Tudo começou no final dos anos 80. Advogados que participaram da venda da Cica perceberam que faltavam especialistas em fusões e aquisições no mercado. Resolveram arriscar. Largaram o Direito e montaram um pequeno escritório, o Patrimônio, em parceria com o banco Salomon Brothers. Em pouco tempo, a visão de negócios se confirmou. Com a onda de investimentos estrangeiros nos anos 90, o Patrimônio decolou, virou banco e cresceu até ser vendido, em 1999, para o Chase Manhattan. Quinze anos depois, os mesmos profissionais resolveram repetir a história de sucesso. Desta vez, com o nome Pátria. ?O cenário é parecido com o de 1988, há um espaço a ser ocupado no mercado?, diz Jair Ribeiro, um dos fundadores do Patrimônio.

Além do nome, há outras diferenças com o Patrimônio. A primeira é que os sócios não pediram ao BC a autorização para funcionar como banco. ?Não é necessário para o que queremos fazer?, diz Luiz Otavio Reis de Magalhães, um dos sócios. Desta vez, os profissionais estão mais experientes e com muitos contatos no exterior. Alguns seguiram com o banco depois que foi vendido para o Chase Manhattan e incorporado ao J.P. Morgan. Jair Ribeiro, por exemplo, virou o responsável pela área internacional de ações do Morgan. ?Uma de nossas vocações é representar o capital externo no Brasil?, diz Olimpio Matarazzo Neto, outro fundador.

Os sete sócios querem ocupar o espaço deixado pela debandada dos bancos estrangeiros. ?Os estrangeiros fugiram do risco Brasil e foi aberto um espaço para quem atua no País?, diz Gilberto Munhoz, sócio da KPMG. De início, o Pátria atuará em três áreas: administração de fundos de investimento, compra de empresas (private equity) e assessoria financeira (fusões e aquisições). E já começa grande. Nos tempos do Patrimônio, os sócios criaram uma estrutura para gerir um fundo de private equity. Com US$ 250 milhões, investiram em companhias como Fotoptica, Casa do Pão de Queijo e Diagnósticos da América. Esse fundo agora faz parte do Pátria. E o banco está lançando um segundo fundo, entre
R$ 150 milhões e R$ 200 milhões, para aplicar nas áreas de saúde e de educação. ?A especialização faz diferença e já temos experiência nesses ramos?, diz Alexandre Saigh, responsável pela área de Private Equity, junto com outro sócio, Marcelo Marques Moreira.

Os sócios do Pátria também apostam no valor da experiência para trabalhar com fusões e aquisições. Para atuar nesse campo, foi convidado o ex-diretor do BNDES, Octavio Castello Branco. O novo parceiro diz que, apesar de a economia estar parada, há muitas conversas em andamento. ?Tem de tudo: empresas estrangeiras deixando o Brasil, companhias endividadas se reestruturando e negócios em infra-estrutura?, conta ele. Na área de fundos, o Pátria atuará em duas frentes. Uma delas é a de hedge funds. São fundos em que o gestor coloca seu talento à prova, ao girar o dinheiro de um mercado para outro em busca de grandes lucros. O Pátria terá dois hedge funds, um para investidores nacionais e outro para estrangeiros, concentrado em papéis da dívida externa de países latino-americanos. A outra família de fundos será dedicada a aplicações em investimentos imobiliários.

Esses contratos servirão de base para um fundo do setor imobiliário. ?Os estrangeiros começavam a investir nessa área no Brasil, mas saíram depois da crise da Argentina?, diz o sócio Carlos Betancourt. ?É mais uma oportunidade que se abre para nós.? Se o Pátria vai repetir a trajetória vencedora do Patrimônio, só o tempo dirá. Mas uma coisa é certa. Se da outra vez os sócios estreavam como banqueiros e só tinham a ganhar com uma associação com uma instituição estrangeira, agora pensam duas vezes. ?Queremos parcerias em áreas específicas, mas não abrimos mão do controle do negócio?, diz Matarazzo Neto. Um novo jogo começou.