O FRANCÊS BERNARD Arnault, 59 anos, maior acionista do conglomerado Louis Vuitton Moët Henessy (LVMH), foi o precursor de um movimento que transformou o negócio do luxo em uma indústria extremamente lucrativa. Filho do proprietário de uma construtora de médio porte localizada em Lille, noroeste da França, Arnault tomou US$ 15 milhões emprestados da família e comprou a Christian Dior, uma grife que estava com a imagem apagada, em 1985. A partir daí, não parou mais. Louis Vuitton, Moët Chandon, Givenchy, Guerlain, Kenzo, Fendi, TAG Heuer e outras 50 grifes passaram para os seus domínios – todas debaixo de um único guarda- chuva. A lógica de Arnault é simples: as maisons, antes familiares, ganham poder de barganha. Continuam independentes na criação, mas, juntas, as marcas conseguem negociar contratos com fornecedores, empréstimos com bancos e descontos em publicidade. Dessa forma, investindo em luxo, ele ergueu um império que faturou 16,48 bilhões de euros e lucrou 3,55 bilhões de euros em 2007. É por isso que os últimos passos do homem mais rico da França, dono de uma fortuna de US$ 25,5 bilhões, têm sido acompanhados com atenção. Em menos de dois anos, Arnault criou uma empresa de investimentos chamada Groupe Arnault e passou a comprar vorazmente companhias que fogem do luxo.

 

Em sociedade com o Colony Capital, abocanhou uma participação de 9,8% na rede varejista Carrefour por 3,5 bilhões de euros. Depois, adquiriu a operadora de turismo Go Voyages, do grupo Accor, por 281 milhões de euros; levou o principal jornal de economia da França, o Les Echos, por 240 milhões de euros; e se uniu ao bilionário Paul Allen, co-fundador da Microsoft, e comprou a corretora de investimentos na internet Datek Online, que administra US$ 7 bilhões de 250 mil clientes. Mais: assumiu o controle do site iCollector.com, que organiza leilões na internet; comprou o site BOO.com, que vende roupas esportivas pela web; e avançou sobre o site libertysurf.com, um portal que fornece acesso à internet. “Nos últimos meses, o Groupe Arnault emergiu como o mais ativo investidor de empresas na internet na Europa e nos Estados Unidos”, disse à DINHEIRO, Armando Branchini, professor de gestão de moda da Universidade de Bocconi, de Milão, e presidente do conselho da italiana Intercorporate, uma das principais consultorias de luxo da Europa. Na semana passada, ele comprou mais uma empresa – longe da internet. Arnault anunciou a aquisição do maior estaleiro de iates de luxo da Europa, o Princess Yacht, por 393,3 milhões de euros.

A compra do estaleiro ainda está sujeita a aprovação. O negócio sairá depois de passar pelo crivo das leis antitruste na Inglaterra. Se tudo correr como Arnault planeja, ele desbravará um mercado desconhecido, nunca navegado. “Não poderíamos ter achado melhor comprador”, disse David King, fundador da Princess e presidente do conselho da empresa. “Esta parceria trará muitas oportunidades para a Princess.” Dessa união, especulam analistas, pode surgir o que no mundo do marketing é chamado de co-brand, a junção de duas marcas consagradas para impulsionar as vendas de um determinado produto. Daí, por exemplo, sairia um iate assinado por Louis Vuitton, Christian Dior ou Fendi. A rigor, é um casamento que pode trazer muitos benefícios no balanço financeiro da empresa e tem, de certa forma, a ver com o universo do luxo, o principal negócio do LVMH. O que o mercado tem se perguntado com freqüência é o que Arnault faz em empresas que nada têm a ver com o universo do luxo.

No Carrefour, o bilionário comprou uma participação de 9,8%, tornando-se o maior acionista da empresa. Pelas leis francesas, Arnault não precisa dar explicações sobre os seus planos, uma vez que o governo exige transparência quando a participação em qualquer empresa de capital aberto ultrapassa 10%. Apesar de não dizer ainda a que veio, há uma pista. O Carrefour possui um ativo imobiliário de seis milhões de metros quadrados. Deste total, 80% estão na Europa e o restante na América Latina. Essas propriedades estão avaliadas em US$ 26 bilhões e o interesse de Arnault seria negociá-las na Bolsa de Valores como uma empresa independente. No Les Echos, comprado do grupo britânico Pearson, em novembro de 2007, Arnault defende que o seu único interesse é fazer o jornal crescer e obter mais lucros. Os funcionários do jornal econômico mais influente da França dizem o contrário. Temem que o rei do luxo, dono de empresas que são temas de reportagens, tente influenciar na linha editorial. E, no fundo, isso deverá acontecer. “Arnault quer controlar uma importante parte do negócio da informação na França”, diz Branchini. “Primeiro porque ele é o homem mais rico da França e, segundo, porque o setor de mídia é um bom investimento.” Para sinalizar que não cederão a qualquer tipo de pressão, os jornalistas do Les Echos fizeram dois dias de greve logo após o anúncio da venda para Arnault. Para o homem que transformou US$ 15 milhões em US$ 25,5 bilhões em apenas 23 anos, não é nada pessoal. Somente negócios.