27/09/2006 - 7:00
Emilio Carazzai vive uma situação curiosa em sua volta ao mercado financeiro. Ex-presidente da Caixa Econômica Federal, segundo maior banco do País, ele acaba de assumir o comando do modesto Banco Pine, instituição ?de nicho?, tradicionalmente especializada em financiamento a médias empresas. É mais ou menos como um general de brigada (eram 56 mil funcionários sob suas ordens na CEF) liderando um pelotão ligeiro (são 250 homens no Pine). ?Eu acho este desafio maior?, diz Carazzai. ?A agenda do banco não é muito diferente da que tínhamos na Caixa, mas os recursos são incomparavelmente menores?, compara. Há apenas três semanas, o executivo assumiu o cargo ? criado especialmente para ele ? de diretor-geral do Pine. ?O convite que recebi está ligado a um projeto maior, que garantirá a perpetuação do banco?, diz. Carazzai fala em práticas de governança corporativa, aperfeiçoamento de sistemas e controles e de uma ?gestão mais técnica e robusta?. O mercado resume tudo a três letras: IPO, a sigla em inglês para abertura de capital. Mas o tema é delicado, e o executivo pede cautela. ?Esta será uma das alternativas viáveis em algum momento, no futuro?, diz. ?Não é uma decisão tomada e não tem data para ocorrer. Mas vai estar na tela do radar o tempo todo.?
Fundado há menos de 10 anos, o Banco Pine é uma instituição tipicamente familiar. Nasceu de uma dissidência no clã cearense Pinheiro, atuante nas finanças nacionais desde 1939, quando criou o Banco BMC, em Fortaleza. Em 1997, os irmãos Nelson e Noberto venderam a participação que tinham no BMC e montaram o Pine (Pinheiro, em inglês). Em sua curta história, o Pine especializou-se no ramo de crédito a empresas de médio porte (o chamado middle market). Desde o ano passado, porém ? quando Noberto comprou a participação de Nelson e tornou-se acionista majoritário ?, o banco vem acelerando um processo de diversificação movido a captações de novos recursos.
Em maio de 2005, lançou com sucesso a primeira parcela de um fundo de recebíveis, no valor de R$ 100 milhões. Seguiu-se a ela uma captação de R$ 40 milhões no mercado doméstico. No momento, existem duas outras operações em andamento, que podem chegar a US$ 150 milhões, nos mercados europeu e asiático. Com os recursos captados na praça, o banco entrou, por exemplo, no ramo do financiamento ao comércio exterior: R$ 60 milhões emprestados desde o início das operações, no segundo trimestre deste ano. E turbinou a carteira de crédito consignado (R$ 113 milhões em junho). ?Assim como outros bancos, o Pine aproveitou a onda do consignado para diversificar. A diferença é que várias instituições ficaram dependentes desse tipo de empréstimo, e o Pine não?, avalia Cláudio Gallina, analista da agência de classificação de risco Fitch Ratings. Ou, como diz Erivelto Rodrigues, sócio-diretor da Austin Rating, ?eles tiraram uma casquinha do consignado, mas não vão deixar que ele se torne maior do que o crédito comercial, que é o que fazem melhor?.
Em entrevista à DINHEIRO, Noberto Pinheiro, o controlador do Pine, esclarece que a contratação de Carazzai é muito mais uma ?demonstração de transparência ao mercado? do que um gesto na direção de uma mudança de estratégia. Para abrir o capital? ?Idealmente sim, mas é bom lembrar que não há nenhum banco pequeno ou médio na bolsa brasileira?, pondera. ?Para chegar lá, temos antes que convencer o investidor de que será bom negócio comprar ações do Pine.? Carazzai está aí para isso.