Quem diria que um dia o Brasil ofereceria ajuda econômica a Portugal? Pois o Brasil ofereceu. A presidente Dilma avisou ao colega Anibal Cavaco Silva, na semana passada, que pode comprar títulos da dívida portuguesa para tentar amenizar a situação do país europeu, afundado numa crise que mantém o desemprego em dois dígitos. 

Mais um ato generoso da política externa do governo brasileiro, que amplia seus tentáculos para se fazer presente onde for necessário. A prática da boa vizinhança com Portugal também se repete em nações mais pobres. 

 

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Por meio da Agência Brasileira de Cooperação (ABC), ligada ao Ministério das Relações Exteriores, o Brasil vem costurando acordos de cooperação técnica na África, na América Latina e em países pobres da Ásia e Oriente Médio. Acordos que consumiam US$ 1,4 milhão em 2003, demandaram US$ 33,5 milhões em 2010, em parcerias na área de saúde, agricultura, energia, educação, entre outras, com mais de 77 países. 

 

“No passado, o Brasil era foco dos projetos de cooperação”, lembrou o ministro Marco Farani, diretor da ABC. “Agora, é o Brasil que traz ajuda para outras nações.”

 

O novo status brasileiro foi reconhecido na semana passada pelo criador da sigla Bric, o economista Jim O’Neill, presidente da gestora de ativos Goldman Sachs no Reino Unido.  Segundo ele, tanto o Brasil como os demais países que compõem o acrônimo (Rússia, Índia e China) não deveriam mais ser chamados de emergentes. Na opinião de O’Neill, essas nações na verdade já emergiram, saindo de um PIB combinado de US$ 3 trilhões há dez anos, quando criou o termo Bric, para US$ 11 trilhões este ano. 

 

Com a redução dos níveis de pobreza no País, juntamente com a ascensão de uma nova classe média, não é tão dificil concluir que O’Neill está certo. Ainda há enormes problemas ancestrais a solucionar por aqui, como a falta de saneamento básico em grande parte dos Estados. 

 

Mas já não se pode desprezar a nova estatura, ainda mais diante da expectativa de conquistar novas riquezas como o petróleo da camada pré-sal. Tempo de novos desafios e ambições. De um lado, a presidente Dilma precisará falar de igual para igual com China e Estados Unidos nas próximas semanas para defender seus interesses. 

 

Por outro, amadurecer a estratégia brasileira para convencer países desenvolvidos a apoiá-la na tentativa de garantir um assento no Conselho de Segurança da ONU. O fato é que o Brasil vive um raro momento em que as condições favorecem um salto e a política externa ganha papel central. 

 

Não é acaso que a presidente Dilma tenha se posicionado a favor de enviar um emissário da ONU para avaliar os direitos humanos no Irã. Ato que a descolou do ex-presidente Lula e a alinhou aos Estados Unidos. Correção de rota, interpretaram até mesmo os inimigos do partido que a elegeu. 

 

Dilma, felizmente, tem fama de empreender muito mais tempo no planejamento de suas ações para ser assertiva na execução. Se tiver claro aonde quer levar o Brasil e, mais importante, de que forma, o País pode aproveitar os bons ventos que sopram neste momento.