11/01/2012 - 21:00
A morte do fundador da Apple, Steve Jobs, em outubro de 2011, levantou uma série de questionamentos sobre o futuro da empresa de tecnologia que ele fundou na garagem de sua casa, na Califórnia, em 1976, com o amigo Steve Wozniak. Considerado um gênio da inovação, Jobs revolucionou diversas indústrias com seus produtos: computação, música, entretenimento, telefonia celular e mídia. Sem ele no comando, segundo alguns críticos, a Apple perderá a chama da inovação e estará fadada ao fracasso. Para outros analistas, ao contrário, Jobs foi capaz de criar uma cultura que se disseminou para seus principais executivos, como Tim Cook, o atual CEO, e Jonathan Ive, o responsável pelo design das engenhocas tecnológicas.
Tim Cook tem a missão de manter a empresa de Jobs no topo. Mas seu desafio é provar que será
possível criar novos mercados e deixar acesa a chama da inovação.
Dessa forma, o DNA da Apple estaria preservado e, por consequência, seria possível antever um futuro brilhante para a companhia sem Jobs. Se analisada em uma perspectiva histórica, com ou sem Jobs, a Apple está fadada a um lento ocaso, assim como a IBM e a Microsoft. A explicação para isso é o seu modelo de negócios. Jobs, desde o início, sempre controlou todo o processo, do hardware ao software. A história do Macintosh é ilustrativa. Lançado por Jobs em 1984, o Macintosh foi um computador que marcou uma era. O problema é que era facilmente copiado. Tanto que a concorrente Microsoft, um ano depois, lançou o Windows. Ele não era tão bom quanto o produto da Apple. Também não foi em sua primeira versão que os PCs equipados com o software da empresa de Bill Gates se transformaram em um rival à altura para o Macintosh.
Mas em 1990, com o Windows 3.0, a Microsoft criou uma alternativa barata, confiável e que poderia ser usada por todos os fabricantes. O declínio da Apple, nos anos seguintes, foi visível. Em 1997, quando Jobs retornou à companhia, ela estava à beira da falência. As recentes inovações da Apple, como o iPhone e o iPad, seguem o mesmo roteiro do Macintosh. Ambos foram revolucionários e criaram um novo patamar para o mercado. Desde então, os concorrentes correram para fazer algo parecido. E já conseguiram. O Windows para celulares e tablets tem nome: chama-se Android. Não é, então, de se estranhar o que Jobs disse a seu biógrafo, o jornalista americano Walter Isaacson, sobre o sistema do Google: “Vou destruir o Android porque ele é um produto roubado. Vou mover uma guerra termonuclear.”
Os números demonstram que, pelo menos em celulares, a Apple já está perdendo a batalha. No primeiro trimestre de 2011, o iOS, que equipa o iPhone, detinha uma participação de mercado de 16,8%, segundo a consultoria americana Gartner. No terceiro trimestre deste ano, essa fatia havia caído para 15%. O Android, por sua vez, havia crescido de 36% para 52,5% no mesmo período. A história se repete, a primeira vez como tragédia e a segunda como farsa, escreveu o filósofo alemão Karl Marx, em sua obra O 18 Brumário de Luis Bonaparte. Caberá aos executivos da Apple, em especial a Tim Cook, provar que será possível criar novos mercados. Especula-se muito sobre a entrada da companhia na área de tevês, um projeto que Jobs teria deixado pronto antes de morrer. Será preciso cativar os milhões de fãs ao redor do mundo para manter acesa a aura de inovação da companhia. Do contrário, muitos irão abandoná-la por alternativas tão boas e mais baratas.