Por muito tempo, o empresário paulista Carlos Tilkian, presidente e controlador da Estrela, a maior fabricante nacional de brinquedos, foi visto como uma espécie de camicase por seus pares. Em vez de pura e simplesmente fechar suas fábricas no País e terceirizar a produção na China, a exemplo da maior parte de seus concorrentes, Tilkian insistiu em manter uma fatia importante da produção internamente. A reviravolta cambial, que encareceu os custos dos fornecedores chineses, acabou justificando a insistência. 

A Estrela, que chegou a importar 40% de suas bonecas, jogos e gadgets eletrônicos, reduziu essa participação a 15%, no ano passado, e pôde conquistar alguns pontos de participação de mercado, graças ao suprimento próprio local. “Com isso, conseguimos maior flexibilidade para nos adaptar às variações macroeconômicas, mantendo preços competitivos, a despeito da valorização do dólar”, diz Tilkian. Um outro pilar dessa estratégia, segundo ele, foi a decisão de investir pesadamente na oferta de produtos com preço abaixo de R$ 50. “Nos  adequamos à queda da capacidade de compra dos consumidores”, afirma.

No ano passado, conforme dados preliminares da Abrinq, a entidade do setor,  os fabricantes de brinquedos faturaram R$ 5,9 bilhões,um crescimento de 15%, que se transformou num volume de vendas de R$ 9,5 bilhões, no varejo. Trata-se de um desempenho animador, sem dúvida, na comparação com a maior parte dos segmentos industriais. Mesmo assim, Tilkian acredita que é mais do que necessário um maior comprometimento do governo  para o fortalecimento  da atividade econômica a longo prazo. 

Um dos alvos de suas críticas é a revisão da  desoneração tributária. “O governo deveria ter a coragem de reduzir a carga, como parte do ajuste da economia”, diz Tilkian, que reivindica uma nova política de desenvolvimento industrial no Brasil.  “Quanto menor a tributação, maior a atividade econômica e, em consequência, a arrecadação.”

Com três fábricas no País – Itapira (SP), Três Pontas (MG) e Ribeirópolis (SE), a Estrela, que faturou R$ 250 milhões em 2014 (último resultado divulgado em balanço), não pretende esperar sentada pelas providências oficiais. Já há algum tempo, por exemplo, a empresa avalia a instalação de uma fábrica no Paraguai. Com uma economia em crescimento, o país vizinho oferece vantagens como isenção para a importação de máquinas e componentes, uma política trabalhista mais liberal, voltada para a geração de empregos, com custos que não chegam à metade dos praticados aqui. 

Além, é claro, do fato de integrar o Mercosul, o que zera a tributação das exportações para o Brasil.  “O Paraguai pode virar uma nova China, com a diferença de ser vizinho do Brasil.” De acordo com Tilkian, porém, uma eventual operação fabril no Paraguai, não significa o fechamento das unidades brasileiras da Estrela. Em outras palavras: a estratégia da produção local continua, mesmo que a China comece logo ali, à margem esquerda do Rio Paraná.