05/01/2011 - 21:00
A partir de 1º de janeiro, Luiz Inácio Lula da Silva será o desempregado mais feliz do Brasil. Na Presidência da República, ele realizou o sonho do operário que virou líder sindical: um país onde quem procura emprego encontra e onde as empresas têm dificuldade em contratar certos profissionais. É a era do pleno emprego, evidenciada pelo índice de 5,7% de desemprego apurado em novembro pelo IBGE, o menor da história do País. Mais do que uma simples estatística, esse recorde afeta a vida de milhões de pessoas e empresas e levanta novos desafios para os próximos anos.
O crescimento econômico impulsionou a geracão de postos de trabalho em todos os setores produtivos.
Hoje, o País tem índices melhores que os Estados Unidos e a Europa e sobram vagas em todas as regiões
Vamos aos números. No mês passado, a população desocupada era de 1,3 milhão de pessoas, o menor contingente desde o início da série, com queda de 20% em relação a novembro do ano passado.
Na média de 2010, o desemprego deve ficar em 6,8% e, em 2011, pode cair para 6%. Nos oito anos do governo Lula, foram criados 15 milhões de vagas com carteira assinada, o que elevou para 43,6 milhões o número de trabalhadores no mercado formal.
Daí a felicidade de Lula. “Eu fui dirigente sindical muito tempo, eu briguei muito tempo contra o desemprego”, afirmou na semana passada, no programa de rádio Café com o Presidente.
“Quando eu vejo o IBGE divulgar que o desemprego está em 5,7% e, em algumas capitais, como Porto Alegre, está em 3,7%, significa que nós estamos nos padrões de pleno emprego, que era considerado para os países europeus e para os Estados Unidos. Isso é uma coisa extraordinária”, completou o presidente.
Quando ele assumiu o governo, em janeiro de 2003, o índice de desemprego calculado pelo IBGE em seis capitais estava em 11,2% e chegou a 13% poucos meses depois. Naquele ano, foram criados apenas 645 mil empregos, insuficientes para atender os jovens que entram no mercado de trabalho.
Mas os números foram melhorando aos poucos, e os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho mostravam que as contratações ganhavam fôlego. Este ano, ficaram para trás todos os vestígios da crise de 2008 e 2009, que custaram empregos especialmente em alguns segmentos da indústria.
Foram criados 2,5 milhões de novos postos de trabalho em 2010, quase sete mil por dia. Em São Paulo, o tempo médio para conseguir uma nova colocação caiu de 12 meses em 2003 para oito meses este ano, segundo pesquisa do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Sócio-Econômico (Dieese).
Em suma, houve uma revolução no mercado de trabalho nos oito anos do governo Lula. “O primeiro mandato ainda teve resquícios da crise de 2002, mas o segundo mandato, mesmo com a crise de 2009, teve um resultado excelente para o emprego”, diz o diretor-adjunto de estudos macroeconômicos do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Renaut Michel.
Para ele, três fatores foram fundamentais para chegar a este resultado: o crescimento da economia, política de aumento real do salário mínimo e as políticas sociais, que aumentaram a demanda.
A maior confiança na economia também levou à maior formalização do mercado de trabalho. A proporção dos que trabalham com carteira assinada passou de 40,5% para 46,7% entre 2002 e 2010. É um sinal de confiança na economia. Outro é a pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI), mostrando que 92% das empresas do setor planejam investir em 2011. Além de comprar máquinas e equipamentos, terão também que contratar.
O setor criou 2,2 milhões de vagas nos últimos anos e acha que a tendência vai se manter. “O emprego industrial perdeu um pouco o ritmo nos últimos meses, mas vai continuar melhorando no próximo ano”, afirma o diretor do Departamento de Economia da CNI, Flavio Castelo Branco. A entidade estima que o índice geral de desemprego deve cair dos atuais 6,8% para 6%.
Todos os setores da economia ampliaram o nível de emprego nos últimos anos, mas alguns tiveram crescimento acima da média. É o caso da construção civil, que, depois de um período de demissões no início do governo, começou a contratar em 2004 e fecha os oito anos de mandato de Lula com um saldo de mais um milhão de vagas criadas.
“O governo escolheu o setor da construção como o motor da economia”, comemora o presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), Paulo Safady Simão.
Entre os incentivos do governo estão os subsídios para o comprador de baixa renda no programa Minha Casa Minha Vida e a redução dos impostos sobre materiais de construção, no fim de 2008.
Mas Simão lembra que o setor também cresceu por causa de outros fatores, como a mudança do marco regulatório do setor, que permitiu que as empresas se capitalizassem na bolsa de valores e criou instrumentos como alienação fiduciária para os imóveis financiados.
Outro setor beneficiado pelas políticas do governo é a indústria naval. A obrigatoriedade de conteúdo mínimo nacional para as embarcações da Petrobras ajudou a reativar um setor que havia praticamente acabado no País nos anos 90. Nos cálculos do Sindinaval, que reúne as empresas do setor, o número de empregos nos estaleiros aumentou de 7,5 mil em 2003 para 56 mil neste ano.
A expansão do emprego trouxe também o aumento da renda do trabalhador e, com ele, mais consumo e a criação de mais empregos. Na média, diz o ministro do Trabalho Carlos Lupi, os acordos coletivos conseguiram um ganho 26% acima da inflação nos últimos oito anos.
O salário mínimo, segundo ele, teve aumento real de 73,7% neste período. Ele reclama que muitos superdimensionam a importância dos programas sociais para a melhoria de vida dos brasileiros. “Foi a política do salário mínimo que fez a inclusão social”, afirma o ministro.
“Foi isso que fez o mercado brasileiro crescer e se tornar alvo da cobiça mundial.” Na média, o rendimento médio real do trabalhador passou de R$ 1.380,40 em novembro de 2002 para R$ 1.516,70 em novembro deste ano. Em locais que estão crescendo mais, como o Recife, que vive um boom de investimentos no complexo industrial de Suape, a renda média aumentou 32,7% nos últimos 12 meses.
Mas o pleno emprego também traz desafios. O principal deles é treinar a mão de obra para evitar uma situação em que se tem desempregados sem qualificação de um lado e vagas não preenchidas nas empresas de outro.
“A presidente Dilma já pediu que a nossa prioridade seja a qualificação dos beneficiários do Bolsa Família”, afirmou. O setor de construção civil, em que os salários subiram 17% apenas nos últimos 12 meses, já vive o problema.
“Já estamos importando engenheiros e mestres de obras de outros países”, conta Simão. No Ministério do Trabalho, o plano é qualificar um milhão de pessoas até 2014. Mas até agora apenas 135 mil já concluíram ou ainda estão frequentando os cursos.