por nossos cientistas aqui no Brasil.” As empresas sabem que os diferenciais serão fundamentais à medida que aumenta o acirramento da competição e da consolidação do setor. O número de folhas impressas pelas empresas em 2012 teve um aumento estimado em 11,5% em relação ao ano anterior, alcançando 17,9 bilhões de cópias produzidas.
“O papel ainda é insubstituível”, diz Diego Silva, da consultoria IDC. No entanto, apesar desse crescimento, as empresas sabem que esse é um segmento com prazo de validade. A Ricoh, por exemplo, que está há mais de 30 anos no mercado de impressão e detém faturamento global de US$ 22,9 bilhões, já se prepara para o momento em que o seu produto se tornará obsoleto. “A tendência é acompanhar a mobilidade dentro das empresas”, afirma Marcos Maciel, gerente de marketing da Ricoh. “Por isso, estamos investindo forte na parte de comunicação, como sistemas portáteis de videoconferência e até projetores.”
A Samsung sob ataque
Nem só de notícias promissoras é feito o dia a dia da Samsung no Brasil. Na semana passada, a empresa coreana foi alvo de uma Ação Civil Pública do Ministério Público do Trabalho (MPT), no Amazonas, sob a acusação de graves infrações trabalhistas em sua fábrica na Zona Franca de Manaus. Ali, segundo o MPT, funcionários trabalhavam por até 15 horas em pé e com pausas insuficientes. No ano passado, os casos de lesões por esforços repetitivos, como tendinite e bursite, causaram mais de dois mil afastamentos de até 15 dias. “Estamos comprometidos em oferecer aos nossos colaboradores ao redor do mundo um ambiente de trabalho que assegura os mais altos padrões da indústria em relação a segurança, saúde e bem-estar”, afirmou a Samsung, em comunicado. Pelo sim, pelo não, a empresa corre o risco de ter de pagar uma multa de R$ 250 milhões.