A presidente Dilma Rousseff carrega a fama de ser uma mulher extremamente dura com os técnicos do governo, os ministros e os assessores que a circundam. Seu comportamento rigoroso, antes como ministra, e agora, como presidente, já provocou baixas na Esplanada dos Ministérios. O que poucos imaginavam é que a tal severidade, que chegou a ser motivo de chacota durante a campanha eleitoral do ano passado, se tornaria, agora, sinônimo de eficiência. 

Ao menos aos olhos dos homens de negócios. A DINHEIRO conversou com 32 presidentes de empresas e executivos presentes ao 10º Fórum Empresarial de Comandatuba, na Bahia – promovido pelo Grupo de Líderes Empresariais (Lide), entre os dias 21 e 24 de abril, para saber o que pensam da presidente. Placar da pesquisa de campo: 30 empresários empolgados e confiantes com o desempenho de Dilma e dois reticentes.

 

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A confiança depositada na presidente, depois de quatro meses de governo, vem de uma percepção que soa como música para os representantes do PIB nacional: estão diante de uma mulher de negócios. “Ela planeja, coordena reuniões, cobra metas, ou seja, tem o estilo da iniciativa privada na posição de presidente da República”, diz Hélio Duarte, vice-presidente   do HSBC. “Isso agrada muito.” Seu colega, Ricardo Loreiro, presidente da Serasa Expe-rian para a América Latina, faz coro. 

 

“Ela tem demonstrado uma sensibilidade muito grande para os temas de mercado”, diz o executivo. Um dos fatores que explicam por que Dilma caiu nas graças do empresariado é que ela parece ter deixado no passado o “gerúndio” das decisões do poder (“estamos avaliando”) e toma as rédeas de assuntos caros para a economia. Prova disso é que depois de anos de protelação em relação às reformas, as mudanças deverão acontecer já neste ano. Pelo menos foi o entendimento no evento de Comandatuba. “Chegou-se ao consenso aqui de que a reforma será feita de forma fatiada”, disse João Doria, presidente do Lide.

 

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Mantega, Palocci e Dilma: a primeira reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico

tratou de gargalos que preocupam os empresários, como infraestrutura e reforma tributária

 

Coube ao vice-presidente Michel Temer, e ao ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, o papel de emissários da presidente para conversar com o empresariado durante o fórum do Lide, pois a presidente cancelou a participação no evento à última hora. No entanto, na terça-feira 26, durante a primeira reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico, que reuniu o ministro da Casa Civil, Antônio Palocci, e seu colega da Fazenda, Guido Mantega, com representantes da iniciativa privada, Dilma avisou qual será a primeira fatia da esperada reforma: o Planalto encaminhará ao Congresso, nos próximos dias, um projeto de lei que desonera a folha de pagamentos das empresas. 

 

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Em pauta, a redução da alíquota de 20% referente ao Instituto Nacional de Seguro Social (INSS). Na mesma terça-feira, o secretário-executivo da Fazenda, Nelson Barbosa, reiterou o compromisso com o projeto, durante uma audiência no Senado, lembrando que falta apenas ao governo buscar alternativa para amenizar a perda de arrecadação.

 

Segundo os empresários, a iniciativa é fundamental diante da inserção cada vez maior do Brasil no mercado internacional. “Temos desafios fantásticos e pressa em corrigir os problemas tributários brasileiros, como parte de uma política global de competitividade que o Brasil precisa”, disse Jorge Gerdau Johannpeter, do Gerdau, um dos maiores grupos siderúrgicos do País, durante o fórum do Lide. 

 

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Gerdau, aliás, aceitou o convite de Dilma para assumir, nos próximos dias, o comando da Câmara de Gestão da Competitividade, recém-criada exatamente para tratar de outro assunto caro aos empresários – os diferenciais do Brasil na competição mundial –, num momento de forte concorrência com gigantes como a China. O avanço chinês, por sinal, deve induzir o Brasil a promover mudanças substanciais, como a própria redução de encargos na folha de pagamento. Segundo José Pastore, professor de economia e administração da USP, as despesas de contratação de mão de obra representam um acréscimo de 102% sobre o valor dos salários no Brasil. “Na China, eles devem ser uns 30%, por exemplo, no setor de eletrodoméstico”, diz Pastore.

 

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A desoneração da folha foi um dos principais compromissos com o empresariado assumidos por Dilma durante a campanha eleitoral. Outro, foi a simplificação da estrutura tributária das empresas, para atenuar o efeito do confuso cipoal de impostos nas três esferas: estadual, municipal e federal. Eis outra promessa reforçada em Comandatuba pelos representantes do governo, que viria a ser uma segunda etapa da reforma. 

 

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Na ocasião, Gerdau explicou o lado prático da falta de um sistema mais coerente de impostos. “Tenho uma pessoa na área contábil na unidade da Gerdau no Canadá, para fazer o mesmo que 100 funcionários fazem aqui no Brasil”, diz. Gerdau, entretanto, não esconde o otimismo diante da possibilidade de reverter esse quadro. Ainda mais tendo a perspectiva de celeridade dada por Dilma e sua equipe nos últimos dias.

 

Mas uma pergunta ficou no ar, durante o encontro empresarial do Lide: se é tão fácil assim, por que, então, essas mudanças não foram feitas antes? Gerdau acredita que faltava apoio político necessário para mudanças desse porte. A maioria governista, eleita no ano passado para compor o Congresso, explica esse reforço político. Mas o perfil da presidente é sempre apontado como  outro catalisador, a gestora que fala a língua dos empresários, e fará a roda dos negócios girar mais ainda. “Felizmente nós temos a presidente Dilma para incentivar esse debate e lutar para conseguir esse objetivo”, diz o entusiasmado Gerdau.

 

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Passar da teoria à prática será o grande teste de Dilma, para capitalizar tamanho apoio do PIB. Para Fábio Amorosino, presidente do banco Alfa, há uma sensação de que o trabalho e esforço necessário estão sendo empreendidos. “Mas fica a preocupação se há capacidade de traduzir esses debates em resultados palpáveis”, afirma. O empresário Sérgio De Nadai, presidente do grupo De Nadai, concorda. 

 

Ele, inclusive, não esconde o desânimo com as seguidas tentativas de mudar o rumo da prosa no que diz respeito às reformas econômicas pleiteadas sistematicamente pelo empresariado. “Não tenho muita esperança, acredito até que este ano será pior que o ano passado”, diz. Durante a reunião do Conselho de Desenvolvimen-to Econômico, Dilma deu sinais de querer “decepcionar” De Nadai. “Eu cumpro meus compromissos”, afirmou. O Brasil, por ora, aguarda.

Diretamente de Comandatuba (BA)