25/04/2012 - 21:00
País rico é país feliz? Antes de esboçar alguma resposta, é preciso definir como se calcula a riqueza de uma nação. O Produto Interno Bruto (PIB), que abrange a produção de bens e serviços, foi idealizado nos anos 1930 por Simon Kuznets, um russo naturalizado americano que ganhou o Prêmio Nobel de Economia pela metodologia criada. O índice teve muita utilidade no período pós-guerra, quando a economia de vários países estava dilacerada e o processo de recuperação precisava ser mensurado. Por esse critério, os Estados Unidos ainda são a maior economia do planeta. No entanto, alguns especialistas começam a questionar o indicador, pois um PIB musculoso nem sempre significa um elevado padrão de qualidade de vida para as pessoas.
Crianças do Butão: pequeno reino criou o índice da Felicidade Interna Bruta nos anos 1970.
Agora o FIB será replicado no Brasil para checar se a qualidade de vida acompanha a evolução de renda.
“Um país rico não é necessariamente feliz, pois a felicidade de quem já é milionário não aumenta com mais dinheiro”, diz o economista Ladislau Dowbor, professor da PUC-SP. Ele lembra que a percepção de felicidade da população americana diminuiu nos últimos 40 anos, embora a economia tenha crescido no mesmo período. “Por outro lado, a qualidade de vida de uma nação pobre aumenta no mesmo ritmo da expansão da sua renda, pois ter dinheiro para comer um franguinho com a família no fim de semana é muito bom.” Além de não conseguir medir o bem-estar da sociedade, o PIB não leva em consideração se o crescimento é sustentável e ainda valoriza fatores que podem ser considerados negativos como impulsionadores da economia.
“O desastre ambiental no Golfo do México exigiu gigantescos investimentos de limpeza, o que estimulou a atividade econômica americana”, diz Dowbor. “Isso é irracional.” O coordenador-geral da Rede Nossa São Paulo, Oded Grajew, compartilha essa opinião. “A criminalidade movimenta quase 10% do PIB brasileiro, pois gera demanda por seguranças privados, cadeados, câmeras e seguros”, diz Grajew. Em busca de uma outra forma de observar a riqueza do Brasil, a Fundação Getulio Vargas (FGV-SP) decidiu lançar uma versão nacional da Felicidade Interna Bruta (FIB), um índice criado em 1972 no Butão, um pequeno reino nas cordilheiras do Himalaia, entre a China e a Índia.
O FIB mede a satisfação da população a partir de nove itens, como educação, padrão de vida e uso do tempo no dia a dia. A FGV pretende adaptar alguns itens à realidade nacional, sem deixar de incluir o próprio PIB e o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) no cálculo. O novo índice pode ajudar o governo a planejar e executar as políticas públicas que proporcionem bem-estar à população. No Butão, o assunto é tão levado a sério que o governo tem até o Ministério da Felicidade para monitorar o assunto. Será que a moda pega por aqui?