O brilho do ouro tem oscilado muito nos últimos tempos. As cotações no mercado internacional subiram 60,2% entre a crise de 2008 e o fim de 2011, turbinadas pelo aumento da liquidez e pela aversão ao risco que tomou conta dos investidores. Desde então, porém, o preço do metal vem recuando. Na terça-feira 28, a onça-troy (31,1 gramas) negociada em Nova York fechou a US$ 1.203, uma queda acumulada de 35,6% em relação ao pico pós-crise. Só neste ano, a baixa é de 7%. No entanto, esse mau humor não chegou ao Brasil. No ano, a alta do dólar ante o real e a perspectiva de fortalecimento da moeda americana comparada às de outros países fizeram o grama do ouro, negociado na BM&FBovespa, avançar 10,5%.

Ainda dá para especular, apostando em novas altas do metal?Para quem conhece o mercado, a resposta é positiva. A ideia é de que vale a pena arriscar um pouco nesse mercado volátil e sujeito a flutuações abruptas, pois o ouro deverá continuar acompanhando, com folga, a variação do dólar. Lá fora, as perspectivas são de novas quedas. Um levantamento divulgado no fim de março pelo World Gold Council, entidade internacional que representa o setor, mostra a correlação estreita entre o metal e as taxas de câmbio americanas. Baseados em dados colhidos entre janeiro de 1973 e dezembro de 2014, os pesquisadores concluíram que o ouro subiu 14,9%, em média, nos anos em que a moeda americana recuou.

Nos anos em que o dólar se fortaleceu, como parece ser o caso de 2015, a queda média das cotações do metal foi de 6,5%. Outro fator que deverá pressionar os preços internacionais para baixo são os juros americanos. A pesquisa demonstrou a forte influência da política monetária: nos anos de juros reais negativos, a commodity teve rentabilidade de 17%, ao passo que, em períodos de taxas moderadas (de até 4% ao ano), o retorno foi de 6,3%. Suki Cooper, diretor de pesquisa de metais preciosos do banco inglês Barclays, um dos grandes participantes desse mercado, avalia que ainda há espaço para novas baixas.

Para o especialista, o preço deve chegar a US$ 1.180 a onça no fim de 2015, uma queda de 3,7%, ante os US$ 1.225 de dezembro de 2014. Entre os motivos para o pessimismo, está a recuperação econômica dos Estados Unidos e o fato de os países da Ásia ainda não terem retomado a demanda pelo metal. “A cotação só deve se recuperar quando países como Índia, China e Rússia, que são compradores finais de ouro, sinalizarem um aumento na demanda”, avalia Cooper. Larry Fink, presidente da BlackRock, gestora que administra US$ 4,6 trilhões no mundo, também diz que o ouro deve perder atratividade junto aos investidores.

“Historicamente, o metal foi um grande instrumento para preservar a riqueza no longo prazo, mas está perdendo espaço para a arte contemporânea e os imóveis”, afirmou ele à agência americana Bloomberg. Se, no exterior, o momento não é bom para o investimento no metal, no Brasil, a história é outra. Desde o ano passado, a valorização do dólar vem puxando a cotação do ouro, e esse movimento ainda não se encerrou, avalia Edson Magalhães, analista da Reserva Metais. Até a terça-feira 28, a moeda americana apreciou-se 9% em relação ao real, quando fechou a R$ 2,98, abaixo da máxima de R$ 3,26, registrada em 30 de março. E o câmbio não deve parar por aí.

Segundo a edição mais recente do boletim Focus, a expectativa do mercado é que a moeda americana encerre 2015 a R$ 3,20. Tudo isso aumenta o brilho do ouro. “Em março, tivemos um crescimento de 300% na demanda, em função das perspectivas da alta do dólar e, mesmo com uma queda momentânea da moeda, até o fim do ano o cenário é muito positivo”, diz Magalhães. O aumento da procura pelo metal também é alimentado pela percepção de que a situação econômica do País pode piorar, acredita Pedro Paulo Silveira, economista-chefe da corretora TOV. “Quando existe um cenário de incerteza, as pessoas ainda costumam correr para o ouro”, diz.

Silveira também recomenda a compra do metal como forma de proteção, mas em pequenas quantidades e considerando o uso de outros ativos para hedge. Há outros canais para investir, além da BM&FBovespa. É possível negociar contratos ligados ao metal no mercado de balcão e investir em fundos que possuem o ativo em carteira. É o caso do XP Capital Protegido IX, da XP Gestão. Criado em janeiro, o fundo pretende garantir uma rentabilidade equivalente a 118% da alta do principal fundo de ouro do mundo, o SPDR Gold Shares. “Esse fundo é uma forma de proporcionar segurança a um investidor com pouca cultura de investir em ativos internacionais e também em ouro”, diz Bernardo Ferreira, da XP.

Sempre é bom lembrar que o ouro é um investimento de altíssimo risco. É um mercado pequeno: nos últimos dez anos, a média mensal negociada na BM&FBovespa foi de apenas US$ 10,9 milhões, o que torna as cotações sujeitas a fortes solavancos de um dia para o outro ou mesmo ao longo de um só pregão. Outra dificuldade é que, com uma liquidez tão baixa, o investidor terá dificuldade para se desfazer de uma posição grande se tiver de fazê-lo em pouco tempo. Tudo isso é bem conhecido para o contador paranaense Juarez de Oliveira. Sua relação com o metal precioso vem da década de 1980, quando viajou 2.140 quilômetros de sua cidade natal, Uraí, até Alta Floresta, no Mato Grosso.

A região vivia a era do garimpo, e ele chegou a fazer muitos negócios com um jovem empreendedor, um certo Eike Batista. “Vivíamos no garimpo e vendíamos o que era coletado para as grandes empresas”, afirma Oliveira. Percebendo o potencial do negócio, o empresário decidiu se tornar concorrente de Batista e fundou, em 1983, a Ourominas Comércio de Ouro. Sete anos mais tarde, desembarcou em São Paulo, adquiriu a empresa Faria Fraga e passou a negociar ouro como ativo financeiro. Hoje, à frente do Grupo Ourominas, Oliveira não só continua no ramo, como mantém parte considerável de seu patrimônio – não revelado – investida em contratos negociados na BM&FBovespa. “É um investimento que deve ser visto como um bem e não como um ativo de especulação.”