04/04/2014 - 21:00
Cidadão brasileiro nascido em Taiwan, o empresário Liu Ming Chung tem uma relação profunda com o Brasil. Com uma fortuna estimada em US$ 1 bilhão, ele preside a Nine Dragons, maior fabricante de embalagens da China, que tem como clientes a Sony e a Nike. Mas é do Brasil que sai grande parte dos insumos que abastecem a sua indústria. “Usamos celulose de eucalipto, algo que o Brasil produz cada vez mais”, diz Chung. A demanda da Nike e de outras empresas chinesas cresceu 13,8% em 2013. O Brasil exportou 173 mil toneladas, no valor de US$ 1,5 bilhão, para a China, que já é o segundo principal destino da celulose brasileira, perdendo só para a Europa.
Made for China: unidade da Suzano Papel e Celulose, em São Paulo:
demanda chinesa impulsiona vendas
Esse mercado aquecido proporciona uma oportunidade para o investidor. As ações vêm sendo negociadas abaixo de seu valor patrimonial – na média, os papéis do setor estão cotados a 89% do valor contábil, ante os 120% do mercado. No entanto, o investidor que quiser colocar em carteira alguns desses papéis tem de ser paciente, pois os preços da celulose são cíclicos. Eles estão em alta. No fim de março, a tonelada no mercado internacional estava cotada em US$ 909, alta de 7,7% ante os US$ 844 do início de 2013. Isso motiva os investimentos das empresas na produção, o que, no longo prazo, aumenta a oferta e derruba as cotações.
Não por acaso, as empresas anunciaram investimentos pesados nas últimas semanas. Juntas, companhias abertas ligadas à produção florestal, como Fibria, Suzano, Klabin, Celulose Irani e Duratex, além da Eldorado Brasil, do grupo J&F, de capital fechado, vão investir cerca de R$ 21 bilhões nos próximos três anos. Os números são vistosos. A Suzano inaugurou, no dia 20 de março, uma fábrica de celulose em Imperatriz, no Maranhão. Com investimentos de R$ 6,7 bilhões, a nova unidade vai elevar a capacidade de produção da companhia para 4,4 milhões de toneladas anuais e lhe dará o posto de segunda maior produtora do mundo “Também vamos elevar nossos investimentos na expansão florestal da região”, disse Walter Schalka, presidente da Suzano, na inauguração.
Walter Schalka, presidente da Suzano: “Nossa expansão também
consiste no aumento de área florestal”
Primeira colocada do ranking mundial, a Fibria, do grupo Votorantim, também estuda investir R$ 5,8 bilhões em uma fábrica em Três Lagoas, que deve aumentar sua capacidade em 1,7 milhão de toneladas, ante os 5,2 milhões de toneladas produzidos em 2013. “Acreditamos que, caso os fundamentos atuais se mantenham, uma boa janela para a entrada em operação da nova linha ocorreria em 2016”, diz Guilherme Cavalcanti, diretor de RI da Fibria. Outras empresas ligadas indiretamente ao setor também estão aproveitando o bom momento. A Duratex anunciou, no início de março, investimentos de R$ 1,3 bilhão para ampliar em 34% sua capacidade de produção.
A Klabin, número 1 do mercado de embalagens cartonadas, já captou R$ 1,7 bilhão dos R$ 6,8 bilhões necessários para colocar de pé um complexo industrial na cidade de Ortigueira, no interior no Paraná. “Será uma das principais motivações da empresa para 2014”, disse Fábio Schvartsman, CEO da Klabin, em janeiro. Se tiver pressa, a recomendação são os papéis das empresas que já finalizaram os projetos ou que têm capacidade de atender à demanda que está por vir, como Suzano e Fibria, cujas ações subiram 27,7% e 16,4%, respectivamente.
“A Suzano ainda está endividada, mas a nova fábrica lhe permitirá atender à demanda, e a Fibria vai ampliar muito sua capacidade de produção”, diz Victor Penna, analista da BB Investimentos. No médio prazo, as empresas que ainda não apresentam bons resultados devem virar a página. É o caso da Klabin, que recuou 10,3% em 12 meses, mas tem boas perspectivas. “A empresa está investindo em um segmento novo, o de celulose longa, que ninguém produz no Brasil”, afirma Sandra Peres, analista da Coinvalores. “Além disso, as ações devem começar a refletir os ganhos provenientes do aumento da demanda de bebidas no mercado doméstico.”
