Faz três anos que o magnata François Pinault, terceiro homem mais rico da França e controlador do grupo Pinault-Printemps-Redoute (PPR), uma potência com receitas em torno de € 20 bilhões por ano, colocou à venda a rede de varejo Fnac e outras duas bandeiras de varejo popular. A justificativa era de que, diante do cenário de crise econômica, o melhor seria concentrar as forças do grupo no portfólio de marcas de luxo, como Gucci, Stella McCartney, Alexander McQueen e Yves Saint Laurent. Na ocasião, Pinault disse haver cerca de 20 potenciais interessados em levar a Fnac para casa. O negócio, estimado por analistas em até € 4 bilhões, ainda não saiu do papel. Desde então, a situação só ficou pior para a Fnac, com faturamento mundial de € 4,1 bilhões. 

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As vendas nos cinco países europeus em que está presente – França, Bélgica, Espanha, Portugal e Suíça – estão em queda. A exceção é o Brasil, único mercado em que atua fora da Europa, cujas receitas cresceram 5,5% em 2011, para € 250 milhões, superando Portugal e se transformando na terceira força global, atrás da França e da Espanha. Neste ano, o Brasil deve assumir a vice-liderança. O responsável por levar a operação local a um novo patamar é o francês Jacques Brault, diretor-geral da Fnac no Brasil, que está no País desde o fim de 2010, depois de dirigir a filial da Grécia, que não pertence mais à companhia. Ele acaba de receber o aval da matriz  para ampliar em 200% o número de lojas. O objetivo é fechar 2015 com 30 pontos de venda. 

 

“A prioridade do grupo Fnac é o Brasil”, afirma Brault, num português fluente, surpreendente para quem está há tão pouco tempo no País. “Não faltará apoio, inclusive financeiro, para tocarmos os planos de expansão no País.” O executivo não revela, mas fontes do mercado estimam que, para abrir as 19 lojas previstas, seria necessário investir em torno de R$ 200 milhões. Hoje, a rede conta com 11 unidades e a mais recente delas, aberta no shopping Flamboyant, em Goiânia, na terça-feira 13, será referência dos novos projetos. Ela conta com uma seção batizada de Mobilidade, na qual podem ser encontrados desde gadgets, como iPods, a medidores eletrônicos de pressão para corredores. Possui, ainda, uma ampla área para brinquedos e games que, em conjunto com os CDs e DVDs, representam por 22% das vendas totais da rede. 

 

A maior fatia da receita, 54%, é obtida com eletroeletrônicos, telefonia e informática. Outra inovação será a adoção de novos formatos de lojas no Brasil. Atualmente, uma unidade-padrão da Fnac ocupa uma área em torno de três mil m2. Entre as opções está o lançamento da Loja de Periferia, existente na França. São modelos compactos que variam entre 100 m² e mil m². Além dos desafios normais de qualquer expansão acelerada, como a escassez de bons pontos de venda nas grandes cidades, os especialistas em varejo apontam outros problemas. “Não é fácil conseguir mão de obra qualificada e mesmo treinar e capacitar funcionários para atuar em um negócio com o nível de especialização da Fnac”, afirma Eugênio Foganholo, diretor da consultoria paulistana Mixxer. 

 

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Modelo: com espaços amplos e maior variedade, a loja da Fnac em Goiânia será a base

do projeto de expansão liderado por Brault.

 

Brault diz estar atento a essa questão. Tanto que sua prioridade, desde meados de 2011, tem sido os investimentos no aprimoramento dos instrumentos de gestão e na logística da rede. No total, estão sendo gastos R$ 20 milhões – verba bancada pela matriz – no desenvolvimento dessas áreas e na construção de uma nova plataforma na internet. Hoje, o site de comércio eletrônico da filial brasileira já é o segundo maior da companhia, atrás da França. Em 2011, o volume de vendas online, no Brasil, avançou 45% em relação a 2010. “Só não crescemos mais por falta de estrutura,” afirma Brault. Para ajudar a resolver esses gargalos, um grupo de 20 técnicos, vindos da matriz, está debruçado sobre o projeto de modernização do portal. 

 

Ocorre que a Fnac não é a única rede estrangeira de varejo que identifica no Brasil, especialmente nas capitais fora do eixo São Paulo-Rio de Janeiro, oportunidades para crescer. Contudo, os franceses possuem algumas vantagens, reconhecidas pelo mercado. “O extenso portfólio faz da Fnac um negócio único no Brasil”, afirma Foganholo. Entre esses diferenciais estão os 200 mil associados. Para esse contingente, Brault está desenvolvendo novas formas de relacionamento. Isso será feito por meio de um software no qual o departamento de tecnologia da empresa está trabalhando. “Queremos antecipar as necessidades dos clientes e oferecer produtos específicos para cada um deles,” diz Brault. “A situação aqui é completamente diferente do que acontece na Europa.”

 

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