14/05/2008 - 7:00
ERA MANHÃ DO DIA 24 DE novembro de 2004 e na frente da loja de número 14 do Shopping Ibirapuera, em São Paulo, uma fila de famintos e curiosos se formava em progressão aritmética. Ali, em poucos minutos, seria aberta a primeira unidade da rede Burger King no Brasil. Horas após a inauguração, o tumulto não cessava. Na tevê, uma campanha publicitária em horário nobre declarava guerra aberta ao rival número um, o McDonald?s. Semanas depois, e com outros dois restaurantes em funcionamento na capital, os sinais de gargalo apareceram. Faltavam copos, cardápios e até sanduíches. As panes nos computadores paravam o atendimento no meio. ?São problemas isolados, porque todo mundo quer comer nosso sanduíche?, dizia na época Luís Eduardo Batalha, pecuarista e o único franqueado em São Paulo. No início, foi um pequeno tropeço de uma empresa pouco preparada para tamanho sucesso. De uns tempos para cá, no entanto, os comentários em torno da rede são outros. A terceira maior cadeia de fast-food do mundo teve de fazer ajustes em seu modelo de expansão no País. Algumas mudanças são visíveis, outras nem tanto. Envolvem a abertura de menos lojas, com tamanho inferior àquelas inauguradas inicialmente, e também mais econômicas. O gasto na construção das novas unidades tem sido 30% inferior ao verificado nos primeiros restaurantes. É um novo Burger King, mais enxuto e, digamos, comportado.
Não se trata de uma exclusividade da cadeia americana. A maioria das grandes redes estrangeiras de fastfood teve de readaptar seus planos no País (leia quadro na pág. 52). O próprio McDonalds, líder do mercado, acumulou resultados negativos no Brasil ? onde concorrentes inesperados, os restaurantes por quilo, roubam boa parte da clientela das cadeias de sanduíches. No caso do Burger King, o primeiro sinal nesse sentido veio de fora. Um relatório apresentado pela matriz, em fevereiro, em reunião com analistas, em Miami, mostra mudanças. Armando Jacomino, presidente para a América Latina, previu a abertura de 183 unidades da rede no Brasil dentro de cinco anos. No Estado de São Paulo seriam 47 novos pontos-de-venda no mesmo período. Entretanto, ao final de 2004, quando anunciava os projetos para a região, Batalha e Julio Ramirez, na época o responsável pelas operações da cadeia no continente, apresentavam planos para abrir 50 restaurantes até o final de 2009 no Estado paulista. Portanto, não só o prazo se estendeu como o número diminuiu. A empresa rebate esses novos dados. Diz que houve um ?arredondamento? no plano inicial, e que a rede trabalha com a previsão de 47 novos pontos em São Paulo até o fim de 2009. O documento (de fevereiro passado), no entanto, dá como prazo ?os próximos cinco anos?. Em relação aos projetos para o Brasil, a intenção também era clara: 123 unidades até o final de 2008, como previa Batalha. Esse número hoje é outro. Existem 46 pontos espalhados em 16 Estados. Mesmo que o plano se acelere, a possibilidade de alcançar a meta inicial de 123 lojas é remota. Além disso, a abertura do primeiro ponto no mercado fluminense, questão comentada pela empresa desde 2005, ainda não aconteceu. Assim como a entrada em operação de uma nova leva de lojas de rua em São Paulo, adiada em função da dificuldade de se encontrar imóveis em pontos qualificados. Nos pontos fora de shoppings, a cadeia ganha dinheiro com os drive-thru ? responsáveis por 40% da venda do Burger King nos EUA.
As correções de rota atingiram também a estrutura das lojas. Numa decisão tomada em meados do ano passado, a empresa optou por abrir unidades mais compactas. Em vez de gastar até R$ 1,3 milhão por restaurante aberto, o desembolso máximo é de R$ 1 milhão. Para isso, o tamanho médio das lojas, de 150 a 180 metros quadrados, passou para 120 metros quadrados. O total de empregados por unidade diminuiu de 50 pessoas para 35. Até a grelha que assa os hambúrgueres teve o tamanho reduzido. Por trás disso, há a busca por resultados. O Burger King precisava elevar o seu retorno sobre o capital investido e a sua taxa de lucratividade em São Paulo. No papel, a rede idealiza um lucro por loja entre 8% a 10% do faturamento. Nos primeiros seis meses de operação, ele girou nessa taxa. Depois, chegou a cair para 7% em algumas unidades da capital paulista, apurou a DINHEIRO. Tal cenário não permite afirmar que a rede é um fracasso no País. Longe disso. O Burger King opera no azul, e as vendas crescem à taxa de dois dígitos. Nas lojas do Nordeste, a alta supera 10% e parte dos planos iniciais saiu do papel. Mas quando o retorno encolhe por causa da pressão nos custos é natural que o sinal amarelo se acenda. O que provoca, em parte, um desgaste na relação entre os sócios da rede. Batalha tem cerca de 60% das ações do negócio na região e o restante está dividido entre pequenos acionistas. ?Não houve ameaça de quebra da sociedade, mas as relações andaram turbulentas por lá?, conta um franqueado da rede. Procurada, a Burger King de São Paulo não se pronunciou.
QUEM VEIO E QUEM FOI
Quais são as redes que desistiram (ou insistiram) no Brasil
Arby?s Instalou-se no Brasil em 1992, chegou a ter dez restaurantes em São Paulo, mas fechou as portas sete anos depois. A rejeição ao sanduíche de rosbife atrapalhou os planos por aqui, assim como a prioridade de expansão em outros países. No mundo, são 3,6 mil restaurantes da rede norte-americana. |
KFC A rede teve duas passagens pelo Brasil. A primeira em 1977; e a segunda em 1994, ambas sem sucesso. Foi com parceria fechada com administradores brasileiros, no ano passado, que o negócio pôde começar a decolar. Quer abrir seis lojas neste ano, atingindo um total de dez unidades. |
Pizza Hut A empresa completa duas décadas no Brasil no próximo ano. Foi preciso passar por uma série de ajustes para isso. Preço alto e produto diferente daquele que o consumidor estava acostumado quase afundaram o projeto por aqui. A empresa mudou o cardápio, se reestruturou e conseguiu crescer. Hoje, são 67 lojas no País. |
Subway Em 1995, a rede desembarcou no Brasil por meio de um master-franqueado, mas não foi bem-sucedida. Em 2003, retomou a expansão, desta vez comandando diretamente as operações. Planeja ser a maior do setor no País. São 141 restaurantes no mercado brasileiro e R$ 129 milhões de receita. |
Domino?s Trazida para o País em meados dos anos 90, a rede já teve vários administradores (os donos norte-americanos e um grupo mexicano já controlaram o negócio), mas ela nunca deslanchou por aqui. Com 23 unidades, agora os brasileiros da rede Spoleto tentam tirar a operação do marasmo. |