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Novo cenário: uma pesquisa realizada pela agência Tour House, com 200 executivos, mostrou que 37% revisaram as políticas de viagens para economizar mais

 

Há três meses, num rompante de plebeu, o príncipe William, herdeiro do trono inglês, anunciou que começaria a viajar de classe econômica para cortar custos. O gesto, por mais singelo que pareça, simbolizou muito da atual situação mundial: se até o príncipe de um dos países mais ricos do mundo está economizando em passagens, imagine os pobres mortais. As principais companhias aéreas, contudo, não precisaram imaginar – elas estão sentindo no bolso o reflexo dessa situação.

Dados da International Air Transport Association (Iata) mostram que o número de passageiros que voava de executiva e primeira classe caiu 22% desde abril de 2008 e a previsão é de que caia ainda mais (ver gráfico na pág. ao lado). A situação ficou tão ruim que a British Airways, companhia que sempre apostou no serviço premium, chegou a pedir a seus funcionários que trabalhassem de graça por um mês para conter as dívidas que chegam a 420 milhões de euros.

“Estamos fazendo promoções como vender duas passagens de executiva pelo preço de uma, mas em alguns locais a concorrência chega a níveis irracionais”, disse à DINHEIRO Patrick Fehring, porta-voz da British Airways. Para as empresas aéreas essa questão é crucial, pois o custo de um voo normal se paga com a classe executiva cheia. Estes passageiros correspondem a cerca de 9% do total de pessoas, mas são responsáveis por 30% do faturamento.

Por trás desse apagão na venda de passagens executivas se esconde a crise que afetou os clientes corporativos. Eles apertaram os cintos e os passageiros sumiram. “Com a crise, as políticas para viagens se tornaram mais restritivas”, diz Daisy De Marco, gerente de vendas da Carlson Wagonlit, agência especializada em viagens corporativas. “É natural que se corte. Em algumas empresas, os gastos com viagens estão entre os maiores”, completa Daisy.

A mineradora Vale, por exemplo, que antes permitia que seus funcionários emitissem passagens na classe executiva com facilidade, resolveu fechar a torneira. “Agora até os diretores estão viajando de econômica”, diz uma fonte próxima à empresa. Mesmo empresas em franca expansão, como a Alog, especializada em servidores corporativos, que pretende faturar R$ 85 milhões, um crescimento de 30%, resolveu cortar custos. A companhia reduziu o número de viagens pela metade e as passagens na classe executiva tornaram-se raridade.

“Analisamos caso a caso a necessidade de viajar de executiva”, conta Emanuel Dutra, diretor financeiro da Alog. Uma pesquisa realizada pela agência de viagens Tour House com 200 executivos revelou essa nova ordem no mundo corporativo. De acordo com os dados, 42% dos executivos disseram que só autorizariam viagens em casos de extrema necessidade e 37% revisaram as políticas de viagens para economizar mais.

Na ponta da cadeia, as empresas aéreas sentiram o baque. A British Airways anunciou que pretende deixar 16 aeronaves estacionadas para economizar combustível e reduzir gastos com pessoal. A portuguesa TAP perdeu 6% dos passageiros de classe executiva e a australiana Qantas anunciou que quer aumentar a oferta de assentos na classe econômica. “A solução é viajar com gastos controlados”, diz Amadeu Stevão, da Amadeus Tours, agência especializada em viagens corporativas. Bem antes da crise econômica, a Totvs, empresa que produz softwares de gestão empresarial, já restringia o uso de passagens na classe executiva.

Dos seus nove mil funcionários, apenas cinco diretores têm direito a voar nas classes premium e a prática ficou ainda mais rígida. “Enviamos e-mails discretos a quem viajava muito, alertando que temos outros meios, como as teleconferências”, diz José Luiz Rogério, diretor financeiro da Totvs. Não é à toa que as classes executivas andam vazias.

 

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