A banqueira Kátia Rabello, maior acionista do Banco Rural, está à beira de um ataque de nervos. Condenada no início do mês pelo Supremo Tribunal Federal por lavagem de dinheiro e gestão fraudulenta no processo do mensalão, Kátia poderá receber pena de até 12 anos de prisão. Para complicar, o banco fundado por seu pai, o controvertido empresário Sabino Rabello, registrou no primeiro semestre do ano um prejuízo de R$ 32 milhões. Os acionistas acabam de fazer um aumento de capital de R$ 100 milhões para ajustar-se às exigências do Banco Central (BC). Ex-bailarina e professora de dança, a mineira Kátia presidia o Rural à época em que foram concedidos R$ 31 milhões de empréstimos ao PT e a agências de propaganda do publicitário Marcos Valério, operações que estariam na origem do chamado mensalão. 

 

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Kátia Rabello: abatida, a banqueira lembra “desespero” de 2005 e diz estar sentindo medo

 

Afastada do banco desde 2008, Kátia demonstra estar abatida a pessoas próximas, principalmente desde sua condenação pelos 12 ministros do STF, a 6 de setembro. Numa carta a amigos divulgada pelo jornal Folha de S. Paulo, a banqueira diz estar com medo. “O cansaço e a desesperança se abateram sobre mim”, afirmou. “Sei do risco que corro e é claro que sinto medo.” Além de Kátia, foram condenados pelo STF os ex-dirigentes do Rural Vinícius Samarane e José Roberto Salgado. Na carta, Kátia afirma que entrou em “desespero” entre 2004 e 2005, quando enfrentou sucessivas crises: a morte do principal executivo do Rural, José Augusto Dumont, de seu pai, Sabino, e a eclosão do escândalo do mensalão, com as denúncias feitas pelo então deputado Roberto Jefferson, presidente do PTB. 

 

“Felizmente, pude honrar todos os compromissos e o banco seguiu em frente.” O Rural sobreviveu, mas nunca recuperou a relevância que chegou a ter na década de 1990, quando chegou a integrar a lista dos dez maiores bancos do País. Desde o mensalão, não para de encolher. A rede atual de 28 agências é um terço da existente em 2005, e o número de funcionários caiu de 2, 2 mil para pouco mais de 600. O banco, que teve prejuízo de R$ 83 milhões no ano passado, apresentou perda de R$ 32 milhões no primeiro semestre. Em entrevista à DINHEIRO, o presidente do Rural, João Heraldo Lima, diz que as perdas foram provocadas pela saída do mercado de empréstimos com desconto em folha de pagamento (consignado) e pela elevação das provisões para cobrir calotes na carteira de crédito. 

 

“O consignado deixou de ser rentável para bancos médios e pequenos”, afirmou Heraldo Lima. A instituição agora emprestará apenas para empresas de médio porte. “Este sempre foi o foco do Rural, o consignado foi um negócio de oportunidade”, diz o executivo. De fato, outros bancos médios estão saindo do consignado pela queda de rentabilidade. Mas, pelo menos até agora, o Rural não aumentou sua carteira voltada a empresas. O total de empréstimos caiu 10% no semestre. Nas últimas semanas, o atraso na publicação do balanço semestral vinha chamando a atenção e provocando desconfiança no mercado. Executivos do Rural chegaram a ir até a sede do Fundo Garantidor de Créditos (FGC) para explicar que o balanço estava à espera da concretização de um aumento de capital de R$ 100 milhões. 

 

O aporte, que elevará o capital para R$ 442 milhões, era necessário depois de fazer ajustes no balanço exigidos pelo BC. Os auditores haviam expressado dúvidas em relação à realização desse aporte, que foi aprovado pelos acionistas no apagar das luzes do semestre — em 28 de junho. Por isso, o Banco Rural publicou informações na semana passada anunciando a operação e mudou de auditoria externa. A Ernest & Young foi substituída pela Fernando Mota Auditores Independentes. Confiante, Heraldo Lima diz que, a despeito de todas as dificuldades políticas e empresariais, o Rural sairá do vermelho no ano que vem. 

 

 

João Heraldo Lima, presidente do Banco Rural


“Os clientes continuam fiéis. Esperamos voltar a crescer” 

 

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DINHEIRO – O Rural perdeu clientes durante o julgamento do mensalão? 

JOÃO HERALDO LIMA – Os clientes continuam fiéis, os depósitos estão estáveis. O Banco Rural não é parte na ação penal. Ela envolve ex-executivos e em nada afeta a continuidade da instituição. Mas reiteramos que esses executivos sempre se conduziram com a certeza de estar cumprindo as normas e leis vigentes.

 

Desde 2005, o banco vem encolhendo. Qual o futuro do Rural?

Nossa carteira de crédito, que chegou aos níveis mínimos de R$ 500 milhões, no auge da crise provocada pela quebra do Banco Santos e pelo advento do caso mensalão, hoje está em R$ 2,3 bilhões. Planejamos dobrar essa carteira nos próximos cinco anos, para R$ 4,3 bilhões. 

 

O aumento de capital foi feito a pedido do Banco Central?

Os acionistas do Banco Rural têm capitalizado a instituição periodicamente nos últimos dez anos. A capitalização no valor de R$ 100 milhões mantém o banco enquadrado em todos os limites operacionais exigidos.

 

Como está o moral dentro do banco com a condenação da acionista Kátia Rabello e de dois ex-diretores do banco pelo STF? 

Os funcionários continuam atuando com empenho e determinação para levar a instituição adiante, como vem ocorrendo nos últimos 48 anos. Além disso, Kátia Rabello deixou a presidência-executiva em 24 de setembro de 2008 e José Roberto Salgado deixou a vice-presidência-executiva em 18 de novembro de 2010, de acordo com o processo de profissionalização e renovação da alta administração. 

 

Existem discussões para vender o banco?

Não há nenhum tipo de conversa nesse sentido.