05/04/2006 - 7:00
Antônio Carlos Porto Filho, um dos sócios do Banco Pactual, vem se divertindo nos últimos dias com uma história que ele mesmo conta aos amigos. Diz Porto Filho que, ainda menino, em sua casa, costumava deixar acesas todas as luzes dos cômodos por onde passava. A reclamação do pai era sempre a mesma: ?Virou dono da Light é??. ?Agora virei?, diz o banqueiro. É que seu Pactual faz parte do consórcio Rio Minas Energia (RME), formado ainda por Andrade Gutierrez, a estatal Cemig, e o grupo JLA, do ex-banqueiro Aldo Floris. Na Terça-feira 28, o RME anunciou ao mercado a compra da Light. Pagou US$ 320 milhões por 79,6% das ações e assumiu ainda uma dívida de US$ 1,5 bilhão. Na disputa pela distribuidora de energia, a RME venceu o GP Investimentos, de Jorge Paulo Leman, e o grupo Energia Rio, do empresário Eduardo Eugênio Gouvêa Viera, sócio da Ipiranga. ? A Light é brasileira de novo e em cinco anos será líder nacional em distribuição?, afirma José Luiz Alquéres, o novo presidente da Light.
Na prática, a Light também volta a ter um pé estatal. A empresa, que na era das privatizações do governo FHC foi arrematada por um consórcio liderado por uma companhia francesa, a EDF, agora é vendida para um grupo liderado pela estatal mineira de energia. ?Foi até surpreendente do ponto de vista político: a distribuidora do Rio foi parar nas mãos do governo mineiro?, afirma Adriano Pires, do Centro Brasileiro de Infra-Estrutura. Na nova fase, a EDF vira coadjuvante, com uma participação de 10%. Além disso, os franceses já deram sinais de que pretendem sair de vez da companhia.
A Nova Light também vai aumentar em até 40% seus investimentos anuais. Atualmente, a cifra oscila entre US$ 80 milhões e US$ 100 milhões por ano. A maior parte dos recursos, segundo Alquéres, será usada para diminuir o percentual de perdas, de 24% da energia comprada. As perdas são decorrentes, principalmente, de desvios, ligações irregulares (gatos) e energia não medida. Alquéres também quer recuperar a força no mercado de consumidores livres ? aqueles que podem escolher de quem comprar a energia, independentemente da área em que estão localizados. São entidades ou empresas que consomem mais de 3 megawatts/mês. Nessa lista estão CSN, Gerdau, Vale Sul e outras. ?Temos condições de adquirir energia em melhores condições de preço e repassar o benefício a este consumidor?. Por fim, resta negociar as dívidas, hoje de US$ 1,5 bilhão. ?Trouxe para minha equipe o Ronnie Vaz Moreira, homem que renegociou a dívida da Globopar. Não conheço ninguém melhor para falar com banqueiros e credores?, diz Alquéres.
No mercado, porém, há quem garanta que nem tudo são flores no consórcio RME. A Cemig, que seria a responsável pela maior parte do investimento na compra da Light, teria ficado de fora das decisões estratégicas do grupo. ?E a estatal mineira não gostou nem um pouco disso?, diz um executivo que acompanha o setor. ?Cada sócio contribuiu com 25% dos recursos. Não existe problema na RME?, garante Alquéres. ?Temos um time formado por brilhantes investidores, uma empresa premiada que é a Andrade Gutierrez Concessões e pela Cemig, uma estatal de energia que é referência no setor, com seis milhões de clientes. Ninguém vai jogar contra?.