Quem só conhece o Espírito Santo pelos jornais imagina um Estado falido e dominado pelo crime organizado. Mas basta desembarcar em Vitória e circular por sua beira-mar para que essa impressão se desfaça. Lá, os sinais de riqueza são visíveis. São novos condomínios e centros comerciais a cada esquina, reflexo de um ciclo de expansão que já vem de muitos anos. Na década de 90, enquanto o Brasil cresceu 2,44% ao ano, a economia capixaba rodou à velocidade de 3,73%, tendência que vem sendo mantida. A
produção industrial do Espírito Santo foi a que mais cresceu
no País em 2002: 11,3% contra 2,1% da média nacional. Foi
lá que se inaugurou o maior investimento do último ano, a nova unidade da Aracruz, que recebeu US$ 800 milhões. A maior descoberta de petróleo? Aconteceu no litoral capixaba e foi obra da Shell, que encontrou uma reserva de 150 milhões de barris. A tudo isso, some-se o fato de o Estado ser uma das principais rotas de exportação do País. Mas mesmo assim, quando se salta do mundo privado para as finanças estaduais, descobre-se o paradoxo capixaba: empresas prósperas, ao lado de um setor público quebrado. Contas a pagar somam R$ 1,3 bilhão, os salários do funcionalismo estão atrasados há três meses e o Estado tem um déficit mensal de cerca de R$ 12 milhões. ?Minha tarefa é limpar o Estado da corrupção e reequilibrar as finanças?, disse à DINHEIRO o governador Paulo Hartung, que já enfrentou uma greve de policiais, e foi o primeiro a buscar socorro em Brasília. O que se desenha é um pacote de R$ 319 milhões, em que a União anteciparia royalties que o Estado tem a receber pelo petróleo.

Uma das explicações para o paradoxo capixaba é a guerra fiscal. Muitas empresas foram atraídas ao Estado pelos benefícios tributários. Elas crescem, mas a arrecadação não segue o ritmo. ?Foram criados privilégios, mas a crise é também fruto de má gestão?, reconhece Hartung. Ao lado dos incentivos, a economia capixaba desenvolveu ao longo do tempo uma série de vantagens competitivas, especialmente na infra-estrutura. Ao lado dos sete portos, responsáveis por 25% do volume movimentado nacionalmente, o Estado conta com uma das malhas ferroviárias mais eficientes do País. ?Temos um corredor de logística fabuloso?, explica Sérgio Leite, da Vale do Rio Doce, que investiu R$ 900 milhões por lá em 2001.

Outro fenômeno que ajudou a economia estadual a deslanchar foi a privatização. É só tomar como exemplo uma a Siderúrgica de Tubarão. Entre 1983, no início de suas operações, e 1992, ano do leilão, a companhia acumulou prejuízos de US$ 1 bilhão. Mas na última década, a empresa recebeu US$ 1,8 bilhão em investimentos, ganhou produtividade e tornou-se a maior exportadora de aço bruto do País. ?Passamos por um choque de eficiência?, diz José Armando Campos, presidente da CST. A empresa hoje opera no limite da capacidade e irá investir US$ 112 milhões em 2003. Outro gigante do Estado é a Aracruz Celulose. Com a nova unidade, a empresa atingiu a liderança mundial em capacidade de produção de celulose branquiada, com 2 milhões de toneladas por ano. ?Crescemos 27% em 2003 e vamos crescer 21% em 2003?, diz o presidente Carlos Aguiar.

O dinheiro que circula pela economia capixaba também tem fortalecido as empresas locais. Uma das mais conhecidas é a Coimex, trading que já fatura R$ 2 bilhões por ano. ?No Espírito Santo, os empresários aprenderam a andar com as próprias pernas?, afirma Otacílio Coser Filho, vice do grupo. Essa visão encontra coro no Grupo Buaiz, que atua nos ramos de mídia, imóveis e agropecuária e controla um patrimônio de US$ 100 milhões. ?Os últimos governos atrapalharam mais do que ajudaram?, conta Américo Buaiz, presidente do grupo. O desafio do governador Hartung é justamente fazer com que a economia próspera que está sob sua gestão possa também conviver com uma administração responsável.