26/08/2009 - 7:00
Meirelles, da Estação Resgate: investimento de R$ 2,8 milhões e retorno de 35% sobre o capital
“Materiais inúteis, resultantes de demolição, escombros, ruínas, lixo.” Essas são, segundo o dicionário Aurélio, algumas das definições de “entulho”. Para Gilberto Meirelles, dono da Estação Resgate, porém, outras expressões poderiam ser acrescentadas ao verbete: “matéria-prima e fonte de renda sustentável”. A empresa, instalada na Grande São Paulo, recolhe entulho produzido por construções na região e o transforma em brita, pedriscos e pedras cujo destino é servir novamente como material de construção. Com investimento inicial de R$ 2,8 milhões, a maior parte em terreno e maquinário, a intenção de Meirelles é obter um retorno anual de cerca de 35% sobre o capital. A principal vantagem da Estação Resgate em relação a outras empresas do setor é sua localização. Instalada ao lado de um porto de areia e relativamente próxima do centro de São Paulo, a logística envolvida em sua operação é muito mais simples do que no caso de empresas comuns. Por um lado, entram caminhões cheios de entulho coletado nas construções da cidade. Por outro, os mesmos veículos saem carregados com pedra, brita ou areia para alimentar as próprias construções. “Isso reduz significativamente a emissão de CO2, porque, com apenas uma viagem, é possível realizar duas operações”, diz Meirelles, um dos idealizadores do projeto. “O caminhão de entulho não roda vazio”, acrescenta. Além do ganho ambiental, há uma redução no custo da obra, pois são necessárias menos viagens dos caminhões de abastecimento de materiais.
Segundo a Estação Resgate, a ideia é receber cerca de 200 caçambas de entulho por dia, num total de 810 toneladas. Apenas em São Paulo, são geradas 18 mil toneladas de entulho todos os dias – o que equivale a 500 quilos por ano por habitante da cidade. A proposta da empresa é, portanto, reciclar cerca de 4,5% desse total. O resultado seria uma produção mensal de aproximadamente 20 mil toneladas de itens reciclados, o equivalente a 3,7% dos materiais consumidos pelas construções da cidade de São Paulo em um mês. Isso seria suficiente para que a empresa atingisse sua meta ambiental: ajudar a reduzir as emissões de CO2 em São Paulo em 1,8 mil toneladas por ano. Esse objetivo motivou o Instituto Ethos a incluir a Estação Resgate em sua “Mostra de Tecnologias Sustentáveis”, realizada em junho deste ano.
Segundo Meirelles, a facilidade de acesso e as vantagens logísticas não bastam para que a empresa domine o mercado em São Paulo. A intenção, inclusive, não é essa. “Isso iria contra um dos pontos principais da nossa proposta, que é diminuir o número de viagens de caminhões na cidade”, diz ele. Assim, o ideal seria a criação de uma rede de pequenas e médias unidades de reciclagem como a Estação Resgate, espalhadas por toda a cidade. “Dessa forma, o caminhão não teria que percorrer uma enorme distância entre o canteiro de obras e a estação”, afirma. Segundo ele, um próximo passo para a companhia poderia ser a criação de uma espécie de franquia do conceito. A Estação Resgate entraria com o conhecimento. Os parceiros, com o capital.
Os resultados para os franqueados podem ser bastante significativos, já que a atividade apresenta um baixo custo operacional. Com valor em média 50% inferior ao de materiais “novos”, os itens reciclados pela Estação Resgate têm apelo importante para as construtoras. De acordo com Meirelles, um dos maiores desafios, porém, é demonstrar que a qualidade de seus produtos é tão boa quanto a dos materiais não reciclados. “Desde que utilizado de forma adequada, o material reciclado é tão bom quanto o novo, mas as pessoas tendem a vê-lo como algo de segunda linha”, diz Meirelles. “Isso simplesmente não é verdade, mas é preciso fomentar uma mudança cultural entre os consumidores, para que reconheçam os benefícios do material reciclado”, completa.