12/10/2013 - 7:00
Mais do que isso, vão confrontar o Brasil antigo – sem leis que inibam crimes covardes contra líderes comunitários que defendem a preservação de florestas, como Chico Mendes, o conterrâneo e mentor da líder da Rede Sustentabilidade assassinado em 1988 – com o Brasil novo, onde já é possível ver empresários engajados em movimentos por uma economia sustentável. O assunto contempla, ainda, o papel dos índios num país que clama por desenvolvimento econômico. Hoje, as comunidades indígenas lutam com recursos limitados pela preservação de seus espaços e da sua cultura, diante de um mundo tão distante da pureza que foi possível resguardar desde o descobrimento do País, em 1500. São cerca de 817 mil índios, segundo o Censo de 2010, a maioria com hábitos e valores completamente distantes dos centros urbanos..
O tempo que as comunidades indígenas seguem não é o mesmo
dos relatórios trimestrais do mundo capitalista
Como é possível conceber que populações sem emprego formal, sem lenço e sem documento, possam requerer direitos, apenas por existir e sem contribuir, em tese, com a construção do PIB nacional? O estranhamento ficou patente na semana passada, durante o discurso feito na tribuna da Câmara pelo deputado Alceu Moreira (PMDB-RS), quando questionava o adiamento do debate e a transferência de poder de demarcação de terras indígenas do Executivo para o Legislativo. “Meia dúzia de índios e alguns vagabundos pintados conseguiram por meio de baderna impedir a criação da comissão para debater o tema”, reclamou Moreira. A baderna a que ele se referia eram os protestos feitos em Brasília, no início do mês, por índios que exigiram de deputados que não transferissem para o Congresso as decisões sobre a demarcação atualmente a cargo da Funai.
É difícil compreender uma realidade paralela para o Brasil urbano. As comunidades das florestas sobrevivem de outra forma. As populações se alimentam do que o ambiente lhes proporciona, cultivam a espiritualidade contemplando a natureza e buscam o equilíbrio em uma relação elementar de troca. É um sistema primitivo aos olhos capitalistas. No entanto, é a essência do que o novo capitalismo procura no mundo, no qual a preservação não é um assunto marginal, mas uma maneira de assegurar as matérias-primas que a atividade econômica requer. Um dos setores mais afetados por esse conflito é o de energia. A necessidade de construir mais hidrelétricas passa pela negociação com essas comunidades. Porém, os debates sempre ganham uma carga emocional.
Feliz ou infelizmente, não há atalho para resolver essa questão, pois não se pode menosprezar mais de 800 mil habitantes que se guiam mais pelo instinto do que pelo poder econômico. Mesmo sem armas e sem dinheiro, sua obstinação tem obrigado o “homem branco” a recuar em suas ambições – vide Belo Monte, que demorou 30 anos para sair do papel por pressões das comunidades locais.
Não será diferente nos demais projetos. Da mesma forma que as empresas investem recursos em inovação para alcançar a excelência, vai ser preciso investir tempo para compreender a lógica desses grupos. Uma coisa é certa. O tempo que eles seguem não é o dos relatórios trimestrais. Só vai avançar em soluções com os índios quem procurar a comunicação pela mesma lógica que eles propõem: encontrar o ponto de equilíbrio para assegurar a troca justa para todos os envolvidos.