As pessoas talvez ainda não saibam, mas o litoral sudeste brasileiro está se transformando num Texas latino-americano. Explica-se: além do Rio de Janeiro, que possui uma reserva estimada de 10 bilhões de óleo, o Espírito Santo está surgindo como um novo pólo produtor, com potencial de equiparar ou até superar a capacidade petrolífera fluminense. Em apenas quatro anos a produção de petróleo capixaba cresceu 378%, enquanto a de gás se elevou em 60%. ?O Espírito Santo já ocupa o segundo lugar, atrás somente do Rio, e tem tudo para assumir a liderança? se entusiasma Júlio Bueno, secretário de Desenvolvimento Econômico do governo estadual.

Os números são mesmo promissores. Até 2007, estima-se que a produção de petróleo atinja os 500 mil barris diários e que a exploração de gás supere os 30 milhões de metros cúbicos. Desde 1998, de acordo com dados da Agência Nacional do Petróleo, 40% de todas as descobertas de novas jazidas do País foram feitas no Estado, considerado a ?menina dos olhos? do último leilão realizado pela agência. ?Aqui se descobre petróleo em cada quatro de cinco poços pesquisados, enquanto a média mundial é de um para cada cinco?, disse à DINHEIRO o gerente da unidade de negócios da Petrobras no Estado, Márcio Felix Bezerra. Até 2010, a estatal pretende investir US$ 6 bilhões para ampliar e intensificar a sua atuação no Estado. ?Redescobrimos o Espírito Santo?, afirma Bezerra.

Apesar de a Petrobras ter desembarcado aqui dez anos antes, a história do petróleo em território capixaba começou em 1967, quando foi registrada a primeira descoberta. Mas o aumento das reservas do Rio com a onda de descobertas na Bacia de Campos, na década de 1970, desestimulou os investimentos. A retomada se deu a partir de 1998 e hoje não é apenas a estatal que disputa as áreas de exploração de petróleo no Estado. Desde que a ANP abriu à iniciativa privada a possibilidade de participar dos leilões para exploração de petróleo e gás no Brasil, as gigantes do setor despejaram mais de US$ 5 bilhões em investimentos. Shell, Texaco, El Paso, Agip, Esso e YPF-Repsol são apenas alguns exemplos de multinacionais que desembarcaram por aqui e que vêem no Espírito Santo um novo filão para os investimentos. ?Estamos usando a base do Estado para dar suporte a áreas localizadas no Rio e estamos nos preparando para perfurar mais um poço no segundo semestre deste ano?, disse John Haney, vice-presidente de exploração e produção da Shell Brasil, que já investiu sozinha US$ 500 milhões.

Quem ganha com isso tudo? Além do próprio Estado, que pretende arrecadar mais R$ 300 milhões em royalties nos próximos seis anos, setores como o petroquímico e a indústria naval foram grandes beneficiados. Além dos royalties, a indústria do petróleo gerou R$ 1 bilhão dos R$ 2,7 bilhões que foram arrecadados com ICMS no ano passado. ?Se levarmos em conta a nossa reserva, de quase 2 bilhões de barris podemos esperar que US$ 8 bilhões sejam escoados para cá nos próximos 20 anos?, calcula Bueno, para quem de cada US$ 30 que se cobra por barril, US$ 2 ficam nos cofres públicos. O governador, Paulo Hartung, comemora o novo boom de investimentos e a diversificação da economia (que começou baseada na monocultura do café). Com uma população de 3,4 milhões de habitantes e uma economia que representa apenas 2% do PIB (Produto Interno Bruto) nacional, o Espírito Santo tem sido alvo de boas e otimistas estimativas, das quais muitas jorram na esteira das descobertas de petróleo e gás. O Grupo Otto Andrade pretende investir US$ 100 milhões para transformar uma antiga empresa de desmonte de sucatas de navios à beira da Baía de Vitória num dos portos mais modernos do País para atender a indústria petrolífera local. Os chineses, por sua vez, querem investir pesado para construir um polo petroquímico. Há ainda encomendas de navios-plataforma e uma disseminação de cursos para profissionalizar trabalhadores para atuar no segmento. ?Estamos vivendo uma nova onda de crescimento e o petróleo é nosso grande potencial?, comemora Hartung.