21/06/2006 - 7:00
Na madrugada de quinta-feira 15, cerca de 60 pessoas que iam de São Paulo para Montevidéu, no vôo 8918, foram informadas de que o avião ? que sobrevoava Curitiba ? retornaria ao aeroporto de Guarulhos. Em terra, descobriram que deveriam pagar US$ 200 para seguir viagem em outro vôo com conexão em Santiago, no Chile. Não foi fato isolado. Em uma única semana, a Varig cancelou mais de 70 vôos. Não há dinheiro sequer para o combustível. Apesar da busca por uma solução comercial, o pouso forçado é iminente. E a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) já começou a desenhar o novo mapa do mercado. Convocados às pressas a Brasília pelo presidente da Anac, Milton Zuanazzi, dirigentes das companhias concorrentes ? Gol, TAM, BRA, Webjet, Ocean Air, Total e Trip ? informaram-se sobre o estado terminal da maior companhia do setor e discutiram o fatiamento das suas rotas. No caso da Alemanha, onde milhares de brasileiros acompanham a Copa, a TAM incorporaria a linha para Frankfurt. Ela também se prepara para assumir os Boeings 777 da Varig, que são compatíveis com os seus A-330, e pretende antecipar viagens para Madri e Milão, que só começariam a operar em outubro. Na partilha, a Gol avisou que só tem interesse na América Latina, com destaque para Buenos Aires e Cidade do México. A Ocean Air também tem interesse na região e ficará com a rota de Bogotá. A BRA quer voar para Portugal e Espanha.
A agonia da Varig se arrasta e é incerto o destino dos seus passageiros. Meses atrás, o governo parecia interessado em patrocinar uma solução para a empresa. Agora, não só lavou as mãos como opera abertamente com cenários nos quais a Varig não mais existe, como a partilha de linhas. Em caso de falência, ainda não se sabe como 16 mil brasileiros que estão no Exterior voltarão para casa Somente para a Alemanha, sede da Copa do Mundo, quase 5 mil embarcaram pela Varig. Outros 1,5 mil devem chegar às terras de Beckenbauer até o fim do mês. O Itamaraty emitiu um alerta às embaixadas e consulados para prestar socorro aos brasileiros se a empresa fechar. ?Estamos negociando diretamente com os governos estrangeiros a manutenção dos slots (trechos) da Varig?, disse Luiz Felipe de Seixas Correa, embaixador do Brasil na Alemanha. Existe um plano de contingência em estudo. Mas o presidente da Anac, Milton Zuanazzi, recusa-se a dar detalhes. E justifica: ?Não queremos criar uma situação de pânico.” Pelo sim, pelo não, a Anac entrou em contato com a Star Alliance, grupo do qual a empresa brasileira faz parte, pedindo que as companhias estrangeiras aceitassem o endosso dos bilhetes da Varig. Ouviu que não há problemas, desde que existam vagas. Mero jogo para a torcida. Os aviões estão lotados. Ainda mais em época de Copa. A posição oficial da Star Alliance é de que não há nenhum contrato que obrigue seus membros a aceitarem as passagens da Varig.
Nos últimos 15 dias, a Justiça adiou por quatro vezes a falência e jogou para esta semana o peso de uma nova decisão. Até a quinta-feira 15, três grupos pareciam dispostos a comprá-la. ?A Varig se tornou um catalisador de loucos, que atrai propostas de toda natureza?, resumiu o juiz Paulo Fragoso, um dos responsáveis pelo processo. A TGV (Trabalhadores do Grupo Varig) ainda não conseguiu convencer a Justiça de que tem dinheiro para comprar a empresa. Zuanazzi, da Anac, já avisou ao juiz da 8ª Vara de Recuperação Judicial no Rio de Janeiro, Luiz Roberto Ayoub, que o governo não aceitará a falência continuada. Ou se encontra uma saída para a empresa ou a Varig perderá a concessão. Enquanto isso, o garrote dos credores não pára de apertar. ?Estão precipitando a nossa morte?, lamentou à DINHEIRO Marcelo Bottini, presidente da companhia.