Há quem diga que não é preciso nenhum esforço para virar rei. Afinal de contas, a coroa é hereditária. Eraí Maggi Scheffer poderia, então, viver à sombra de seu primo, Blairo Maggi ? até agora, considerado o maior produtor individual de soja do mundo ?, esperando sua vez de subir ao trono. Mas não. Scheffer foi à luta, construiu seu próprio império, ultrapassou o primo e hoje, aos 43 anos, foi finalmente coroado: é o novo rei da soja mundial. Proprietário do Grupo Bom Futuro, com sede em Rondonópolis, no Mato Grosso, Scheffer é dono de 85 mil hectares de terra, tem uma produção que cresce a uma taxa espantosa de 20% ao ano, tira do solo 200 mil toneladas só de soja ? e outras tantas de milho e algodão ?, vende para gigantes como Bunge, Cargill e Sadia. E fatura R$ 100 milhões por ano.

Filho de pequenos agricultores do Paraná, Scheffer nasceu num sítio de 27 alqueires ? algo como 648 mil metros quadrados. Em São Miguel do Iguaçu, a quatro horas de Foz do Iguaçu, cresceu plantando soja e milho para vender nos sítios da região. Terceiro de sete irmãos, lembra de trabalhar desde muito pequeno na lavoura. ?Nós mesmo carpíamos o terreno, plantávamos e colhíamos?, conta à DINHEIRO. Quando o pai morreu, em 1976, Scheffer assumiu os negócios. Sem dinheiro para comprar mais terras, mas com muita vontade de trabalhar, o agricultor teve uma idéia: alugar a terra dos vizinhos. Na época, era uma novidade. ?Eu era um fuçador, pensava muito à frente?, conta. ?A gente tinha trator, mas a terra ainda era cara. Resolvíamos o problema alugando os sítios dos vizinhos.? Desta forma, em apenas cinco anos, multiplicou ?suas? terras e chegou a ter 100 alqueires plantados. Era pouco para quem andava horas de cavalo para chegar à cidade grande. Movido pela busca de terras mais baratas foi para Mato Grosso, no final da década de 70. Queria aumentar seu negócio. Já começou com um sitiozinho um pouco maior, de 57 alqueires. ?Fazia parceria com agricultores locais para plantar café?, recorda.

Fábrica de sementes. O rumo de sua vida só mudou em 1982, quando começou a mexer com a soja. ?Arrendei 2 mil hectares de terra de umas famílias de São Paulo e pagava em sacas de soja. Não precisava de dinheiro?, lembra. No primeiro ano, tinha 20 funcionários e colhia, por hectare, 40 sacas de soja e 20 de arroz por ano. Duas décadas depois, Scheffer construiu um império de fazer inveja a qualquer um de seus companheiros. Tem fazendas espalhadas por municípios como Rondonópolis, Sapezal, Campo de Júlio, Diamantino, Jaciara e Campo Verde. Em parceria com os irmãos Elusmar e Fernando e com o cunhado José Maria Bortoli, administra mais de 85 mil hectares de terra próprios de onde saem 200 mil toneladas de soja. Só para ilustrar: o antigo rei, Blairo Maggi, produz 170 mil toneladas. Nas épocas áureas, Olacyr de Moraes cultivava 50 mil hectares de soja ? Scheffer tem 60 mil. Scheffer tem também 600 funcionários diretos e, em tempos de safra, contrata outros 900. Se ele é o maior empregador do setor agrícola do País? ?Do mundo?, brinca Scheffer. E depois pede: ?Por favor, não bota isso aí na matéria, porque a gente é muito humilde?, afirma. ?Nossa vida hoje é igualzinha de quando plantávamos os 27 alqueires lá no Sul.?

Em termos. Scheffer ainda ama contar os ?causos? da roça. Costuma falar de como tem investido em tecnologia para aumentar a produtividade de suas terras. Adora dizer que as porteiras de suas fazendas estão abertas para quem quiser conhecer ? na última semana, por exemplo, um grupo de agricultores estrangeiros desembarcou em Rondonópolis com a Monsanto. Gosta de contar que seus três filhos querem continuar tocando o negócio de família. O mais velho cursa agricultura e a menina, de 17 anos, sonha em fazer administração para ajudar o pai. Mas os planos de Scheffer são mais ambiciosos do que o do menino pobre do Paraná. A exemplo do que fez seu primo Blairo Maggi, ele pensa em criar uma empresa de trading para poder, ele mesmo, exportar a produção. Outra idéia é criar uma empresa de logística que faria o transporte da soja para o resto do planeta via Rio Madeira. Tudo isso, entretanto, está ainda no papel. De certo, Scheffer está criando uma empresa que vai produzir sementes geneticamente melhoradas. Só suas fazendas consomem 100 mil sacas de sementes por ano. ?Vou produzir mais e vender para terceiros?, adianta. Apenas neste projeto, que deverá se tornar realidade até o final do ano, Scheffer vai investir R$ 25 milhões. ?Tudo que faço tem que ser muito bom, como na agricultura?, conclui.