04/05/2005 - 7:00
O francês Jean-Pierre Bombet, diretor geral da casa Fauchon, sinônimo de qualidade na alta gastronomia francesa, levou a taça à boca e apreciou a bebida suavemente. O vinho tinto, um Rio Sol produzido em Petrolina, na divisa entre Bahia e Pernambuco, era servido a todos os convidados presentes ao lançamento de um espaço da grife no Empório Santa Maria, um mercado de luxo paulistano. Bombet, habituado às melhores safras do planeta, encerrou a degustação para abrir um sorriso: ?Na França, todas as lojas têm Romaneé Conti e Petrus. O Rio Sol, contudo, apenas eu terei?. A frase, de comparações demasiadamente exageradas, soou como um afago aos ouvidos de Otávio Piva de Albuquerque, presidente da importadora de vinhos Expand e um dos proprietários da Vinibrasil, a fabricante do Rio Sol e do Adega do Vale, em parceria com a vinícola portuguesa Dão Sul e o grupo nordestino Da Fonte. ?Realizarei um sonho?, diz Piva. ?Exportarei o meu próprio vinho para a França no começo de julho.? Até o fim do ano, a vinícola produzirá 1,2 milhão de garrafas e entregará no exterior 20% do lote. É, portanto, uma vitória para quem passou a vida comprando garrafas de outros produtores.
O empresário praticamente inventou o consumo do vinho no País da cerveja. A Expand, fundada em um pequeno escritório em 1978, transformou-se em uma gigante com uma rede de 28 lojas, mais de 400 funcionários e faturamento estimado em R$ 170 milhões. Para um homem de modos simples, amante confesso da jardinagem, paciente a ponto de esperar uma planta germinar, Piva já colheu excelentes frutos. ?Ele é um dos maiores comerciantes que eu conheço?, diz Luiz Gastão Bolonhez, ex-diretor da Expand e atual vice-presidente do Mercado Eletrônico, empresa de tecnologia. Na carreira de Piva no universo dos vinhos há um momento chave. Na década de 1980, ele convenceu a fabricante do vinho alemão Liebfraumilch, um branco de qualidade duvidosa, a produzir garrafas na cor azul. ?O consumidor brasileiro não sabia pronunciar o nome da bebida alemã?, diz Piva. ?Chegava na loja e pedia o da garrafa azul.? Foi uma explosão de consumo. A marca alemã tornou-se uma febre entre os brasileiros. Na passagem dos anos 80 para os 90, o País importava 2 milhões de caixas, das quais 1,2 milhão era de Liebfraumilch. Foi nessa mesma época, quando as barreiras de mercado caíram, que o brasileiro começou a apreciar vinhos mais refinados. Deu-se, então, a segunda revolução na história da empresa.
Como quase não existiam concorrentes de peso, a Expand fez crescer as vendas de outra marca sua, o chileno Concha y Toro, e, assim, ganhou credenciais para vender outros grandes rótulos no Brasil. Depois dos chilenos, vieram os europeus, americanos, australianos e franceses como o famoso Domaine De la Romanée Conti, cuja garrafa chega a custar mais de R$ 20 mil. Hoje a empresa ostenta cerca de mil rótulos de várias partes do mundo. Há cerca de dois anos, a Expand tinha 2,8 mil rótulos. ?Com tantos vinhos na mão, perderam o foco?, revela um concorrente. O problema: a Expand não estava centrada nem no atacado, nem no varejo. Piva, entretanto, diz que a redução do número de marcas se deve ao maior conhecimento do consumidor. ?Hoje, eles não procuram tanto as novidades.? Só o tempo dirá se a estratégia está correta. Mas o caminho seguido por Piva quando se trata de expansão de sua rede parece, sim, ser adequado. Atualmente a Expand tem 28 lojas e, deste total, 18 são franquias. Em 2005, a rede ganhará mais sete pontos e até o fim de 2007 chegará a um montante de 50 lojas. ?É um ótimo negócio?, diz Sidnei Brandão, franqueado de Alphaville, condomínio de classe A localizado a meia hora da capital de São Paulo. ?Consegui unir o útil ao agradável?, diz ele, referindo-se a ganhar dinheiro com o prazer de trabalhar com a bebida. Este casamento dos lucros com o bem viver é, definitivamente, o lema da Expand.