19/12/2007 - 8:00
Nas ruas de Lima, o comércio não pára. Ao que tudo indica, as vendas do varejo fecharão o ano com expansão de 12%. Em Miraflores e outros bairros da capital peruana, o que se vê é um autêntico canteiro de obras, com lançamentos que farão a construção civil avançar 14,7%. Esse renascimento do mercado interno, somado a um boom exportador puxado pela mineração, está criando um novo tigre latino-americano.
É o Peru, antes tido como retardatário e vizinho pobre do dinâmico Chile. Com uma taxa de 8% estimada para este ano, o crescimento será o maior dos últimos 11 anos e a entrada de divisas é recorde. O setor minerador registra exportações de US$ 13,8 bilhões ? 41% a mais que em 2006. Além disso, a inflação é também a menor da América do Sul ? o índice não ultrapassa a casa de 2%. Não é à toa que 81% dos moradores da capital acreditam que a economia vai de vento em popa, como aponta uma pesquisa da Universidade de Lima. ?O governo tem feito bom trabalho de ajuste nas contas enquanto o mundo está voltado apenas para os emergentes?, afirma Fritz Du Bois, diretor do Instituto Peruano de Economia. Outro dado surpreendente é a conversão do presidente Alan Garcia, antigo populista, que hoje abraça um modelo liberal.
Graças a isso, o crescimento só tende a se fortalecer. Há duas semanas, o Congresso norteamericano aprovou o tratado de livre comércio com o Peru. Em 2004, as vendas para os Estados Unitécnica dos registraram US$ 3,7 bilhões, provocando um superávit de US$ 1,6 bilhão. No ano passado, as exportações chegaram a US$ 5,8 bilhões e o saldo bateu em US$ 2,9 bilhões. ?O acordo vem para coroar uma fase de crescimento que se mostra sustentável?, analisa Eduardo Morón, do Centro de Investigação Econômica da Universidade do Pacífico. ?Não tenho dúvidas que, dentro de nove meses, poderemos desfrutar do grau de investimento concedido pelas agências de risco.? De olho no potencial mercado consumidor ? externo e, principalmente, interno ? o investimento privado cresceu 20,1% no ano passado, alcançando US$ 20 bilhões. É algo como 20% do PIB. A isso se somam os recursos públicos, que aumentam sucessivamente levados pelos recordes de arrecadação. No ano passado, o ?leão peruano? abocanhou 28% a mais, o que permitirá um incremento de 4% a 5% do PIB no financiamento de obras públicas.
INFLAÇÃO 2% A taxa do país de Alan Garcia é a menor da América do Sul
Mas é claro que nem tudo são flores. As diferenças sociais ainda são muito acentuadas. Mcom uma classe média emergente, que cresceu 10% nos últimos cinco anos, o nível de pobreza ainda é alto. Nas áreas rurais, a proporção de pessoas que vivem com o equivalente a US$ 1 por dia subiu de 44% para 46,5% de 2004 a 2006, de acordo com um relatório do Instituto Nacional de Estatísticas. Nas últimas semanas, algumas regiões do país foram tomadas por manifestantes que ainda não compartilham do crescimento econômico que tomou conta de Lima. Os protestos eram diversos, desde a cobrança por estradas pavimentadas e energia elétrica até telefone e água potável.
São problemas de infra-estrutura comuns à região latino-americana, marcada pelo descaso de governos populistas e assistencialistas. ?Temos duas economias diferentes marchando em direções opostas?, filosofa Ismael Muñoz, da Universidade Católica de Lima. ?Ou o governo de Alan García cria uma malha social eficaz, ou veremos o trabalho de ajuste econômico fracassar pela ruptura na sociedade?.