DINHEIRO ? Qual é o motivo da sua visita ao Brasil?
George Muñoz ? O Brasil tem uma das principais forças na economia da América Latina. É uma economia muito importante e está tomando decisões adequadas para atrair mais investidores, tanto os internacionais como os locais. A Opic é uma agência do governo americano cuja missão é trazer investimentos privados para países que tenham importância para os Estados Unidos. Nós temos um sucesso muito grande por aqui. O Brasil representa o maior investimento individual do nosso portfólio. Do total de US$ 18,5 bilhões de investimentos em curso, cerca de US$ 2 bilhões são para o Brasil. Até hoje já foram investidos em ativos US$ 2,9 bilhões. Há uma expectativa de que sejam criados por aqui quase 55 mil empregos graças aos projetos da Opic. No nosso encontro na última terça-feira, em Brasília, com os ministros Rodolfo Tourinho, das Minas e Energia, e Pedro Malan, da Fazenda, mostramos os 82 projetos de companhias americanas que têm interesse de investir no Brasil. São projetos que chegaram até nós e que poderão representar recursos de US$ 24 bilhões. Eles variam desde a área de infra-estrutura até fundos de investimento. Claro que ao mesmo tempo que estão buscando oportunidades no Brasil, certamente os investidores estão de olho em outras partes do mundo.

DINHEIRO ? O sr. pode dar mais detalhes sobre esses projetos para o Brasil?
MUÑOZ ? Eles envolvem uma gama enorme de setores, como projetos grandes na área de infra-estrutura e eletricidade, por exemplo, ou ainda em telecomunicações, hotelaria, construção civil, e até projetos menores em setores como alimentação, serviços financeiros. A atividade da Opic é justamente dar uma confiança a esses investidores sobre as condições de cada mercado.

DINHEIRO ? Quais são os projetos mais recentes que a Opic intermediou para o Brasil?
MUÑOZ ? Posso citar alguns exemplos, como o da AES Corporation, que investiu US$ 115 milhões, o do Citibank, que colocou US$ 55 milhões, o da Enron Corp., que desembolsou até agora US$ 52 milhões e o da El Camino, de leasing, com US$ 1,4 milhão. São setores bem diferentes e empresas de porte bem variado, que vão desde franquias até companhias do setor de energia e serviços financeiros.

DINHEIRO ? Qual é a participação da Opic nesses processos?
MUÑOZ ? Os investidores privados vêm até nós à procura das facilidades que podemos dar. Há casos em que a Opic se encarrega de emprestar o dinheiro ou ainda faz uma espécie de seguro que proteja o investidor de possíveis riscos. Às vezes os investimentos que são feitos aqui são 100% brasileiros e o que eles querem é emprestar dinheiro no mercado de capitais. Também podemos participar fazendo o seguro desses recursos.

DINHEIRO ? Uma empresa brasileira que queira aumentar seus investimentos também pode recorrer à Opic ou apenas as americanas têm acesso a esses serviços?
MUÑOZ ? Uma companhia do Brasil pode buscar dinheiro no mercado de capitais e nos procurar para fazer um seguro. Outra maneira de ter a nossa ajuda é ter um sócio americano, que pode ser uma empresa ou um private equity (fundo de participação de empresas). Nós trabalhamos com alguns desses fundos e os ajudamos a encontrar oportunidades em mais de 100 países. Queremos dizer que existe acesso a dinheiro e que a Agência Federal Americana quer ver mais investimentos no Brasil. Pelo que percebemos no discurso do presidente Fernando Henrique Cardoso, existe a intenção de tornar mais fácil a vida dos investidores estrangeiros por aqui.

DINHEIRO ? Como anda a avaliação dos investidores estrangeiros no Brasil?
MUÑOZ ? Todos os países passam por períodos bons ou difíceis. Posso dizer que o Brasil passou bem por seus momentos de dificuldade. É um país forte e o presidente Cardoso continua a estimular as reformas que nós julgamos serem importantes para atrair investidores. O risco do Brasil hoje é considerado aceitável.
DINHEIRO ? É difícil convencer um investidor americano a colocar dinheiro por aqui?
MUÑOZ ? Não. A economia americana está muito forte e isso pode ajudar o Brasil porque há mais dinheiro e os investidores também têm de buscar oportunidades de crescimento fora dos Estados Unidos.

DINHEIRO ? Teremos mais investimentos no ano que vem?
MUÑOZ ? O Brasil está num caminho positivo, mas as coisas podem mudar. Não é nenhuma novidade que muitos países são impactados por fatores externos. E vocês têm aqui do lado um vizinho chamado Argentina que no momento está passando por dificuldades…

DINHEIRO ? Nós vamos sofrer com a Argentina?
MUÑOZ ? Quando o Brasil passou por problemas a Argentina teve de compartilhá-los também. O Brasil tem uma economia mais forte e os choques externos não deverão ter impactos tão grandes. Por isso, vai continuar a atrair cada vez mais dinheiro. Não há dúvidas de que a situação por aqui está sob controle e os investidores querem encontrar mais facilidades para colocar dinheiro aqui.

DINHEIRO ? Qual é o nosso grande competidor na preferência dos investidores?
MUÑOZ ? O grande concorrente não está na América Latina, mas na Ásia e no Leste Europeu. Com a globalização dos negócios, os maiores competidores não estão perto de você, mas em qualquer parte do mundo. Acho que o Brasil deve ficar bem atento ao que os outros países andam fazendo.

DINHEIRO ? Temos conseguido uma boa participação até agora nesse processo de globalização?
MUÑOZ ? O Brasil é um país com condições ideais para estar num processo globalizado, porque está buscando investidores que queiram oportunidades de negócio para ajudar a crescer. Vocês podem falar aqui outras línguas de jeito bem melhor do que os americanos, entendem melhor outras culturas, como a italiana, a espanhola. Tudo isso representa vantagens competitivas num momento de integração das economias.

DINHEIRO ? Quais são as vantagens da globalização?
MUÑOZ ? A globalização, por exemplo, aumenta o valor do que é feito no Brasil na hora da exportação de mercadorias e serviços. Também estão cada vez melhores as condições físicas e econômicas para ter esses produtos e serviços no mercado internacional, com custos mais baixos por causa de transporte e comunicação. Além disso, a globalização força as pessoas a verem exatamente o que são em comparação a outras comunidades e outras nações. Isso determina o que elas devem fazer para ter sucesso ou não. Um processo como esse força investimentos onde às vezes não ocorreria, inclusive em áreas fundamentais, como educação.

DINHEIRO ? Mas a globalização também traz algumas desvantagens, o sr. não acha?
MUÑOZ ? O mundo está mudando muito depressa e os competidores não estão aí do lado, na próxima porta, mas em qualquer lugar do mundo. Tudo o que o Brasil está produzindo para o mercado interno ou para exportar tem de ser muito bom, mais barato e de qualidade para poder competir. O problema é que o Brasil não tem investido em modernização e pode ser prejudicando por isso. A globalização pune as comunidades que não tenham um alto nível de treinamento e educação em tecnologia. E se você não tem isso, vai sofrer conseqüências sérias, como não ter bons empregos.

DINHEIRO ? E esse é o nosso caso?
MUÑOZ ? Esse é o caso de 90% da população mundial até agora, porque a globalização é um processo que apenas começou e deverá chegar a um momento de consolidação nos próximos cinco a dez anos. Assim os governos dos países precisam acordar e investir, principalmente em educação. Já à iniciativa privada cabe investir na construção de aeroportos ou colocar dinheiro nos setores de energia ou telecomunicações. Ao governo cabe colocar dinheiro onde as empresas não colocam, como habitação e educação para os pobres.

DINHEIRO ? O que o Brasil pode esperar de novo na relação com os Estados Unidos após as eleições americanas?
MUÑOZ ? Estou feliz com o fato de muitos americanos terem participado das eleições deste ano, o que é sinal de que essas pessoas querem ser ouvidas. Qualquer que seja o próximo presidente dos EUA, tanto o vice-presidente Gore como o governador Bush, vai ter uma atitude com o Brasil muito semelhante, por exemplo, em relação ao livre comércio nas Américas. Os dois candidatos expressaram a importância de estreitar relações com o Brasil e com o resto do hemisfério e trabalham para adotar o livre comércio na região.

DINHEIRO ? E o que podemos esperar nas relações entre os EUA e o Mercosul?
MUÑOZ ? A boa notícia é que quando o novo presidente dos EUA assumir em janeiro do ano que vem, veremos que em alguns meses deve começar a colocar em prática algumas prioridades, e o Mercosul será uma delas, através do trabalho para melhorar a integração do nosso hemisfério e tornar o livre comércio algo viável. Todos os acordos que facilitarem a abertura comercial entre os países da região ou que ajudarem a criar um clima internacional de crescimento da relação entre os parceiros comerciais terão o suporte do governo americano.

DINHEIRO ? Podemos realmente esperar por novidades com a posse do novo presidente? O futuro do Mercosul será a Alca?
MUÑOZ ? O que posso dizer é que os Estados Unidos vão dar suporte ao Mercosul. E o Brasil também está trabalhando para isso, não se trata de uma afirmação inconsistente. As facilidades para os investimentos estrangeiros são uma prova disso, o que mostra que as pessoas estão vendo as vantagens dessa abertura em relação ao comércio como era feito originalmente.