03/09/2008 - 7:00
O MÊS DE AGOSTO termina com grandes lições ao investidor brasileiro. Há precisamente um ano, os primeiros respiros do subprime amedrontaram o mercado, mas poucos imaginavam que se tratava da maior crise financeira das últimas décadas. O Brasil, até então imune, passou do céu ao inferno em questão de meses. Em 2008, atingiu o grau de investimento e viu o Ibovespa alcançar a marca inédita de 74 mil pontos, mas logo em seguida assistiu à derrocada dos preços das principais ações do índice. Petrobras PN e Vale PNA acumulam perdas de 19% e 23% no ano, respectivamente. É clichê, mas é verdade: em toda crise, há oportunidade. Enquanto as blue chips caíram, algumas empresas de segunda e terceira linhas se destacaram e alcançaram ganhos consideráveis no decorrer do ano. Cosan, Nossa Caixa, Magnesita e Ferbasa são algumas delas. Por diferentes razões, apresentaram bons resultados, ganharam liquidez e estão tirando do vermelho a carteira de muitos investidores. São as atuais estrelas da Bolsa. Conheça um pouco sobre elas.
Com dados da Economática, DINHEIRO selecionou as 20 ações mais negociadas dentre os 50 papéis com maior valorização na BM&F Bovespa até a quarta-feira, 27. A Cosan ON ficou no topo do ranking por volume e atingiu 30,5% de valorização (leia tabela). Os investidores negociaram mais de R$ 5 bilhões em ações da empresa no período. O resultado contrasta com o desempenho do papel em 2007, quando caiu 52%. A cotação, que bateu em R$ 59 em 2006, está em R$ 27 e teria potencial para subir mais. “A ação poderia estar melhor. Mas o preço do açúcar está ainda muito baixo no mercado internacional e há um excesso de oferta de etanol”, afirma Peter Ping Ho, analista da Planner Corretora. O equilíbrio entre produção e estoque foi o fator de maior influência nos bons resultados operacionais apresentados pela Cosan durante o ano. Já a polêmica compra da Esso, em abril, ainda não está embutida no preço da ação. “A Cosan ainda não definiu como vai pagar pela Esso”, explica o analista. O investidor, no entanto, deve ficar atento. “Ainda há excesso de oferta de etanol e o aumento das exportações ainda não foi concretizado”, diz. Na mesma situação está a Natura. Após a queda de 41% do papel ON em 2007, a empresa se recupera aos poucos, com valorização de 18%. Os bons resultados operacionais puxaram a alta, mas o fraco desempenho na expansão internacional ainda segura a ação. “Eu não aguardaria nenhum retorno positivo para essas operações (no Exterior) antes de quatro anos”, afirma Ricardo Fernandez, analista da Itaú Corretora.
Se as fusões ou aquisições ainda não impulsionaram o preço do papel da Cosan, o mesmo não se pode dizer de Nossa Caixa, Telemar, Magnesita, Estácio e Datasul. Todas venderam ou negociam participação com outras empresas e geraram boas expectativas no mercado. O papel da Nossa Caixa, grande mico de 2007 após a queda de 50%, foi beneficiado pelo anúncio de negociação de compra pelo Banco do Brasil. “Foi uma visão especulativa e legítima do mercado. A troca de comando dá o direito de tag along das ações da Nossa Caixa para o investidor minoritário”, explica Aloísio Lemos, analista da Ágora Corretora. Explica-se: quem mantiver o papel, receberá por suas ações, no mínimo, 80% do valor pago ao controlador da empresa, o Estado de São Paulo, se o negócio for fechado. O mesmo acontece com a Telemar PNA. A ação da empresa, que atua com a marca Oi e deve ser fundida à Brasil Telecom, subiu 27%. E a Datasul, companhia de tecnologia da informação, já vinha de uma trajetória de alta quando sua venda para a TOTVS foi aprovada. O papel acumula valorização de 61%.
A Estácio e a Magnesita compartilham um denominador comum: o grupo GP Investimentos. A aquisição de 20% pelo fundo de private equity transformou a gestão do grupo educacional e fez dele uma das promessas da Bolsa. O resultado disso é a alta de 32% em 2008, enquanto suas concorrentes SEB, Anhanguera e Kroton enfrentam tempos difíceis no pregão. Em julho, a GP levou a Estácio ao Novo Mercado, mais alto nível de governança corporativa da BM&F Bovespa, tornando-a ainda mais atraente. Na Magnesita, empresa líder no segmento de refratários, os resultados foram vistosos: as ações subiram 121,5% no ano. “É uma empresa como a GP sempre quis: instalada em um nicho de mercado com possibilidade de crescimento e com espaço para a reorganização interna”, afirma Felipe Reis, analista da Santander Corretora. Junto com o grupo, vieram os cortes de despesas e custos e um crescimento mais sustentável. Além disso, os principais mercados da Magnesita – as indústrias de aço e cimento – estão aquecidos e deverão continuar assim no ano que segue. “O potencial de melhora continua”, constata Reis.

Extremamente beneficiadas pela alta das commodities, Fosfertil e SLC Agrícola engrossam o time que se destaca em 2008. Produtora de fertilizantes, a Fosfertil teve sua alta de 24% no ano impulsionada não só pelo aumento da demanda por commodities agrícolas, como milho e soja, mas também pela onda dos biocombustíveis. “A oferta de fertilizantes no mundo é restrita. Os investimentos do setor começaram a ser feitos para aumentar a produção, mas os resultados só devem chegar em dois anos”, comenta Denise Messer, da Brascan Corretora. Até lá, a expectativa é de que os preços dos fertilizantes se mantenham em alta. Para a SLC Agrícola, que sobe 37,4%, o vento também sopra na boa direção. A SLC tem fazendas de produção de soja, milho, café e algodão. Apesar da recente queda no preço das commodities, o mercado não acredita que o tombo possa ser mais grave. “A demanda continua alta. A especulação é que diminuiu”, conclui Denise.
Dentre as dez mais, a Ferbasa apresentou o aumento mais significativo, ainda que com um baixo volume de negócios. A empresa do ramo de siderurgia presenteou seus acionistas com 158% de alta nas ações PN. As ON acumularam ganhos ainda maiores: 245%. A Ferbasa detém 80% da produção de minério de cromo do Brasil. O produto é vendido em sua quase totalidade para a Acesita, para a produção de aço inox. Cada tonelada do minério custa US$ 0,50 para ser produzida pela Ferbasa. O preço de venda é US$ 2,40. “É uma máquina de fazer dinheiro”, diz Frederico Mesnik, gestor da Humaitá Investments.
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| A NATURA SE RECUPERA AOS POUCOS E SUAS AÇÕES SUBIRAM 18% ESTE ANO. SÓ FALTA O IMPULSO INTERNACIONAL |
Outras grandes altas são de empresas de baixa liquidez na Bolsa, como a fabricante de fechaduras Haga (655%) e a companhia do setor de transportes Recrusul (227%). Mas o investidor deve ter muita atenção e fugir de possíveis micos. O volume de negócios das empresas deve ser levado em consideração na hora da escolha de pequenas jóias para a carteira. E quais são elas? “Empresas seguras, com bons fundamentos e baratas. É isso que vale”, conclui Mesnik.
